Cultura política - busca da democracia - A construção da cultura cívica
Renato Cancian, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Na década de 1960, um novo campo de pesquisa, na área de cultura política, foi constituído a partir do primeiro estudo político comparativo, intitulado The civic culture: political attitudes and democracy in five countries (A cultura cívica: atitudes políticas e democracia em cinco países), escrito pelos cientistas sociais Gabriel Almond e Sidney Verba, publicado em 1963.
As pesquisas de Almond e Verba contribuíram para que o tema da cultura política ganhasse importância dentro das Ciências Sociais, já que o estudo das instituições políticas era um objeto de pesquisa restrito à área jurídica, ou seja, ao Direito.
A preocupação central do estudo de Almond e Verba referia-se às condições culturais propícias ou favoráveis ao estabelecimento da democracia e à manutenção da estabilidade do sistema democrático. A partir dessa perspectiva, os autores compararam as atitudes e orientações dos cidadãos de vários países sobre assuntos políticos.
Os autores distinguiram três tipos de orientação política:
1) a "orientação cognitiva", que significa o grau de conhecimento que os cidadãos têm do sistema político e a crença nesse sistema, nos seus papeis e nos seus titulares, seus inputs (como as demandas políticas dos cidadãos chegam ao sistema e são processadas) e outputs (como o sistema político responde às demandas);
2) a "orientação afetiva", que se traduz pelos sentimentos sobre o sistema político, seus papeis, pessoas e desempenho; e
3) "a orientação avaliativa", que se refere ao julgamento e às opiniões sobre o sistema político.
A análise e cruzamento dos dados indicaram que a existência de uma democracia estável em determinada sociedade estaria condicionada pela sustentação de uma cultura cívica.
Como consolidar a democracia?
Porém, há três diferentes tipos de cultura cívica: a paroquial, a súdita e a participante. A cultura paroquial é congruente com estruturas políticas tradicionais; a súdita, com estruturas políticas autoritárias e centralizadas; e a participante, com uma estrutura política democrática.
Embora tenha sido alvo de muitas críticas, em razão do determinismo cultural implícito na metodologia e nos critérios de escolha das variáveis, o estudo de Almond e Verba é uma referência entre os estudos do gênero.
As deficiências do mencionado estudo acabaram fomentando novas pesquisas, que, de certo modo, tentaram superar as limitações e incongruências presentes.
Um exemplo, para o caso brasileiro, é o estudo do cientista social José Álvaro Moisés, intitulado Os brasileiros e a democracia: bases sócio-políticas da legitimidade democrática, publicado, em 1995, pela Editora Ática. Trata-se do primeiro estudo a ter como foco de análise a cultura política brasileira, na tentativa de avaliar quais as perspectivas para a consolidação da democracia no Brasil.