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Pra que serve Código Morse? Saiba decifrar o sistema que até o Titanic usou

Telégrafo - Reprodução
Telégrafo Imagem: Reprodução

Colaboração para UOL

14/07/2024 04h00

Você provavelmente já ouviu falar sobre o Código Morse. O sistema inovou os modelos de comunicação e foi essencial para vários setores nos séculos 19 e 20.

Algumas das combinações criadas pelo código resistem até os dias atuais —é o caso do SOS, usado para sinalizar perigo e pedir socorro. Os símbolos, inclusive, não foram pensados de forma aleatória: todo o Código Morse possui uma estrutura lógica para facilitar e acelerar a troca de mensagens.

Você sabe tudo sobre ele?

O que é o Código Morse?

O inventor do Código Morse foi o pintor e físico norte-americano Samuel Morse (1791-1872), que desenvolveu o sistema em 1835. No entanto, a primeira transmissão ocorreu apenas em 1844, quando foi apresentado o telégrafo —também desenvolvido por Morse. A primeira mensagem de longa distância usou uma linha entre Washington e Baltimore, nos Estados Unidos.

De maneira geral, o sistema mescla sequências distintas de pontos e traços para representar letras, números, palavras e frases. Por isso, é considerado um sistema binário, já que se baseia em dois símbolos. Caracteres especiais, como sinais de pontuação, ganharam representações posteriormente.

Junto ao Código Morse, outras formas de comunicação foram criadas para o telégrafo. Porém, ele foi o único que sobreviveu. No fim do século 19, as linhas telegráficas já cruzavam o mundo. No início do século seguinte, os aparelhos conseguiam imprimir mensagens com base no modelo criado por Morse.

Como traduzir e ler o Código Morse?

Traduzir o Código Morse requer memória, como citado antes. Mas é importante salientar que a simbologia não foi feita de maneira aleatória. O inventor, Samuel Morse, priorizou a frequência das letras no alfabeto norte-americano. De forma prática: letras mais usadas tinham símbolos menores, enquanto as menos usadas possuíam símbolos extensos.

É importante explicar também que, neste primeiro momento, o Código Morse segue um padrão norte-americano. Depois, há adaptações e passa a vigorar o Código Morse Internacional, tentando comportar variações linguísticas globais.

Existem na internet alguns sites que fazem essa tradução de forma simultânea. Assim como aplicativos, que, inclusive, utilizam a luz da câmera do celular para transmitir a mensagem em Código Morse.

Código Morse Americano

Morse modulou o sistema conforme a frequência de que cada letra era usada em inglês. "E", a letra mais utilizada, era representada apenas por um ponto. Enquanto "z", a menos usada, tinha um padrão mais extenso: ponto-ponto-ponto (pausa) ponto.

Código Morse Internacional

Modificações desenvolvidas na Alemanha em 1948 tornaram o novo Código Morse o padrão mundial nas transmissões. De maneira geral, o ponto passou a ser a "medida básica" no sistema internacional, composto por seis elementos:

  • Sinal curto: ponto (.) -- "dit", na linguagem sonora;
  • Sinal longo: traço (-) -- "dah", na linguagem sonora;
  • Intervalo entre caracteres: usado entre pontos e traços, equivalente à duração de um ponto;
  • Intervalo curto: usado entre letras e equivalente à duração de três pontos;
  • Intervalo médio: usado entre palavras e equivalente à duração de sete pontos;
  • Intervalo longo: usado entre frases.
morse - Wikimedia Commons/Reprodução - Wikimedia Commons/Reprodução
Código Morse: confira o significado
Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Qual o benefício do Código Morse?

O principal benefício do código foi aumentar a velocidade na transmissão de mensagens. As tecnologias então utilizadas precisavam de um certo tempo até que a informação chegasse ao receptor e a demora era ainda maior no caso de cartas, por exemplo.

Com o telégrafo, a transmissão passou a ser quase automática, algo inédito para a época.

Quais os usos do Código Morse?

O uso do Código Morse foi uma inovação em comunicações ponto a ponto —quando há transmissores e receptores em dois pontos fixos.

Normalmente, um ficava em unidade dos Correios [ponto A], que transmitia para outra unidade [ponto B].

No entanto, há grande destaque para as navegações. Entre os marinheiros, havia domínio do sistema. A Marinha e o Exército seguiram com o Código Morse até o século 20.

O Código Morse ainda é usado?

Já no final do século 19 e com a invenção do telefone, o Código Morse perdeu espaço nas comunicações pessoais. Afinal, não havia necessidade de treinar pessoas para decorar os símbolos, já que podiam falar por ligação. Nas navegações, porém, o caminho foi longo.

A última transmissão foi realizada pela Marinha Francesa em 1997, com uma mensagem simbólica em tom de despedida: "Chamando todos. Esse é o nosso último grito antes do nosso silêncio eterno".

Em 1999, o Código Morse foi oficialmente substituído pelo Sistema Global de Socorro e Segurança Marítima como comunicação oficial.

No entanto, ainda hoje, pilotos aprendem noções básicas sobre código para usá-lo em casos de emergência, assim como a Marinha dos Estados Unidos apresenta orientações para que seus oficiais saibam enviar e ler os símbolos. O radioamadorismo ainda emprega o sistema em algumas funções.

Código Morse é digital?

O Código Morse levanta um debate pertinente sobre as comunicações analógicas e digitais. Enquanto na primeira se transmite diretamente a mensagem, na segunda há o compartilhamento do código das informações. E é o que acontece no contexto da telegrafia.

Como funcionava o telégrafo

A transmissão via telegrafia dependia da memória. Isso porque quem enviava e recebia a mensagem precisava dominar integralmente os códigos para traduzir a informação.

Em termos técnicos, o sinal do telégrafo era baseado em corrente contínua (quando funciona em um único sentido, a mesmo de baterias e pilhas, por exemplo) coordenada pelo operador. Ele escolhia os códigos em ponto ou traço e o outro lado identificava se havia ou não corrente.

Quem operava ficava apertando o botão. Na outra ponta da linha, você tinha uma espécie de bobina, que basicamente são fios enrolados em um mesmo eixo para aumentar a intensidade de campo magnético. Esse aumento fazia com que pudesse acionar qualquer dispositivo metálico que tivesse principalmente ferro.

"A bobina com o material metálico constitui o que chamamos eletroímã, esse ímã elétrico acionava a parte metálica, que ao se movimentar podia imprimir isso em algum registro, por exemplo, no papel", completa o professor do Instituto Mauá.

As impressões dos símbolos do Código Morse foram chamadas de telegramas. Ainda foi possível adaptar as mensagens para sons e sinais de luz (por meio de lanternas), usados até hoje em casos de emergência e falta de outros meios de comunicação.

Mensagens famosas de Código Morse

Mesmo que o Código Morse tenha perdido funções atualmente, algumas de suas combinações tornaram-se tão famosas que ainda são usadas. É o caso do SOS (sequência de: ponto-ponto-ponto barra-barra-barra ponto-ponto-ponto).

O SOS é usado para sinalizar perigo e muito traduzido como "save our souls" e "save our ship" (salvem nossas almas e salvem nosso barco, respectivamente, na tradução do inglês). Mas, na verdade, não se tratava de uma abreviação e, sim, de uma combinação fácil de ser memorizada.

A sequência foi uma das tantas que surgiram com a ideia de simplificar a comunicação. Uma curiosidade foi que, após o naufrágio do Titanic em 1912, uma convenção internacional instituiu que os navios sempre tivessem alguém para identificar eventuais intercorrências, além de padronizar alguns códigos —incluindo o SOS.

O Titanic, inclusive, enviou uma mensagem com Código Morse para sinalizar o perigo após colidir com o iceberg. A mensagem foi CQD-MGY, sendo:

  • CQ: chamada geral
  • D: distress (perigo/sofrimento)
  • MGY = código do navio

Entre as novas sequências introduzidas após o acidente, estavam siglas como:

  • K: convite geral para transmissão (representado por: -·-)
  • KN: convite específico para transmissão (representado por: -·--·)
  • SK: encerramento do contato (representado por: ···-·-)
  • R: mensagem recebida e entendida (representada por: ·-·)

Fontes: Francisco Bomfim, doutor em engenharia elétrica pela Poli-USP; Eduardo Pouzada, do Instituto Mauá de Tecnologia.