De escolhas do aluno a carga horária: entenda mudanças do novo ensino médio
Ana Paula Bimbati
Do UOL, em São Paulo
19/02/2022 04h00
Aprovado em 2017, o novo do ensino médio traz uma série de mudanças para a última etapa da educação básica. Pelo cronograma do MEC (Ministério da Educação), as alterações devem acontecer até 2024, de forma escalonada.
Entre as principais mudanças está o aumento da carga horária e a possibilidade de os alunos escolherem parte das disciplinas que querem cursar. Um dos objetivos da reforma é atrair o estudante do ensino médio, etapa considerada mais desafiadora e com os piores dados de evasão no Brasil.
Pais e alunos ainda se perguntam sobre o que, de fato, vai mudar e se os estudantes continuarão aprendendo todos os conteúdos necessários no ensino médio. Veja a seguir uma série de respostas sobre o novo modelo.
Tire suas dúvidas sobre o novo ensino médio
Por que o ensino médio mudou?
O objetivo é tornar a última etapa da educação básica mais atrativa. O ensino médio concentra os piores índices de evasão e os alunos têm resultados mais baixos no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Em 2019, o indicador avançou 4,2 pontos, mas, ainda assim, apenas dois estados alcançaram as metas previstas.
Dados do IBGE de 2019 mostraram que 11,8% dos jovens entre 15 e 17 anos —cerca de 1,1 milhão— estavam fora da escola nessa faixa etária. Entre os 6 e 14 anos, a taxa de presença era de 99,3%.
Quando as mudanças acontecerão?
Pelo cronograma divulgado pelo MEC, as mudanças devem acontecer de forma escalonada até 2024.
Neste ano, as alterações começam para os alunos das primeiras séries; em 2023, para as segundas; e, em 2024, para as terceiras.
Algumas escolas implantaram as novas regras. No estado de São Paulo, as turmas das primeiras séries já tiveram contato com as mudanças.
Qual será a nova carga horária?
Até o ano passado, as escolas deveriam cumprir 2.400 horas nos três anos do ensino médio. Com a reforma, a carga horária vai para 3 mil horas. Destas:
- 1.800 devem ser destinadas à formação geral, que são os conteúdos obrigatórios para todos os alunos.
- Outras 1.200 horas são chamadas de "parte flexível", em que os alunos estudarão seus itinerários formativos.
Como ficam as disciplinas?
As disciplinas passam a ser chamadas de áreas do conhecimento e ficarão divididas em quatro partes:
- Linguagens,
- Matemática,
- Ciências da natureza e
- Ciências humanas.
O formato já é utilizado no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), por exemplo. Essa parte é chamada de "comum" e deve corresponder a 60% da carga horária do aluno.
Os outros 40% serão completados pela parte "flexível", os chamados itinerários formativos. Neles, os alunos podem escolher quais caminhos quer se aprofundar.
A grade curricular também deve incluir o projeto de vida. A ideia é que os alunos possam refletir sobre seu futuro através de atividades, rodas de conversa e outros elementos. Especialistas apontam que esse momento não deve ser focado apenas no vestibular, mas em toda a vida do estudante.
Quais disciplinas são obrigatórias?
Pela reforma do ensino médio, apenas as disciplinas de matemática e língua portuguesa são obrigatórias nos três anos.
O que são os itinerários formativos?
Os itinerários formativos fazem parte da formação flexível, onde os alunos podem escolher o que querem se aprofundar. Os itinerários devem estar divididos nas quatro áreas de conhecimento, além de ter uma quinta opção: o ensino técnico ou modelo integrado.
As opções são fornecidas pelas escolas. Por isso, há preocupação que a oferta seja menor em escolas pequenas, o que pode gerar desigualdades.
Também não há garantia que haja vaga para todos os alunos interessados no ensino técnico.
Segundo o referencial curricular do novo ensino médio, do MEC, o objetivo dos itinerários é "aprofundar as aprendizagens, consolidar a formação integral dos alunos, promover a incorporação de valores como ética, democracia, justiça social e desenvolver habilidades que permitam aos estudantes ter uma visão de mundo ampla e heterogênea".
O estudante pode trocar de itinerário depois que iniciou um?
Sim. Há escolas que também vão oferecer itinerários por semestre.
As mudanças são obrigatórias?
Sim. A reforma do novo ensino médio é uma lei e deve ser seguida pelas secretarias de educação e escolas particulares. Não há previsão de sanção para escolas que não sigam as mudanças.
O Enem irá mudar com a chegada do novo ensino médio nas escolas?
Sim. Segundo o cronograma do MEC, o exame ficará totalmente alinhado ao novo ensino médio em 2024.
O CNE (Conselho Nacional de Educação) discute a remodelação do Enem e essa etapa é vista como um dos desafios da implementação da reforma.
E o Saeb, que avalia a educação básica?
Sim, o Saeb deve ser reformulado para os alunos do último ano do ensino médio.