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"E quem é que não fica triste?", diz medalha de 'prata' da Olimpíada de Língua Portuguesa

Juliana Doretto<br> Especial para o UOL Educação

Em Brasília

30/11/2010 11h10

Enquanto outras crianças não conseguiam ficar paradas na cadeira, esperando a premiação começar, Emerson dos Santos Almeida estava impecável, com seu terno preto e sua gravata com faixas roxas. O menino estuda na escola rural da comunidade de Santa Rita, no Pará, e foi um dos finalistas da Olimpíada Nacional da Língua Portuguesa, cuja premiação ocorreu nesta segunda (29), em Brasília.

Com 14 anos, ele estuda em uma turma com duas séries conjugadas, na mesma sala, e concorreu na categoria poema (5º e 6º anos). “Repeti um monte”, explica. Sua professora, Francisca Cleomar Lima de Souza, diz que ele ainda tem dificuldades, mas que o concurso o ajudou muito a despertar interesse pela leitura. Emerson conta que até comprou “um livro com poesias de muitos poetas” e que já leu “três ou cinco” delas. Francisca emenda: “É por conta dessas viagens da olimpíada”

A premiação seguiu e o menino da zona rural do Pará não recebe a medalha de ouro. Ficou triste? Muito timidamente, ele responde: “Um pouquinho”. Durante a premiação, a quietude de antes deu lugar a um “fotógrafo amador”, que várias vezes ficou perto do palco, registrando as autoridades. “É para mostrar para toda a galera depois”, explica o menino, que sonha em ser jogador de futebol.

A professora Francisca, antes de saber o resultado, já tenta evitar um desapontamento: “Eu disse para ele que não importa o resultado de hoje. Ele já é um vencedor. Antes, ele dizia que escrever poesia era coisa de ‘mulherzinha’. Agora ele não pensa mais assim”.

A premiação continuava, quando uma aluna saiu amparada pela mãe do auditório. Vanessa Soares Fragoso, 11, da 5ª série, de Três Barras (SC), não conseguiu estar entre os primeiros e, no fim da cerimônia, dava entrevistas com lágrimas pelo rosto. A professora, Francisleine Alves, no entanto, enfatizava que o exemplo da aluna ajudou a despertar o interesse dos outros estudantes. “Eles não acreditavam que era possível. Agora, com ela, começaram a acreditar.”

O choro de Vanessa cessou um pouco quando ela se esforçou para responder à pergunta da reportagem, sobre a dificuldade de fazer um poema. “Eu comecei na escola e terminei em casa. Fui encaixando as palavras, vou achando onde elas ficam melhor.” Resposta dada, seguiu para a próxima entrevista, e dessa vez a luz forte da equipe de TV já não mostrava mais um rosto tão tristonho.

Wanderley Santos Silva, 12, de Malhador (SE), esperava o evento começar de um jeito oposto ao de Emerson. Dançava e cantava com outros estudantes e não escondia que tinha esperança de ganhar. “Ficou triste?”, pergunta a repórter. “E quem é que não fica? No ano que vem vou estudar muito. Vou botar para arrebentar.”


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