Topo

Como lidar com o cyberbullying? Veja o que dizem especialistas

Da Redação

Em São Paulo

24/03/2011 06h00

"Fulano é CDF", "Beltrano, aprende a falar!" - o deboche entre crianças e adolescentes, freqüente nas escolas, ganha espaço e gravidade na Internet. Tratado muitas vezes como brincadeira, o bullying - termo usado para descrever essas agressões verbais ou físicas repetidas - pode ter conseqüências graves e requer atenção de pais e professores, tanto no mundo real quanto no virtual.

Cuidados que seu filho deve ter no uso da web

Evitar colocar fotografias em sites de relacionamentos;
Não divulgar as senhas de e-mail em programas de mensagem;
Clicar em "sair", "log-off" ou similares ao terminar de utilizar essas ferramentas;
Não autorizar a opção "salvar automaticamente a senha" no PC de lan-house, escola ou casa de amigos;
Dizer, com dureza, aos colegas que não aceita o apelido que inventaram;
Não esconder do professor e dos pais que é vítima de brincadeira de mau gosto na escola ou na internet.

 

"A propagação de apelidos e histórias mentirosas ganham o respaldo da sensação de anonimato que a Web dá", diz a pedagoga Cleo Fante, autora do livro "Bullying Escolar - perguntas e respostas", Editora Artmed.

Segundo a pesquisadora, o cyberbullying - a versão online da prática - tem potencial para fazer ainda mais vítimas que o bullying tradicional.

"Basta uma foto ou um vídeo na Internet para virar motivo de piada ou de um perfil virtual falso. Alguém se passa por você e diz que você fez ou é coisas que não são verdade", explica Fante.

No bullying offline, as principais vítimas costumam ser crianças tímidas ou com características fora do que se considera padrão (desempenho escolar melhor ou pior que o dos colegas, peso abaixo ou acima da média, por exemplo).


Cuidados com os pequenos
A inexperiência com as ferramentas virtuais e a falta de malícia deixam os pequenos mais vulneráveis ao cyberbullying.

"É comum as crianças não tomarem cuidados básicos, como não contar as senhas que utilizam e esquecer de fazer logoff de e-mail e programa de mensagens. Por isso os adultos precisam orientá-los", diz Fante.

Para a pesquisadora, o medo do bullying não pode levar os pais a proibir as crianças a utilizar a Internet.

"É uma ferramenta útil, mas precisa ser utilizada com supervisão e cuidado", diz.


Vítimas devem acionar a Justiça

Seu filho pode ser vítima de cyberbullying se...

Demonstra sinais de irritação (gritos, choro) durante e após o uso da web;
Quer checar e-mails e sites de relacionamento sempre;
De repente, afastou-se da internet ou aumentou a frequência de uso;
Apresenta desculpas para faltar às aulas;
Tem sintomas de nervosismo antes de ir à escola (dores de cabeça, de estômago, diarreia, vômitos);
Tem dificuldades de fazer amigos;
Volta da escola triste, machucado, com roupas ou material danificados.

Alguém criou uma comunidade virtual para zombar de seu filho ou está distribuindo e-mails que o ofendem. O que fazer?

O promotor de justiça criminal Lélio Braga Calhau, de Minas Gerais, dá dicas: "Se for uma comunidade ou perfil falso, é preciso fazer um 'PrintScreen' (comando que copia a imagem exibida na tela) e imprimir a figura. O responsável pela vítima pode fazer uma denúncia em delegacia de polícia ou diretamente no Ministério Público".

É necessário fornecer o máximo de detalhes possíveis sobre o caso, como endereço do site que veiculou a ofensa, dia e horário em que estava no ar e nome de quem publicou se a vítima souber.

Feita a denúncia, a Justiça exige que o site tire a página ofensiva do ar, segundo o promotor.

"O anonimato pela Internet é uma falsa impressão. A Justiça brasileira consegue descobrir o autor da ofensa e encaminha o processo contra ele", explica o promotor.

O agressor pode ser processado e ter de pagar indenização. Se for menor de idade, a conta pode pesar no bolso dos pais.

"Por isso, é preciso cuidado redobrado: os pais precisam verificar se o filho não sofre esse tipo de intimidação, já que muitos têm vergonha de contar, e, também, se ele não é um possível autor de bullying", recomenda a pedagoga Cleo Fante.

A receita para proteger os filhos das ameaças dos tempos modernos é antiga: "tem de conversar em casa, ver se está tudo bem, analisar o comportamento. A vítima de bullying dá sinais de nervosismo, irritação, perde vontade de ir à escola, se afasta dos amigos. Já o autor costuma ter comportamento violento, agressor egoísta. Cada pai tem de conhecer o filho que tem", diz Fante.