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Professora que sugeriu nu artístico em aula culpa diretora por demissão e diz que vai recorrer à Justiça no Piauí

Carlos Madeiro<br>Especial para o UOL

Em Pernambuco

29/08/2011 11h29

Demitida há uma semana por ter convidado um aluno a fazer nu artístico durante uma aula de história da arte, a professora do 7º ano da escola Ricardo Augusto Veloso, em Luís Correia (a 344 km de Teresina), afirmou em uma carta que vai recorrer da decisão do governo do Estado de exonerá-la e culpou a diretora da unidade pelo desfecho do processo de sindicância.

A demissão de Wanda Pinheiro Santos foi publicada no Diário Oficial do Piauí do último dia 20, após conclusão de um longo processo de sindicância que apurou as circunstâncias do fato ocorrido em abril de 2010. A comissão constatou que houve “falta grave” e descumprimento do estatuto do servidor público e lei complementar que regulamenta a educação no Estado.

Na carta, a professora contou que só soube da demissão quando leu a notícia pela Internet e explicou que a cena do aluno que tirou a roupa em sala foi flagrada pela diretora da instituição.

“No instante em que o aluno baixou a sua calça comprida, a nossa diretora estava passando pelo corredor e, ao ver aquela cena, voltou para a sua sala. Três dias depois, fui chamada pela direção desta escola, que comunicou-me que eu deveria afastar-me da sala de aula. Senti-me extremamente ofendida e, manifestando-me contrária a tal decisão, disse-lhes que estava naquela escola para trabalhar e não para obedecer àquela ordem, que, sem dúvida tinha um caráter autoritário, pois não me concedia o direito de defesa”, contou.

A professora explicou que a proposta do nu artístico era para realizar um exercício de desenho de observação diante de um modelo vivo, “diferentemente da aula passada, quando levei ilustrações de estátuas gregas referentes aos períodos: arcaico, clássico e helenístico.”

“Na aula seguinte, quando perguntei–lhes se algum aluno poderia mostrar o seu corpo para que seus colegas pudessem desenhá-lo, em nenhum momento, sequer, pensei em algum aluno expondo-se, sem roupas, diante da turma. Imediatamente, um dos nossos alunos que sempre foi muito participativo e ativo, levantou-se e, diante da turma retirou a sua blusa, baixou sua calça comprida até o joelho e brincou com a turma, espontaneamente”, complementou.

Após o aluno ter tirado a roupa, a professora relatou que “a melhor forma de contornar a situação seria abordar o valor respeito” e perguntou à turma se alguém estaria constrangido com a atividade. “No mesmo momento em que uma aluna manifestou-se contrária àquela situação, disse-lhes que não continuaríamos com tal exercício, pois estávamos em um espaço público e a nossa aluna tinha o direito de não aceitá-la. Depois disso, o nosso aluno vestiu-se e voltou para o seu lugar.”

Wanda ainda disse que pensou ter esclarecido o episódio à comissão de sindicância e que esperava a absolvição no processo. “Expliquei-lhes o ocorrido com todo o meu zelo para com a minha verdade como profissional que zela pelo seu trabalho”, disse, complementando que vai à Justiça recorrer da demissão.

Além da demissão, a professora também fez um acordo com a Justiça, após a denúncia do Conselho Tutelar, de ministrar palestras sobre educação sexual gratuitamente nas escolas de Luís Correia.