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Exercício de respiração é medida preventiva para professores não perderem a voz, aponta estudo

Raquel do Carmo Santos

Do Jornal da Unicamp, em Campinas

15/10/2012 12h05

A fonoaudióloga Raquel Aparecida Pizolato desenvolveu e testou um Programa de Saúde Vocal voltado para professores, especialmente da rede pública. A iniciativa, de caráter educativo, consiste em oferecer palestras com orientações e medidas preventivas que podem melhorar e evitar o desgaste da voz.

“Sabemos que o professor tem uma rotina sobrecarregada, principalmente quando precisa dar aulas em mais de duas escolas na semana. Por isso, a proposta é, justamente, auxiliar no cuidado com a voz, um dos principais instrumentos que ele possui”, defende. A necessidade de um profissional especializado que atue de forma a prevenir as disfonias ocupacionais destes profissionais foi o que motivou a fonoaudióloga a desenvolver o programa.

A proposta de Raquel Pizolato, em sua tese de doutorado apresentada na FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba), com orientação do professor Antonio Carlos Pereira, poderia perfeitamente ser implementada nas escolas públicas com benefícios significativos para a qualidade da voz do professor. Consiste em encontros intercalados a cada 15 dias, com sessões de 30 minutos. “Orientações básicas sobre hábitos de higiene vocal e treinamento de exercícios específicos são medidas preventivas que podem amenizar os sintomas de cansaço vocal e outros ligados ao uso excessivo do emprego da fala”, comenta.

Para a pesquisa, a fonoaudióloga avaliou 102 professores de 11 escolas da rede pública de Piracicaba, mas somente 36 professores participaram das atividades completas do programa educativo.  “No período de três meses já foram obtidos resultados bastante positivos na qualidade da voz e na melhora nos aspectos preventivos. Por isso, acredito que um programa contínuo seria o ideal para que os resultados fossem ainda melhores”, defende.

Foram realizadas cinco palestras, sendo que em uma delas foi abordado o funcionamento da voz e a importância de se manter hábitos de higiene vocal. Nos outros quatro encontros, foram apresentados exercícios específicos para a voz como postura e relaxamento cervical, respiração, fonação, intensidade e frequência da voz, ressonância e articulação.

Durante as sessões, os professores foram orientados a praticar os exercícios na sua rotina de trabalho durante 10 a 15 minutos duas vezes ao dia, além, é claro, de mudar os hábitos, um dos aspectos imprescindíveis para que o resultado seja efetivo. De acordo com Raquel, são ações simples que fazem muita diferença tanto no presente como no futuro, mas que são necessárias para não cair no esquecimento ou deixar de serem feitas por desconhecimento.

Algo que chamou a atenção da fonoaudióloga na pesquisa foi que o grupo avaliado apresentou intensidade vocal acima do padrão de limite considerado normal. “Os professores acabam incorporando um hábito de falar em uma intensidade forte devido às condições de trabalho. O falar com competição sonora na presença de ruído leva-o a pronunciar as palavras em intensidade forte”, analisa.

Projeto de lei

Segundo Raquel, já existe aprovado pela Câmara dos Deputados um projeto de lei (PLC 11/09) que autoriza o Executivo a instituir o Programa Nacional de Saúde Vocal do Professor nas redes públicas de ensino. O programa prevê a capacitação dos professores, a cada seis meses, por meio de treinamentos teóricos e práticos, ministrados por fonoaudiólogos com experiência comprovada na área. O objetivo seria orientar e habilitar os profissionais quanto ao uso profissional da voz e aos cuidados com a saúde vocal, além de exames específicos de rotina.  “No entanto, a prática da instalação definitiva do programa ainda não está em vigor na maior parte do Brasil, principalmente no Estado de São Paulo, o que poderia ser de grande importância para a prevenção dos problemas da voz nesta categoria”, relata.