Organizados, alunos fazem dossiê de denúncias em ocupação da reitoria
As faixas penduradas na varanda do gabinete da reitoria da UFRRJ demonstram o descontentamento dos estudantes com a situação da universidade. “Luto pela educação”, diz uma delas, em letras garrafais brancas sobre pano preto. Os alunos declaram por escrito que reclamaram para si o “quartel-general” do território acadêmico: “Reitoria ocupada”. E avisam que partiram para a ação: “Nosso luto virou luta!”.
A luta a que se referem é pacífica, fazem questão de frisar. Desde que decidiram por unanimidade, em assembleia, ocupar a sala do então reitor Ricardo Motta Miranda, na noite do último dia 13, não houve nenhum registro de confusão envolvendo os manifestantes.
De lá pra cá, a cadeira de reitor mudou de dono, mas a reitora eleita, Ana Dantas, vice-reitora nas duas gestões de Miranda, ainda não pôde se sentar nela. Por conta da ocupação, a professora está trabalhando em outra sala do prédio, significativamente menor do que a que irá ocupar pelos próximos quatro anos.
Na última quinta-feira (21), os estudantes entregaram à nova reitora um documento contendo a pauta de reivindicações consolidada para os três campi – Seropédica, Nova Iguaçu e Três Rios – e propostas para a gestão universitária como um todo. O gesto foi bem recebido pela professora. “Vamos discutir e apontar os caminhos e soluções daqui pra frente”, prometeu.
Os alunos afirmam quem só vão desocupar o gabinete depois que a reitoria assinar um acordo garantindo que as solicitações serão atendidas em caráter emergencial. Dizem ainda que só sairão caso uma auditoria externa seja realizada pelo Ministério Público Federal e pelo Tribunal de Contas da União. Eles suspeitam que houve mau uso das verbas recebidas e gastas pela universidade nos últimos anos. Durante a cerimônia de despedida do reitor Ricardo, no último dia 15, os alunos fizeram um ato de protesto.
Raio-x
“Em todo lugar que você vai aqui dentro existem falhas graves. A nossa indignação chegou ao ponto em que precisamos tomar medidas mais drásticas”, explica Douglas Nobre, coordenador do DCE (Diretório Central de Estudantes) da UFRRJ.
A revolta levou o grupo a se debruçar sobre os dados referentes às últimas gestões. “O relatório da Controladoria Geral da União (CGU) que diz respeito ao exercício da gestão em 2011, aponta que das 25 recomendações feitas pelo órgão em 2010, apenas três foram cumpridas. Do total, 18 não foram cumpridas e duas não foram objeto de avaliação”, aponta Douglas.
O Relatório de Gestão da instituição também foi analisado. “Muitos dados que estão no papel não batem com a realidade. E o pior é que o documento serve para justificar os gastos com o dinheiro público”, critica Gustavo Pereira, também do DCE.
“Eu só acho que talvez tenha sido precipitado da parte deles invadirem antes de conversar. Respeitamos a atitude que foi tomada e queremos ser respeitados”, opinou a nova reitora.
Um dos universitários ouvidos pela reportagem, no entanto, questionou o fato de a ocupação ter ocorrido pouco antes de a nova gestão assumir. Em resposta, Douglas Nobre argumentou que a chapa que venceu as eleições no ano passado é praticamente igual a que estava no poder nos últimos oito anos. “O que houve foi uma dança das cadeiras”, resumiu.
Procurado pela reportagem, o ex-reitor não foi localizado.
Organização
Cautela e organização têm pautado a ocupação das salas. Nas paredes dos espaços ocupados, há tabelas descrevendo o papel de cada integrante no movimento e cartazes orientando os alunos.
Uma das principais estratégias é pedir que eles levem colchões e durmam na ocupação. A adesão mantém o movimento. Para manter os estudantes na ocupação e não atrapalhar o rendimento deles nas aulas, a sala da vice-reitoria foi “transformada” em sala de estudos.
Uma das regras da ocupação é que nunca deve haver menos de 15 pessoas no gabinete. Na entrada, uma ata de apoio já contabilizava mais de 650 assinaturas até a tarde da última quinta. Alunos dos campi de Nova Iguaçu e Três Rios também estiveram no local.
Para preservar documentos que estavam nas salas na noite do último dia 13, os alunos cobriram os papéis com panos.
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