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Bibliotecas dos CEUs levam leitura à periferia, mas avanço é limitado

Da Agência USP de Notícias

27/03/2013 16h44Atualizada em 27/03/2013 16h52

As bibliotecas dos CEUs (Centros Educacionais Unificados) permitiram que a leitura alcançasse locais onde antes não chegava, mas ainda precisam romper algumas barreiras e preconceitos para ampliar seu público. Essas são as principais conclusões da pesquisa desenvolvida por Charlene Kathlen de Lemos, na ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP (Universidade de São Paulo).

A pesquisadora, bibliotecária e moradora da periferia paulistana, sempre pensou que assim que as bibliotecas públicas fizessem parte da paisagem urbana das regiões mais extremas e pobres da cidade, os moradores dessas áreas imediatamente passariam a se apropriar desses equipamentos de forma mais ampla, visto que durante muito tempo essas regiões não tinham acesso a bibliotecas.

Porém, Charlene observou que a apropriação desses equipamentos culturais não se dá com simples acesso: dentre tantas coisas, é preciso desenvolver um relacionamento com a comunidade.

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A dissertação de mestrado “Bibliotecas dos Centros Educacionais Unificados: a construção de uma cultura comum”, orientada por Lucia Maciel Barbosa de Oliveira, analisa as relações entre duas bibliotecas de regiões periféricas de São Paulo e o público. Segundo a pesquisa, as bibliotecas dos CEUs têm permitido a construção de uma biblioteca plural, agregando múltiplos saberes.

A pesquisa identificou, por exemplo, que os espaços das bibliotecas foram utilizadas em situações de enchentes, desapropriações, mudanças de pessoas que passavam intensas dificuldades socioeconômicas. “Em um CEU que estava localizado nas proximidades de uma favela, os pais enviavam as crianças para a biblioteca para protegê-las caso houvessem desabamentos de barracos nas épocas de chuvas”, relata Charlene, apontando relações possíveis entre a biblioteca e a comunidade.

Os bibliotecários, por sua vez tiveram seus papéis ampliados, se vendo obrigados a pensar em atividades de ações culturais que não ignorassem os problemas sociais da região. Se o público de uma determinada biblioteca era formado por crianças ainda não alfabetizadas, trabalhar com multiblocos de brinquedos onde elas reproduzissem a sua casa ou a casa onde gostariam de morar, eram estratégias para que, num primeiro momento, o espaço da biblioteca fosse ocupado e, a partir daí, a leitura, mesmo que ainda em sua forma oral, entrasse no dia-a-dia da população.

As ações culturais promovidas pelas bibliotecas — oficinas de histórias, feiras do livro, oficinas de artesanato, cursos, debates, clubes de leitura — permitem a ampliação do público contemplado por elas, além de mostrar que a biblioteca pode e deve ser um local democrático. Segundo a pesquisadora, ao contrário de bibliotecas tradicionais, o modelo de silêncio e estudos não cabe na realidade dos CEUs.

Limitações

No entanto, o público atingido pelas bibliotecas ainda não é suficiente quando se pensa na totalidade dos moradores de periferias. Charlene defende que elas precisam se tornar espaços dinâmicos, funcionando até mesmo como lugar de recreação para as crianças, uma vez que a vivência entre livros pode estimular a leitura e curiosidade desde a infância.

“É ilusório acreditar que a biblioteca do CEU será a grande redentora dos excluídos; não dá para apagar a realidade da rua, da habitação precária, da violência, da exploração pelo trabalho. O direito à educação, à cultura, à informação vem acompanhado de um conjunto amplo de direitos. Contudo, se a biblioteca não for esse espaço público democrático, garantindo a liberdade de informação e de cultura, integrada a realidade da cidade, ela estará fadada ao esvaziamento”, conclui Charlene.

 

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