Topo

Relato de um inscrito no Enem: Gazolina era o assunto mais comentado após a prova

Luana Souza*

Do UOL, em Belo Horizonte

31/10/2013 04h45

No primeiro dia de prova, o que mais chamou a atenção no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2013 foi a grafia de “gazolina”, assim com a letra z. A palavra aparecia em uma charge de época quando a palavra ela era escrita com Z – era a questão 35 da prova amarela.

Na saída, o assunto estava na boca do povo. Era um alvoroço de jovens estudantes que se encontraram depois da prova e discutiam: o que você marcou naquela questão? Isso me fez lembrar minha época de ensino médio, quando saía apavorada das provas para saber as respostas dos colegas. Depois vi que o MEC justificou a escolha: eles mantiveram a escrita original por respeito aos direitos autorais.

O estilo da prova seguiu o padrão Enem, um misto de cotidiano, atualidades, reflexões sociais e matérias duras do dia a dia escolar. Para quem passou pelos antigos vestibulares, encarar uma prova que exige mais versatilidade e leitura é um exercício cansativo, porém desafiador.

Como profissional da área de ciências humanas, fiquei em casa com os clássicos Maquiavel, Aristóteles, Kant, Euclides da Cunha, Marx, Descartes. Achei interessante o Enem trazer aos candidatos a ideia de panóptico para refletir sobre mecanismos de controle ideológico, conceito que só fui conhecer na faculdade de comunicação. Nessa prova, leituras clássicas, interpretação e um pouco de experiência de vida podem ajudar os candidatos menos “ligados” nas matérias de sala de aula. Estes não escapariam ao erro se não soubessem motivos da Guerra Civil espanhola ou as especificidades das técnicas agrícolas para controlar a erosão.

Na prova de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, algumas situações cotidianas me surpreenderam como a ola dos estádios virar tema para questão de Física sobre ondas. A eficiência das fraldas descartáveis, na questão sobre ligações químicas, também foi superexplicativa para a jornalista afastada da Química há mais de sete anos. As fórmulas estão todas enterradas na minha memória estudantil, mas o raciocínio eu consegui aplicar em algumas poucas questões sobre pressão, eletricidade e frequência.

No segundo dia de prova, o esquema de segurança funcionou bem. No local onde fiz a prova, Faculdade Anhanguera (Unidade II), em Belo Horizonte, foi reforçado o recado para não usar o celular nas dependências do campus. No primeiro dia, os candidatos não respeitaram a regra e foram advertidos verbalmente pelos fiscais espalhados na faculdade. No domingo, o chefe da fiscalização deu um ultimato dizendo que seria cancelada a prova de quem usasse celular dentro dos portões.

O entorno da faculdade estava mais vazio, talvez por causa de alguns desistentes. O movimento era menor e o clima de ansiedade também. Depois do primeiro dia, os candidatos já se sentem veteranos, conversam entre si nos corredores, comentam a prova passada e as expectativas.

Redação

Grande parte dos candidatos começou a prova pela redação, deu para perceber pela movimentação alvoroçada na escrita. Sobre o assunto Lei Seca, fiquei pensando no meu pai, de 60 anos, que também fazia a prova do Enem. Ele deve ter adorado falar sobre a combinação álcool e volante porque é um defensor voraz das campanhas contra bebida e direção, além de um motorista muito disciplinado neste quesito. Pensei também que o tema vai servir de recado para os jovens motoristas que fizeram a prova, o Enem acabou servindo de espaço para campanha educativa.

*Luana Souza é jornalista e fez o Enem em belo Horizonte a pedido do UOL