Cerca de 600 brasileiros ficam sem escola na Irlanda
A possibilidade de trabalhar e aprender inglês tornam a Irlanda um país atrativo para quem deseja fazer um intercâmbio. No entanto, o sonho de alguns estudantes virou um problema. Em abril deste ano, cerca de 600 brasileiros, alunos de duas escolas irlandesas, foram surpreendidos com a notícia de que seus cursos estavam suspensos e sua escola fecharia.
É com essa situação que precisam lidar os alunos da MEC (Modern Educational Centre) e da NCBA (National College of Business Administration), que estão com as aulas paralisadas e não podem mais solicitar vistos para seus alunos. Os donos das instituições não foram encontrados para comentar.
Nenhuma das instituições justificou oficialmente o congelamento das atividades, mas a razão aparente é a falta de dinheiro. A MEC, por exemplo, emitiu uma nota em 16 de abril, afirmando que a empresa passa por dificuldades financeiras. Segundo a nota, mudanças na legislação do setor exigiram melhorias na qualidade das escolas. Professores e funcionários estavam sem pagamento e entraram em greve.
Apesar de parte das novas regras estar suspensas por uma liminar da Justiça (o pacote de mudanças deveria entrar em vigor em janeiro deste ano), as escolas já sentem a pressão, de acordo com o oficial de comunicações do ICOS (Conselho Irlandês para Estudantes Internacionais, em português), Dave Moore.
“Mesmo o pacote não estando totalmente em vigor, algumas mudanças já foram feitas, como mais fiscalização. Dessa forma, mesmo que as novas leis não estejam vigorando, muitas escolas estão simplesmente fechando e abandonando os alunos e funcionários sem respaldo, pois elas sabem o que virá no futuro”, afirmou.
Segundo o governo, os problemas no setor não foram causados pela reforma nas leis. “Desde setembro de 2014, quando as mudanças nas leis foram anunciadas, a MEC recebeu 684 novos alunos, totalizando 1235 em abril de 2015. Esse crescimento mostra um cenário contrário ao afirmado pela instituição. Os problemas do setor não foram causados pela reforma, mas sim pelas próprias atitudes das escolas”, declarou um porta voz do Serviço Irlandês de Naturalização e Imigração.
Professores sem pagamento
Ciara Lane, 29, trabalhava como professora na MEC. Ela afirma que a instituição ainda possui dívidas com ela. “Atualmente eles me devem quatro semanas de trabalho, que equivalem a 985 euros (cerca de R$ 3.335). A última promessa que recebi foi no dia 17 de abril, mas não foi cumprida”, contou.
Além do dinheiro perdido (já que dificilmente há reembolsos nesses casos), o encerramento do curso pode até mesmo comprometer a permanência dos alunos no país. Isso acontece porque o visto de estudante só é válido somente enquanto o intercambista estiver matriculado, com duração máxima de um ano.
Quem está tentando lidar com a questão do visto é Filipe Coppi, 20, de Camboriú (SC), ex-aluno da MEC. Ele investiu cerca de R$ 2.000 no curso e está com o visto de turismo, que dura três meses, expirado. “Eu vim para Dublin com mais três amigos. Chegamos dia 28 de Janeiro, o tempo foi passando e os problemas começaram. A MEC perdeu os selos de qualidade e surgiram as preocupações. Ainda não consegui tirar meu visto de estudante por conta da MEC ter entrado nesse processo de fechamento”, afirmou.
Junto com outros alunos, Coppi pediu ajuda ao governo brasileiro, por meio da embaixada do país na Irlanda. Apesar de não fazer promessas, o embaixador brasileiro Afonso Cardoso afirmou que tentará auxiliar os intercambistas.
“Eu solicitei que os estudantes nos enviassem os nomes e dados de todos que se sentiram prejudicados. Dessa forma, podemos mostrar ao governo irlandês que eles foram lesados e pedir cooperação”, disse. Cardoso, no entanto, não especificou o que seria possível fazer pelos brasileiros, como uma extensão do visto temporário ou realocação em outras escolas.
Em um comunicado, o departamento de imigração da Irlanda afirmou que os vistos expedidos pela MEC não serão revogados. Já os estudantes que estão na mesma situação de Felipe terão até dia 1º de junho para regularizarem sua situação.
A reforma
Assim como a MEC e a NCBA, outras 13 escolas da Irlanda tiveram seu funcionamento interrompido nos últimos 12 meses. A quantidade de alunos desamparados foi tão grande que motivou o governo a endurecer as regras do setor.
As novas leis têm três pontos fundamentais:
- Somente escolas com certificados de qualidade emitidos pelo governo poderiam solicitar vistos para os estudantes. Os selos, nas leis antigas, são opcionais.
- Mais fiscalização, com o objetivo de evitar que haja fraudes no sistema e a qualidade do ensino caia.
- Padronização na licença de trabalho. Anteriormente, os alunos podiam trabalhar 40 horas semanais sempre que estavam de férias e 20 nas outras épocas. No modelo novo, os intercambistas só podem trabalhar a quantia maior de horas nos meses de maio, junho, julho, agosto e entre 15 de dezembro e 15 de janeiro.
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