"Não podemos desistir da inclusão", diz mãe de aluno com síndrome rara
Depois de tentar matricular seu filho de 8 anos, portador de uma síndrome neurológica rara, em cinco escolas particulares da zona sul do Rio de Janeiro, a técnica em radiologia Sheila Veloso, de 35 anos, recorreu a uma escola pública. Ela acreditava que na unidade, indicada por amigos, seria possível a inclusão de Pedrinho. A criança, portadora da síndrome de Cornélia de Lange, necessita de acompanhamento constante por ter leve grau de autismo e algumas limitações físicas.
Segundo contou a mãe, ao procurar a Escola Municipal Pedro Ernesto, na Lagoa, no início deste ano, ela foi orientada pela direção da escola a pagar pelos serviços de uma “facilitadora”, que acompanharia seu filho em todas as atividades da unidade escolar. O serviço custava R$ 1 mil mensais.
“A diretora me pediu que providenciasse alguém para cuidar do meu filho na escola, me mostrou uma facilitadora que acompanhava uma outra criança. Quando perguntei para a menina quem pagava o salário dela, ela me disse que era a mãe da criança, não era a escola. No início eu até queria pagar uma pessoa para acompanhar meu filho no horário que ele tivesse no colégio. Não me importo. O problema foi que não encontrei ninguém para isso”, conta a mãe de Pedrinho.
Por falta de uma facilitadora, a criança só frequentou a escola durante duas semanas, no início deste ano. Depois teve que sair.
Segundo a mãe, a iniciação do filho na escola foi uma conquista da família, já que só recentemente Pedrinho foi considerado apto a frequentar o ambiente escolar. A criança faz acompanhamento com fonaudiólogo e terapeuta ocupacional.
“A terapeuta me explicou que o objetivo da escola para ele é socializá-lo, ensiná-lo a dividir. Não é para ele aprender a ler, nem fazer prova de matemática. Eu acreditei que a abordagem seria melhor, mas não foi. A verdade é que as escolas estão preocupadas com o resultado final, com o Enem e etc. Uma criança isolada não vai conseguir acompanhar aquele grupo e acaba ficando para trás”, desabafou.
Incentivada por amigos, Sheila resolveu dar visibilidade ao caso por meio de um abaixo-assinado virtual que já conta mais de 10 mil apoiadores.
Mãe de outros dois filhos – uma menina de 6 anos e um bebê de 1 ano e 3 meses –, Sheila diz que conhece outros casos de crianças com necessidades especiais que tem dificuldade de ser acolhidas na escola.
“A gente paga as nossas contas, paga imposto, por isso a gente tem que cobrar o melhor para os nossos filhos. Afinal de contas, eles só tem a gente para lutar por eles. Não temos que ficar caladas não, porque você não pode ficar deixando seu filho dentro de casa. As crianças tem que conhecer o mundo. Não podemos desistir dos nossos filhos, não podemos desistir de incluir nossos filhos na escola”, aconselhou.
A secretária municipal de Educação, Helena Bomeny, negou, em conversa com o UOL, que os pais dos alunos com necessidades especiais têm que arcar com o pagamento de mediadores ou facilitadores para manter os alunos na escola.
“Isso não existe (...) O que acontece é que os pais podem botar voluntários. inclusive nós temos na rede 2.200 estagiários e voluntários que atuam como mediadores e fazem trabalho junto com o professor. Esse tipo de valor nos surpreendeu, mas não sabemos como isso se passou. Não é nosso padrão”, afirmou a secretária.
Ela admitiu que a escola onde Pedrinho foi matriculado não tinha um mediador voluntário, mas a situação já está sendo contornada.
“A CRE (Coordenadoria Regional de Educação) e a direção já acionaram a ida de um mediador para essa escola. Enquanto isso, o Instituto Helena Antipoff (referência nacional em deficiência e altas habilidades) mandou um professor itinerante para a escola. Houve um mal entendido, e a gente já vai ter uma reunião com a mãe nesta sexta-feira (29)”, prometeu a secretária.
A intenção, segundo ela, é que o menino volte a frequentar a escola na próxima segunda-feira (1º).
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