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A última tendência dos pais chineses: aulas de programação na pré-escola

Lulu Yilun Chen

18/11/2015 17h07

Wu Pei começou a ensinar programação ao seu filho de 6 anos neste ano, acreditando que ele desfrutaria de aprender uma habilidade que poderia melhorar suas perspectivas de emprego no futuro em um mundo cada vez mais digitalizado. Agora, ela dá aulas em Nanjing, na China, e está ajudando mais de 100 pais a iniciarem seus filhos na codificação.

A ex-programadora da Foxconn Technology Group, de 35 anos, está aproveitando a crescente demanda de pais decididos a preparar seus filhos em idade pré-escolar para um mundo no qual, segundo previsão de pesquisadores da Universidade de Oxford, metade dos empregos em alguns países poderão ser eliminados por robôs e computadores.

Aulas semelhantes estão surgindo por toda a China. Reynold Ren ensinou cerca de 150 crianças do Ensino Fundamental em Pequim a utilizarem o Scratch, um projeto desenvolvido pelo MIT Media Lab, e o Arduino, que permite que os usuários criem objetos interativos, como robôs. Em Hong Kong, cerca de 2.500 estudantes participaram dos cursos da First Code Academy, dirigida por Michelle Sun.

"Ensinar a nova geração a programar é algo que deveria ser elevado a uma importância nacional estratégica", disse Wang Jiulin, criador do Kidscode.cn, um site que compartilha informações e cursos gratuitos, com sede em Xian. "Ainda hoje a maioria dos programadores da China é capaz de realizar apenas tarefas de nível muito básico e existe uma enorme demanda por programadores de alto nível".

Aulas de programação

Wu refletiu durante semanas sobre como poderia apresentar os conceitos fundamentais de programação a crianças em idade pré-escolar -- que estão apenas começando a aprender matemática e chinês -- de uma forma que elas pudessem entender.

Ela decidiu mostrar às crianças um tabuleiro de 3 x 3 unidades e as convidou a jogar um jogo no qual se pedia que os estudantes identificassem as localizações usando direções simples, como para cima, para baixo, direita e esquerda. Depois, ela passou para um sistema numérico e pediu que as crianças apontassem as localizações utilizando coordenadas.

Quando os estudantes já estão familiarizados com o conceito de eixos X e Y, ela os ensina jogos simples com aviões no Scratch. E quando se entusiasmam, ela os incentiva a aprender a criar jogos similares por conta própria.

"Geralmente, necessitamos um jogo para deixá-los interessados e em seguida introduzimos novos conceitos", disse Wu.

Zhang Minyan, uma mãe de Nanjing, explica que começou a incentivar sua filha de 5 anos a aprender programação com Wu depois de assistir um vídeo de uma criança americana que criou um aplicativo para que seus amigos pudessem compartilhar o que pensavam sobre o cantor canadense Justin Bieber. Antes disso, Zhang não acreditava na necessidade de as crianças aprenderem a programar.

'Impressionou'

"Aquilo me impressionou muito", lembra Zhang, 32. "Eu pensei, já que a minha filha joga diariamente no iPad, por que não dar alguma orientação para que ela aprenda alguma coisa nesse processo?".

Há crianças aprendendo a programar também em outros países e Zhang não quer que sua filha fique para trás.

Incentivar as crianças a aprenderem a escrever as instruções para os programas de computador pode ajudar a China a subir na cadeia de valor da tecnologia, tornando-se mais inovadora em termos de softwares e ferramentas digitais em vez de ser uma fabricante em escala e uma fornecedora de componentes. Na atualidade, a segunda maior economia do mundo está atrás de pelo menos 16 países da Europa e dos EUA que estão colocando a programação no currículo escolar nacional.

Segundo plano

"As escolas da China têm aulas de TI e algumas até ensinam programação, mas essas aulas estão em segundo plano em relação a outras matérias que determinam como os estudantes são classificados de acordo com seu desempenho acadêmico", disse Wu, a professora de programação. "Eles não se dão conta que o ensino de programação é algo que será muito importante para o futuro".

Barack Obama, que se tornou o primeiro presidente a compor uma linha de código em dezembro passado, concorda que a programação é algo que as crianças deveriam aprender. "As pessoas não sabem programação desde o berço", disse Obama, em julho. "O que acontece é que as crianças são expostas a essas coisas desde cedo e aprendem. Elas absorvem isso como esponjas".