Não é fechando escolas que o Brasil vai mudar, diz grafiteiro Kobra
Aluno de escola pública do ensino fundamental ao médio, o muralista e artista plástico Eduardo Kobra, 38, costuma se declarar autodidata – já que ele não cursou artes plásticas nem qualquer outro curso do ensino superior.
A classificação faz sentido: ao lado da dupla Os Gêmeos, Kobra é hoje considerado um dos grandes nomes do grafite nacional, o qual, por sua vez, é reconhecido como um dos melhores do mundo.
Em São Paulo, painéis com as imagens tridimensionais e multicoloridas de figuras como Oscar Niemeyer, Ayrton Senna, Chico Buarque e Ariano Suassuna são algumas das que marcam a trajetória desse ex-aluno da escola municipal Maurício Simão, na região do Campo Limpo, zona Sul da cidade. O muralista tem suas obras espalhadas, porém, por outros 15 países; a maioria, nos Estados Unidos.
O UOL conversou com Kobra por telefone – ele finalizava três painéis em duas cidades distintas do Estado norte-americano da Flórida – sobre o movimento de ocupação de escolas públicas paulistas por alunos contrários ao fechamento das unidades pelo governo do Estado.
“Qualquer caminho que seja tomado em direção contrária à da educação é um crime contra o País. Com certeza absoluta fechar uma escola, qual for a alegação, é algo negativo e que trará prejuízo em um futuro próximo”, avaliou.
Leia, a seguir, o depoimento do artista ao UOL.
Estudei nos anos 80 e 90 na escola Maurício Simão, no Campo Limpo. Não sei com profundidade qual o perfil atual do ensino, mas tenho uma ideia pelo que vivi. A qualidade da escola pública era muito baixa; tive que correr atrás para recuperar o tempo perdido com isso.
Seja pelo que vi lá atrás, como por agora, cortar qualquer tipo de investimento para a educação é prejuízo para o país e para o cidadão.
Muitas vezes o governante decide baseado só em números, mas, por trás deles, há pessoas que são prejudicadas ou que têm sua trajetória de vida afetada com um ensino ruim.
Na escola pública fiz bons amigos, adquiri conhecimento para a vida... essas foram as coisas boas. Só que a competitividade no mercado de trabalho é muito difícil quando a sua formação deixa a desejar.
Sou completamente contrário a todo tipo de ação que afete a educação – tenha o nome que isso tiver. A situação no Brasil já é caótica; ainda não deixamos de ser um País de terceiro mundo. Não é fechando escolas que isso vai mudar.
Pelo que vejo fora, em outros países, percebo que estamos longe de ser a tal ‘pátria educadora’ [mote da presidente Dilma Rousseff no discurso de posse pela reeleição]. Acredito, sim, que as pessoas no Brasil são vencedoras, batalhadoras, mas graças, em grande parte, a um esforço pessoal muito grande – e não por incentivo das escolas públicas.
Hoje, pelos mais de 15 países que já visitei, percebo que há neles uma base de ensino desde muito cedo forte. Isso prepara as pessoas para enfrentarem o mundo de uma forma diferente.
Estamos muitíssimo distantes dessa realidade, eu percebo.
Acredito que esses alunos das ocupações estão brigando e reivindicando de uma forma absolutamente legítima. O irônico disso tudo é pensar que isso é algo com que essa molecada nem deveria estar se preocupando... Só no Brasil mesmo, infelizmente.
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