Topo

Autodidata, professor faz sucesso na web com site de dicas de inglês

"Minha família não tinha condições de pagar um curso para mim e, por isso, passei a estudar sozinho", diz Lima - Reprodução/Youtube
"Minha família não tinha condições de pagar um curso para mim e, por isso, passei a estudar sozinho", diz Lima Imagem: Reprodução/Youtube

Thiago Varella

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

30/03/2016 06h00

O professor Denilso de Lima nunca pisou fora do território nacional. Quer dizer, com exceção da Bolívia, país vizinho ao seu Estado natal, Rondônia. Além disso, ele não estudou em um desses tradicionais cursos de inglês com salas pequenas, verbo ‘to be’ na lousa e exercícios para completar a letra da música que está tocando. Nada disso. Para falar a língua da rainha Elizabeth, ele estudou sozinho. Devorou livros e grudou em estrangeiros pela rua de sua cidade até conseguir seu primeiro diploma de proficiência emitido pela Universidade de Cambridge.

O autodidata, hoje, vive do inglês. Não como tradutor ou como professor nos modos tradicionais. Lima é dono de um dos principais sites brasileiros de dicas do idioma, o ‘Inglês na Ponta da Língua’. Além disso, também é ‘youtuber’ e escritor. 

Tudo começou ainda na pré-adolescência. Um dia, vendo TV, Lima percebeu que nos créditos de um desenho animado apareceram umas palavras estranhas, que ele não conseguia compreender. Era o tal inglês. A partir daí, surgiu a vontade de estudar e entender o que estava escrito ali. 

“Era começo dos anos 90, em uma era pré-internet. Minha família não tinha condições de pagar um curso para mim e, por isso, passei a estudar sozinho. Ganhei um material da igreja que eu frequentava e comecei a ler os poucos livros que havia na biblioteca da escola”, contou. 

Pronto, isso já foi o suficiente para Lima começar a aprender. Com o pouco que sabia, passou a dar aulas de maneira voluntária na igreja. E, entre 1994 e 1996, foi morar em uma colônia de missionários americanos. Adolescente, para ganhar uns trocados, vendia zona azul nas ruas de Porto Velho. E mesmo aí, tinha uma estratégia para não ficar muito longe do inglês.

“Meu local favorito para vender zona azul era na frente de uma agência dos Correios. ‘Gringo’ sempre vai aos Correios mandar carta ou postal. Daí, quando eu percebia que tinha um estrangeiro por ali, ia logo perguntando que horas eram para puxar conversa”, contou.

Lima já tinha uma boa base do inglês escrito, mas ainda faltava treinar o ouvido e a pronúncia.  Naquela época, era difícil ter acesso a áudios ou vídeos em outras línguas sem legenda. Falar com estrangeiros a qualquer momento, então, era impossível. 

“Lembro que uma aluna veio pedir para tirar a letra da música Another Brick in the Wall, do Pink Floyd. E eu não entendi nada. Meu ‘listening’ era muito ruim”, disse.

Em 1998, quando estudava teologia na faculdade, Lima decidiu entrar de cabeça no inglês de uma vez por todas. Comprou um material de fonética e fonologia e resolveu fazer seu primeiro exame de Cambridge. Foi tão bem que chegou a ser elogiado por um professor inglês que aplicou a prova. 

Lima, então, começou a dar aulas por escolas de idioma de Porto Velho. Chegou a coordenar uma delas. Em 2001, resolveu escrever um livro. Foi recusado por várias editoras até que uma, em 2003, decidiu publicá-lo. Foi quando a primeira edição de ‘Inglês na Ponta da Língua’ foi lançada. 

Quatro anos depois, Lima lançou seu blog com dicas de inglês e o batizou com o mesmo nome do livro. 

“Era uma ideia antiga da editora criar blogs porque ajuda na venda de livros. E vi que o blog começou a andar. No começo eram 30 visitas, foi para 200 e foi crescendo. Eram pessoas de fora do meu convívio. De repente, estávamos com mil visitas e fui saber mais sobre sites. O blog virou um dos maiores do Brasil”, contou. 

O sucesso foi tamanho que o professor autodidata parou de dar aulas em 2008 para se dedicar ao blog, que virou site, e aos livros. Ano passado, surgiu uma nova ideia: a de fazer vídeos com dicas para o YouTube. 

“A ideia do site era dar dicas para aprender inglês de modo descomplicado. Tem uma historinha curiosa nisso tudo. Quando eu era estudante, os autores colocavam endereço para mandar carta com as dúvidas. Eu mandava carta e ninguém nunca me respondeu. Por isso, decidi ajudar as pessoas”, explicou. 

“Eu tenho hábito de responder as perguntas que me mandam. Por e-mail, em vídeo, em texto, de todo o jeito”, completou. 

Hoje, Lima vive exclusivamente do site, dos livros e das palestras que dá. Além da língua em si, ele também dá dicas de organização de estudos e se considera um autor de “autoajuda educacional”. 

Depois de tanto que a língua inglesa deu para Lima, falta um sonho final. Poder viajar com a mulher para um país de língua inglesa.

“Sou a prova viva de que é possível aprender inglês sem sair do país. Tenho planos com minha esposa para viajar. Quero até mesmo fazer uma série de vídeos fora do país para postar no site. Vai ser a cereja do bolo”, falou.