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Ir à escola, o desejo de milhares de crianças refugiadas na Grécia

25/05/2016 14h35

Atenas, 25 mai (EFE).- Amontoados perto da entrada do campo de refugiados de Eleonas, dezenas de crianças tentam embarcar no ônibus que os leva diariamente até um centro onde têm aulas de inglês. Elas estão sedentas para aprender, mas nem todas podem ir às aulas devido à falta de lugares.

Embora algumas saibam que seus nomes não estão na lista, tentam ir da mesma forma. Quando não são autorizadas a entrar no ônibus, elas gritam, choram e se despedem dos amigos.

Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 40% dos mais de 50 mil refugiados na Grécia após o fechamento das fronteiras são menores de idade.

A maioria está há meses sem ir à escola. Além do tempo gasto durante a viagem, a guerra que destrói escolas sem distinção em seus países de origem faz com que os pais mantenham os filhos em casa.

O Ministério da Educação grego criou dois comitês de especialistas para desenvolver atividades educativas para o verão e um curso a partir de setembro.

Em alguns centros de refugiados estabelecidos pelo governo já é realizado um programa piloto no qual são dadas aulas de inglês a crianças que moram nesses locais.

Mas ainda não há vagas para todas. Marya, procedente de Cabul, tem três filhos e por enquanto só a filha mais velha, Muzhda, pode pegar o ônibus que os leva de Eleonas até a aula de inglês quatro dias por semana.

"A partir de setembro, nosso objetivo é iniciar projetos de educação globais, cursos de integração ao sistema educacional, não limitados à aprendizagem de idiomas. Para isso pretendemos envolver também a Acnur e o Unicef", explicou Yanis Pandis, secretário-geral do Ministério da Educação.

O ministro de Migração grego, Yannis Mouzalas, enviou no início desta semana uma carta ao Unicef na qual pede que o órgão se envolva na gestão dos menores refugiados.

Um dos grandes problemas para coordenar a educação de todos os menores que se encontram na Grécia é que muitos não estão em centros governamentais, mas em Idomeni, o acampamento improvisado junto à fronteira entre Grécia e Macedônia. Há meses esse é o principal ponto de aglomeração de refugiados, que se negam a abandonar o local com a esperança que as fronteiras abram de novo.

Os serviços deste tipo nas zonas não oficiais ficam sob responsabilidade das ONGs e dos voluntários. Em Idomeni há agora duas escolas montadas por ONGs, que em tendas tentam ensinar idiomas às crianças do campo.

A escola montada pela BorderFree Association funciona há apenas uma semana, mas já oferece sete horas de aulas de inglês ao dia para 90 meninos e meninas de 3 a 19 anos. A intenção é montar outra tenda para ampliar as aulas.

"Quando conversamos com os pais das crianças, eles nos contam que antes elas estavam sempre tristes e aborrecidas. Ir à escola é o melhor que poderia acontecer a elas", contou Nedal, no momento o único refugiado que participa da escola como professor.

A situação é ainda mais complicada para os menores que chegaram à Europa após o início do acordo de migração entre União Europeia e Turquia no dia 20 de março.

Trancados nos antigos centros de registro nas ilhas do Mar Egeu, em um ambiente de superpopulação e desinformação, esses menores não têm acesso à educação e estão presos até que recebam uma resposta positiva sobre seus pedidos de asilo ou sejam devolvidos à Turquia.

François Crepeau, relator especial das Nações Unidas sobre direitos dos migrantes, pediu nesta semana ao governo grego que deixe em liberdade os menores que estão nestes centros.

"As crianças não deveriam ser detidas, ponto. A detenção deve ser ordenada apenas quando uma pessoa representar um risco, perigo ou ameaça para a sociedade, e tem de ser uma ameaça baseada em fatos, não em intuições", disse Crepeau.

A ONG Remar, a única que permanece nos centros governamentais das ilhas transformados em centros de detenção, organizou diversas áreas específicas para crianças, "zonas seguras" onde é possível brincar tranquilamente, mas não ainda não há recursos nem permissões das autoridades competentes para oferecer aulas.

Há uma geração de crianças na Europa que até agora só conheceu guerra, violência e sobrevivência. Uma geração de crianças que está crescendo em tendas por toda Grécia sem aprender a ler, a somar, ou a se comunicar no idioma do país no qual vão viver.