Crise econômica e influência secundarista potencializam greve na USP
A greve da USP, em São Paulo (SP), de 2016 une as três categorias que formam o corpo universitário: estudantes, docentes e funcionários.
Eles protestam contra o que chamam de "desmonte da universidade": mudança de estatutos de contratação, desvinculação do HU (Hospital Universitário) da universidade e um programa de demissões voluntárias que não vai repor o corpo técnico. Pedem, ainda, ampliação das vagas por cotas.
Por parte da administração da Universidade de São Paulo, a justificativa é a crise pela qual passa a instituição-- atualmente, os gastos com funcionários são maiores que o orçamento.
Há duas diferenças na movimentação deste ano. Em primeiro lugar, departamentos que tradicionalmente não integram movimentos grevistas, como a Faculdade de Medicina de São Paulo, o Instituto de Física e a Escola Politécnica, estão mobilizados. Ao mesmo tempo, cursos que tradicionalmente fazem paralisação apresentam métodos mais radicais, como a ocupação de prédios.
A segunda diferença é que a movimentação contra a greve também está maior.
70% ou 5%?
Segundo o sindicato dos funcionários, o Sintusp, 70% das unidades estão mobilizadas -- mas eles não especificam se os serviços estão completamente suspensos. Para a entidade que representa os alunos, o DCE (Diretório Central dos Estudantes), o percentual entre os alunos atinge 78% dos cursos.
Já a administração da USP, por meio de sua assessoria de imprensa, contabiliza a adesão de 5% do quadro de funcionários.
César Minto, presidente da Associação de Docentes da USP (Adusp), aponta que os problemas enfrentados na universidade integram um contexto maior: “A rede pública estadual foi desmontada por sucessivas políticas implantadas há anos. Estamos em um momento que a mesma tendência começa a ocorrer nas universidades estaduais”.
Tanto os professores quanto os funcionários reivindicam 12,34% no salário. "A reitoria apresentar 3% de reajuste é uma proposta descabida”, afirma Aníbal Cavalli, do Sintusp. Além disso, eles se movimentam contra uma escassez de trabalhadores, decorrente do Plano de Incentivo a Demissão Voluntaria (PIDV) ao mesmo tempo que não há contratação de docentes e funcionários desde 2014.
Ocupações em escolas
Giulia Castro, 22, do quinto ano de artes cênicas, afirma que a greve de 2016 também foi influenciada por uma série de mobilizações de juventude como a Primavera Feminista, a mobilização de estudantes secundaristas, a crise econômica e o fato do movimento estudantil da USP sofrer sucessivas derrotas ao longo dos últimos anos.
“Teve um momento que todos os cursos da ECA estavam parados, são 12. O IME entrou na greve com métodos radicalizados, a Física fez piquete”, comenta.
Os estudantes relatam haver mais força dentro dos cursos, lamentam não ver isso refletido nas assembleias que decidem a greve-- a situação se contrapõe a greves passadas, como nos anos de 2011 e 2013.
Segundo Igor Barreto, 28, que cursa o segundo ano de biblioteconomia, a greve da USP faz parte de um movimento de mobilizações de juventude que vem acontecendo em âmbito internacional. Ainda comenta que a radicalidade do movimento dos secundaristas serviu para enfraquecer setores mais conservadores da universidade.
Posição da reitoria
A reitoria se pronunciou por meio de sua assessoria de imprensa e aponta que a greve é minoritária na Usp. Não foi respondida a acusação, feita por docentes, funcionários e estudantes sobre a acusação de falta de diálogo.
“A greve atinge uma pequena parcela dos servidores da Universidade, atingindo cerca de 5% do quadro de pessoal, em todos os campi. Dessa forma, a maioria das atividades acadêmicas e administrativas transcorrem normalmente na Universidade. Transtornos na rotina administrativa e acadêmica acometem as Unidades que estão ocupadas, como é o caso da ECA e da FFLCH, e onde há piquetes impedindo a entrada de funcionários, como ocorre no prédio da Administração Central”.
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