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PF investiga intolerância e ação de falso militar na Federal de Alagoas

Ação de falso militar na Ufal motiva investigação da PF - Reprodução/Facebook
Ação de falso militar na Ufal motiva investigação da PF Imagem: Reprodução/Facebook

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

06/10/2016 17h24

A Ufal (Universidade Federal de Alagoas) acionou a Polícia Federal, nesta quinta-feira (6), e pediu investigação sobre a ação de dois homens que fizeram ameaças e demonstraram intolerância, pelo Facebook, com militantes de esquerda.

O texto com ofensas e ameaça aparece junto a uma foto tirada no Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes, no campus Maceió. Na imagem, um deles aparece fazendo gesto de continência e vestido com uma farda similar à do Exército e supostamente armado. O outro homem aparece ao lado apontando para uma ilustração do sociólogo alemão Karl Marx e para uma lixeira. Ainda não se sabe se os dois são estudantes da Ufal.

O caso aconteceu na última terça-feira (5), quando a foto foi postada em um perfil do Facebook de uma pessoa chamada Antonio David e foi compartilhada por dezenas de pessoas --o perfil do suposto universitário foi retirado do ar nesta quinta-feira, e a foto não está mais disponível. No texto, ele defende a "repressão constante e massiva aos esquerdinhas".

Os dois jovens se intitulam como integrantes de um movimento chamado Nacionalistas". Na postagem, David deixa um recado com ameaças: "Aos esquerdinhas, levei apenas um militar, se chorarem muito, na próxima levarei à tropa toda para limpar esse pandemônio", disse.

Nesta quinta-feira (6), um ato público de repúdio reuniu gestores, professores e alunos da universidade no instituto e levou mais de 100 pessoas ao instituto. Um debate sobre intolerância também foi realizado.

Ato público de repúdio reuniu gestores, professores e alunos da Ufal  - Carlos Madeiro/UOL - Carlos Madeiro/UOL
Ato público de repúdio reuniu gestores, professores e alunos da Ufal
Imagem: Carlos Madeiro/UOL

O vice-reitor da Ufal, José Vieira, disse que a universidade já acionou a Procuradoria da instituição e vai esperar as investigações da PF para tomar providências. "Se for identificado que se trata de algum aluno, serão tomadas as providências conforme prevê a lei", disse ele, que participou do ato e descartou, por ora, reforço na segurança do campus de Maceió. "Se a polícia indicar a necessidade, faremos; mas a princípio não tomaremos nenhuma medida."

O vice-reitor disse que a universidade vai atuar na garantia do direito a livre manifestação. "Não se trata de apoio à direita ou à esquerda, se trata de tolerância e respeito. Esse caso nos preocupa muito porque episódios semelhantes já ocorreram na unviersidade em Sergipe, em Santa Catarina. Esse é um sentimento de intolerância que cresce e nos preocupa, pois a universidade é um ambiente de pluralismo e debate de ideias", afirmou.

O diretor do Instituto, José Edson Lino, também afirmou que prefere aguardar a investigação para comentar o caso. Porém, ele adiantou que não reconheceu nenhum dos integrantes da foto como estudantes dos cursos do instituto. "O que fiz foi convocar o conselho da universidade para apurar a veracidade do que está ocorrendo. Vamos aguardar", afirmou.

Procurado pelo UOL, o Exército informou que o órgão já sabe que o jovem fardado não é militar, e a farda não é original da corporação. Uma investigação do caso foi aberta.

O caso

O professor de história da Ufal, Osvaldo Maciel, conta que a visita da dupla ocorreu entre o final da manhã e início da tarde da terça-feira, quando o instituto está praticamente vazio. "Vimos as imagens das câmeras de segurança, e eles vieram aqui rapidamente, tiraram fotos e saíram. Foi rápido", disse.

Durante a passagem, o grupo teria ainda arrancado cartazes que chamavam para um debate com tema socialismo. Porém, a informação de cartazes retirados não foi confirmada pela direção do instituto e ainda será investigada.

O estudante de psicologia Alvandy Frasão, 22, conta que chegou a ver a dupla circulando nos corredores do instituto. "Nós estávamos próximo ao bloco de filosofia e percebemos que havia essas pessoas, uma delas vestida com a roupa de Exército. Eles passaram olhando tudo, como se estivessem conhecendo o bloco. Na hora não desconfiamos de nada", disse.

Depois do episódio, o universitário diz que o clima entre a comunidade acadêmica é de revolta e medo. "A gente fica com medo porque isso nunca tinha ocorrido, e são pessoas que desconhecemos e que fazem referência ao uso da violência", finalizou.