Mesmo com Enem, estudantes mantêm ocupações de escolas no Rio
Ocupação rima com "aulão". Esse foi o lema de estudantes que se preparavam para o exame do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), no próximo domingo (6), ao mesmo tempo em que mantinham todas as unidades do Colégio Pedro II ocupadas em protesto no Rio de Janeiro. Por trás dos portões trancados e da fachada repleta de cartazes contra mudanças na educação, os “aulões” no campus São Cristóvão predominaram durante parte da manhã e tarde desta terça-feira (1). Os alunos que estão inscritos pretendem fazer a prova, mas parte deles teve o exame adiado devido às ocupações que participam.
O MEC (Ministério da Educação) anunciou nesta terça-feira (1) o adiamento da prova dos estudantes que fariam o Enem nas escolas ocupadas. Para os 191.494 alunos afetados a prova será nos dias 3 e 4 de dezembro. Neste grupo constam inclusive integrantes do movimento de ocupações.
"Eu fiz inscrição e meu local de prova, por coincidência, é aqui na escola, na mesma sala onde estudo diariamente. Mas neste momento a preocupação deve ser com a qualidade da educação. Não basta entrar para a faculdade, a gente quer garantir que o ensino público não terá corte de gastos no futuro”, disse o jovem de 16 anos que ocupa a unidade do Colégio Pedro II em São Cristóvão, na zona norte do Rio.
Além de São Cristóvão, os campi Realengo, Tijuca, Humaitá, Niterói, Centro, Engenho Novo e Duque de Caxias também estão ocupados há uma semana. Cerca de 8,3 mil alunos estudam nessas unidades, que seriam locais de prova do Enem. Eles protestam contra a (PEC) Proposta de Emenda à Constituição 241, que cria um teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos, a reforma do ensino médio e a “escola sem partido”.
Enquanto os inscritos no Enem participavam dos aulões de disciplinas como História e Biologia, os demais estudantes faziam jardinagem na entrada da unidade São Cristóvão e jogavam partidas de futebol na quadra da escola.
“Nós sempre estivemos dispostos a dialogar. Não queremos prejudicar ninguém. Antes da eleição, um juiz do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) nos chamou para conversar e a votação ocorreu normalmente aqui dentro. Estamos aguardando o contato do ministério”, afirmou uma estudante de 17 anos, da unidade Centro. O MEC não respondeu à reportagem até o momento da publicação.
Os estudantes sustentam que estão decididos a resistir na ocupação enquanto não tiverem suas pautas atendidas. Eles contam com apoio da maioria dos servidores, que entraram em greve na semana passada. No entanto, admitem que parte dos estudantes é contra o movimento estudantil que iniciaram.
“São uma minoria, mas realmente tem gente descontente. O que precisa esclarecer é que todo mundo vai fazer o Enem, mais cedo ou mais tarde. Uma semana sem aula normal não faz diferença alguma. A gente vem estudando desde o começo do ano”, alegou uma estudante de 16 anos da unidade do Centro.
Discursos radicais
O que deixa os alunos das ocupações preocupados são as manifestações de repúdio ao movimento que começam a aparecer nas redes sociais. De acordo com eles, os descontentes com as ocupações fazem discursos radicais na internet.
“Isso é preocupante. No Paraná o MBL (Movimento Brasil Livre) tentou desocupar escolas. Nas ocupações das escolas estaduais do Rio, no primeiro semestre, teve casos de violência”, revelou um aluno do Pedro II, em São Cristóvão.
A precaução fica evidente logo na entrada dos colégios ocupados. Para ter acesso às escolas é exigida a apresentação dos documentos e a assinatura em uma folha de cadastro feita pelos alunos. Há também restrições sobre o que pode ou não ser fotografado dentro das unidades de ensino. Eles não autorizam a publicação de seus nomes nas reportagens.
Os estudantes sustentam que não contam com apoio de entidades. No Paraná, as ocupações têm participação da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), ligada ao PCdoB. Nas escolas estaduais do Rio, ocupadas no primeiro semestre, havia a colaboração da Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes Livres), vinculada ao PSTU.
“Aqui ninguém é o que chamam de ‘esquerdopatas’. Tem alunos liberais aqui dentro. Em comum a gente tem o objetivo de barrar essas propostas que vão afetar a qualidade da educação”, disse um estudante de São Cristóvão.
Por meio de nota, a reitoria do Pedro II afirmou que não apoia, “mas entende as razões que motivam as ocupações”.
No Rio, os campi de Duque de Caxias, Nilópolis, Realengo, Paulo de Frontin e São Gonçalo do IFRJ (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro) também estão ocupados. A assessoria de imprensa do IFRJ informou, por nota, que a reitoria da instituição considera as manifestações “legítimas em um Estado democrático de direito”.
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