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No Recife, estudantes mantêm ocupação em universidade federal durante Enem

Sumaia Villela

Da Agência Brasil, em Recife

05/11/2016 20h19

Cinco prédios do campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) continuaram ocupados no campus do Recife e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi adiado para os candidatos que fariam prova nesses locais, por decisão do Ministério da Educação (MEC). Mesmo assim, as manifestações conviveram hoje (05) com o clima dos exame, já que em outros prédios - alguns, inclusive, vizinhos ou bem próximos dos locais ocupados - a prova foi aplicada normalmente.

Na porta dos prédios ocupados, funcionários do Enem que iriam aplicar as provas foram escalados para informar estudantes desavisados sobre o adiamento. Em frente ao Centro de Educação da UFPE, os manifestantes acampados cederam um bureaux e um espaço na porta, entre cartazes contra a PEC, para que os funcionários colassem os avisos da nova data de prova.

Os trabalhadores não estavam autorizados a dar entrevista, mas informaram que menos de 10 pessoas apareceram para confirmar que o Enem estava adiado de fato. Enquanto a reportagem esteve no local, alguns jovens paravam para perguntar sobre um endereço específico e estudantes da ocupação informavam sobre a organização do campus.

Os estudantes da ocupação criticaram a decisão de adiar o Enem para parte dos candidatos. "Foi uma medida utilizada de maneira tática pelo governo para colocar os estudantes que iriam fazer o Enem contra os que estão fazendo a ocupação, porque os TREs [Tribunais Regionais Eleitorais] por todo o Brasil tiveram um prazo muito mais apertado para realizar a transferência de locais de votação e eles fizeram isso. O MEC teve prazo muito maior e não buscou diálogo algum", disse um estudante da ocupação do Centro de Educação, um dos dois locais de prova do Recife que precisaram ser transferidos no segundo turno.

"O objetivo da ocupação não era atrapalhar eleitores ou os estudantes. Inclusive no dia da eleição, ajudamos eleitores a encontrar locais de votação novos, assim como fizemos um aulão pré-Enem, no sábado passado, com mais de 200 estudantes de escolas públicas, por meio do projeto Rumo à Universidade", afirmou o jovem, que não se identificou por decisão coletiva dos manifestantes.

Do outro lado da rua, em frente ao Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), um grupo de capoeira deu uma aula pública em apoio à manifestação dos estudantes. "Estamos ligados às lutas sociais, desde nossa origem, e as ocupações tem se apontado como uma alternativa bastante diferente das tradicionais. A arte está sempre na vanguarda, na defesa dos direitos sociais que estão sendo esquecidos na atual conjuntura. Então, resolvemos vir espontaneamente para cá", justifica Isabel Cordeiro, 50, a mestra Bel, do Centro de Capoeira São Salomão, que também é um Ponto de Cultura.

Há menos de 500 metros dali, no Núcleo Integrado de Atividades de Ensino (Niate) do Centro de Ciências Biológicas e Saúde, o movimento de candidatos em busca de seu local de prova era intenso. Flávia Letícia Barbosa, 16, chegou com a mãe na hora em que os portões abriram, para evitar imprevistos. Ela vai fazer o Enem, mas apenas para testar seus conhecimento e se familiarizar com o processo seletivo. A candidata para valer é sua mãe, Fábia Rocha, 35, atendente de telemarketing atualmente desempregada. Dez anos depois de terminar o ensino médio, ela resolveu voltar a estudar. Vai tentar o curso de Serviço Social.

"Ano passado consegui, mas não em escola pública. Agora espero passar", disse Fábia. Ela conta que se preparou para o vestibular estudando em casa, com os filhos. "Tem um que passou, no ano passado, em engenharia civil, aqui na Federal. Ele e a Flávia são de escola pública. Um ajuda o outro lá em casa, todos estudam juntos", ensina. Questionada se ficou preocupada com uma ocupação em cima da hora, ela disse que ficou um pouco nervosa, mas disse que concorda com a manifestação. "Eles estão lutando por uma educação melhor para todos nós", afirmou.

Condições desiguais

Já no Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), que estava parcialmente ocupado até o dia 1 de novembro, os estudantes decidiram, em assembleia, liberar o espaço para a realização do Enem. Neste primeiro dia de prova, o local recebeu os candidatos normalmente. Da ocupação, restou uma faixa, na entrada do prédio, com uma mensagem contrária à PEC 241, agora PEC55.

Uma das candidatas, Jordana Thaís Rodrigues da Silva, 20, terminou o ensino médio e tenta, pela segunda vez, uma nota suficiente para entrar no curso de Psicologia. Ela disse que ficou preocupada com a ocupação. "Querendo ou não, a gente estuda o ano todo. Estou doida para fazer a prova. Saí bem cedo de casa para não pegar trânsito", conta.

O candidato Gilmar Júnior, 18, que vai tentar o Enem pela primeira vez para Biomedicina, disse que a ocupação não tirou sua tranquilidade, mas disse não concordar com a decisão de adiar o exame para as pessoas que fariam as provas em locais ocupados. "Os outros podem se preparar mais, e a redação pode ser uma diferente da outra, a favor ou contra dos outros. Aí acho isso errado".

Estudante pulou o muro

No Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da UFPE, onde a Agência Brasil acompanhou o fechamento dos portões, duas jovens chegaram nos últimos 30 segundos do prazo, mas conseguiram entrar. Na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), no bairro da Boa Vista, a imprensa local relatou o caso de um candidato que, atrasado, tentou pular o muro do prédio, mas foi impedido pelos seguranças.

Neste sábado, a prova foi de ciências humanas (química, física e biologia) e ciências da natureza (geografia, história, filosofia, sociologia e conhecimentos gerais). Amanhã os candidatos são avaliados nas áreas de linguagens, códigos e suas tecnologias; matemática e redação.

Participara do Enem em Pernambuco, 430.684 pessoas, em 907 locais de prova. Segundo a última lista divulgada pelo MEC na sexta-feira (04), 16.635 candidatos tiveram seus exames adiados para 3 e 4 de dezembro, por causa das ocupações em 21 unidades de instituições de ensino do estado.