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Polícia investiga se quadrilha que fraudava concursos planejava agir no Enem

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Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

30/10/2017 10h59Atualizada em 07/11/2017 21h20

As polícias civis de Goiás e do Distrito Federal deflagraram nesta segunda (30) uma operação contra um grupo suspeito de ter praticado fraudes em vestibulares de medicina e diversos concursos públicos pelo Brasil, inclusive o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2016.

Segundo a assessoria da polícia civil de Goiás, os policiais investigam indícios de que o grupo teria planos para fraudar o Enem deste ano, cujas provas acontecem no próximo domingo (5) e no dia 12 de novembro. Mais de 6,73 milhões de candidatos farão o exame em 12.416 locais de prova pelo Brasil.

Em conjunto, as operações Panoptes, da polícia civil do DF, e Portas Fechadas, da polícia civil de Goiás, cumprem 19 mandados de busca e apreensão, 11 de condução coercitiva e 8 de prisão preventiva nas cidades de Goiânia, Brasília, Nova Glória, Valparaíso e Aparecida de Goiânia. As ações foram coordenadas, mas as investigações seguirão separadas, segundo a polícia.

“A organização criminosa atuava em concursos públicos tanto tentando fraudar as provas por meio de atuação externa, com utilização de pontos eletrônicos ou de celulares, quanto cooptando funcionários de bancas examinadoras para a troca de folha de respostas de candidatos que pagaram pelo esquema criminoso”, afirmou o delegado-adjunto Adriano Valente, da Deco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado) da polícia civil do DF.

No caso das fraudes em concursos públicos, o valor cobrado pela vaga dependia do tipo de concurso, segundo a polícia. Era cobrado um sinal, no valor de R$ 10 a R$ 20 mil. Após o candidato conseguir assumir o cargo de maneira fraudulenta, ele fazia um empréstimo consignado para pagar o restante do valor --que era, em média, até 20 vezes o salário do cargo.

A assessoria de imprensa do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela aplicação do Enem, afirmou em nota que o órgão ainda não foi notificado sobre as operações e está em busca do inquérito.

"A partir das informações obtidas e do que for constatado, o Inep tomará as providências cabíveis, delimitando as responsabilidades, eliminando eventuais beneficiários de esquemas de fraudes na edição de 2016", complementa a nota.

Fraudes em outras edições

Em novembro do ano passado, duas operações da Polícia Federal prenderam pelo menos 11 pessoas suspeitas de participar em um esquema de fraude no Enem. Foram elas a operação Embuste, em Minas Gerais, e a operação Jogo Limpo, deflagrada nos Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Tocantins, Amapá e Pará.

Segundo a PF, os indícios eram de que os fraudadores tiveram acesso antecipado às provas ou as resolveram rapidamente com ajuda de alunos e professores e então repassaram as respostas a candidatos por aparelhos de recepção de áudio chamados de pontos eletrônicos que ainda faziam as provas. De acordo com as investigações, o grupo de Minas cobrava entre R$ 40 mil e R$ 50 mil pelo gabarito da prova.

Em setembro deste ano, o Inep decidiu anular o resultado do Enem de 13 participantes que foram indiciados por fraude pela PF na operação Jogo Limpo. Dos 13 indiciados, três fizeram o Enem em 2015. Os outros dez participaram do Enem em 2016. A maioria deles, segundo o Inep, estava matriculada em cursos de medicina e odontologia em universidades federais das regiões Norte e Nordeste.

O Inep diz ainda que está monitorando o caso de 13 participantes suspeitos de terem fraudado o Enem em 2013, de acordo com informações da operação Hemostase, deflagrada pela polícia civil de Minas Gerais em 2014. 

Segurança

A estratégia de segurança desta edição do Enem ganhou reforços para reprimir as tentativas de fraude contra o exame.

Pela primeira vez, o Enem fará uso de um aparelho de contrainteligência, chamado Andre, que capta transmissões de dados por ponto eletrônico. O aparelho é capaz de identificar a emissão de sinais em radiofrequência de WiFi, bluetooth e celulares. 

Todos os aparelhos Andre utilizados no Enem serão fornecidos pela fabricante Berkara, empresa brasileira especializada em equipamentos de segurança de alta tecnologia, em caráter de "projeto experimental" --por isso, sem custos para o governo federal, de acordo com Eunice Santos, diretora de Gestão e Planejamento do Inep.

Detectores de metal também serão usados nos locais de prova. Além disso, os cadernos de questões serão personalizados com nome e número de inscrição do participante.

As medidas, segundo a presidente do Inep, Maria Inês Fini, não acarretarão aumento no orçamento total para realização do Enem. A edição do ano passado foi uma das mais caras da história do exame --o custo da aplicação foi de R$ 788 milhões, o mais alto em pelo menos cinco anos.

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