Manifestações contra cortes na educação ocorrem em todos os estados e no DF
Professores, estudantes e trabalhadores da educação participam desde as primeiras horas da manhã de manifestações em defesa das universidades federais, da pesquisa científica e do investimento na educação básica. Os maiores protestos começaram à tarde em São Paulo, em Curitiba e no Rio.
Os atos reuniram pessoas de idades diversas, com crianças, jovens e idosos contra os cortes na educação. É o primeiro protesto nacional do governo Bolsonaro. A Polícia Militar, que acompanhou os atos em São Paulo, Rio e Curitiba, não forneceu estimativa da quantidade de pessoas.
Na capital paulista, manifestantes se concentraram nas imediações do Masp (Museu de Arte de São Paulo) e depois marcharam em direção à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), no Paraíso. Grades e policiais isolaram o acesso das pessoas. Encerrando o evento, lideranças das universidades e dos professores conclamaram os manifestantes a trabalharem nas próximas semanas para conseguir mais adeptos, nas instituições de ensino, em casa com a família e no trabalho, para a greve marcada para o dia 14 de junho.
Predominam nos atos os cartazes, muitas vezes improvisados, mas sempre com frases sarcásticas com declarações tanto do presidente Jair Bolsonaro quanto do ministro Abraham Weintraub (MEC). Também foram levantadas algumas bandeiras e balões de centrais sindicais e sindicatos da área da educação, assim como de coletivos estudantis. Símbolos de partidos de esquerda, como PCO e PCdoB, aparecem em menor número.
Participantes também colaram adesivos contra a reforma da Previdência e outros estão com camisas e cartazes pedindo a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em um determinado momento, do meio de um grupo de estudantes da USP Leste, enquanto se aproximavam do Masp vindos da Consolação, alguns começaram a gritar "Bolsonaro, vai tomar no c...". Mas logo foram repreendidos pelos próprios colegas. "Não, aqui não vai ter isso". E continuaram com gritos de "Reage USP", "Luta" e "Resiste". Um grupo de alunos da USP (Universidade de São Paulo) veio a pé desde a Cidade Universitária, que fica a quase 7 km da avenida Paulista.
"Ô, Bolsonaro, seu fascistinha, os estudantes vão botar você na linha" e "Livro sim, arma não" foram outros gritos dos estudantes, que se sentaram na avenida Paulista em um trecho próximo ao Masp, pedindo a atenção das pessoas ao redor.
Rio tem concentração na Candelária sob chuva
Centenas de manifestantes com guarda-chuvas e capa de chuva se concentraram em frente à Igreja da Candelária, no centro do Rio. Por volta das 16h45, eles saíram em direção à Estação Central. O Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ) estimou o público em 150 mil pessoas.
Placas como "Penso, logo reexisto" e algumas bandeiras de partidos de esquerda, como o PCdoB, estão presentes. Alguns políticos de partidos de esquerda também compareceram ao ato. Panos de prato ironizando os ministros da Justiça, Sergio Moro, e da Economia, Paulo Guedes, são vendidos a R$ 10.
O público ironizava com gritos e cantos: "Que contradição, tem dinheiro para a milícia, mas não tem para a educação", "Ô, Bolsonaro, vou te falar: a juventude também quer se aposentar". Havia bandeiras de sindicatos, universitários, partidos de esquerda e em lembrança à vereadora Marielle Franco.
Em Curitiba, estudantes da UFPR (Universidade Federal do Paraná), do IFPR (Instituto Federal do Paraná) e de outras instituições de ensino voltaram a se reunir no centro da cidade em protesto aos cortes na educação.
Mesmo debaixo de chuva, a escadaria do prédio histórico da UFPR foi tomada pelos manifestantes. Uma bateria ditou o ritmo do protesto.
Cartazes e faixas reclamam do governo federal e ironizam o presidente Jair Bolsonaro (PSL). "Educação acima de tudo. Educação acima de todos", diz um cartaz, parodiando o slogan da campanha eleitoral de Bolsonaro.
Sindicalistas, feministas e estudantes de escolas regulares de Curitiba integraram a nova manifestação. Até citações de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estavam em roupas dos manifestantes.
Por que as pessoas foram às ruas?
Os atos acontecem após o MEC (Ministério da Educação) anunciar um congelamento orçamentário que atinge recursos desde a educação infantil até a pós-graduação, com suspensão de bolsas de pesquisa oferecidas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Nas universidades federais, o bloqueio anunciado foi de 30% dos recursos destinados a gastos discricionários (como água, luz e serviços de manutenção).
Protestos desde a manhã
Mais cedo, alunos e docentes da USP (Universidade de São Paulo) iniciaram a manifestação por volta das 8h nos arredores da instituição, que fica na zona oeste de São Paulo, bloqueando ruas e avenidas do entorno. Eles decidiram ir andando até a avenida Paulista para engrossar o movimento da tarde.
Em Curitiba, os primeiros a chegarem ao protesto contra os cortes na educação foram freis franciscanos. Eles ergueram faixas na praça Santos Andrade, no centro da capital paranaense. Os manifestantes se reuniram no prédio histórico da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e realizaram uma caminhada, bloqueando ruas da região central. Estudantes, professores e servidores da universidade participam do protesto, além de alunos de escolas e faculdades privadas da cidade.
Na região metropolitana, metalúrgicos também fizeram protestos em diversas fábricas contra os cortes. A entidade informou que 20 mil trabalhadores participaram dos atos.
Já em Porto Alegre, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul usou granadas de gás lacrimogêneo para dispersar estudantes que protestavam na região da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Segundo a instituição, a medida foi tomada para evitar o bloqueio do tráfego de veículos na região por volta das 12h.
"Não se pode confundir protesto com bagunça. Não se pode confundir manifestação com o bloqueio do direito de ir e vir da coletividade", afirmou Moritz, justificando a ação da brigada. "Eles estavam fazendo um protesto legal, um direito constitucional, mas fecharam as vias", disse.
Várias manifestações simultâneas aconteceram em Belo Horizonte, sendo a principal delas na Praça da Estação, no centro da capital mineira. Segundo os organizadores, somando-se todos os pontos de protestos, mais de 200 mil pessoas participaram dos atos.
Em Brasília, dois jovens não identificados foram detidos pela PM e são suspeitos de terem lançado o rojão contra os policiais.
Durante a caminhada pela Esplanada, alguns manifestantes tentaram criar barricadas com cones de trânsito e estruturas de bloqueio de tráfego da PM.
Bolsonaro fala em Dallas: "Idiotas úteis"
Questionado sobre os protestos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a maioria dos participantes dos protestos é formada por "idiotas úteis" e "imbecis" que estão sendo usados por militantes.
"É natural [que haja protesto]. Mas a maioria ali é militante. Se você perguntar quanto é sete vezes oito, não sabe...São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais no Brasil", disse em Dallas, nos EUA.
No Norte e no Nordeste
Em Maceió, estudantes e professores se reuniram na frente do Centro Educacional de Pesquisa Aplicada, de onde partiram para uma caminhada pela avenida Fernandes Lima. Com faixas pedindo "Lula Livre", o movimento contou com a participação de pelo menos 3.500 pessoas, segundo informou a PM.
Em São Luís, o principal ato ocorreu na praça Deodoro, no centro da capital maranhense. Segundo a PM, cerca de 5.000 pessoas participaram a movimentação.
No fim da tarde, teve início o protesto em Manaus, com concentração na praça da Saudade. Muitos alunos de escolas públicas aproveitaram a paralisação dos professores e foram às ruas.
Pela manhã, estudantes técnicos e professores da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) protestaram contra o corte sofrido pela instituição.
Em Macapá, o ato desta tarde contou a prestação de serviços sociais, como testes de saúde e orientação jurídica à população. A concentração ocorreu na praça da Bandeira, de onde os manifestantes deram início a uma caminhada nas ruas centrais da capital amapaense.
Em Fortaleza, entre 5h e 7h da manhã, alunos da UFC (Universidade Federal do Ceará) bloquearam a avenida 13 de Maio, no Benfica. Em seguida, o grupo saiu em caminhada até à reitoria da UFC. No interior do Ceará, atos também foram registrados em Juazeiro do Norte, Cedro, Iguatu, Quixadá e Tauá.
Em Salvador, o ato teve início na avenida Sete de Setembro e seguiu em direção à praça Castro Alves. Com batuques dos grupos de afoxé, mais de de 25 mil pessoas participam da manifestação, segundo os organizadores.
Em Teresina, o ato começou por volta das 8h, quando estudantes, professores e trabalhadores da educação fizeram passeata até a prefeitura. Depois, eles seguiram em passeata pelas ruas da cidade. A organização não informou o número de participantes.
Em João Pessoa, o protesto começou em frente ao colégio Lyceu Paraibano, de onde cerca de 4.000 pessoas saíram em caminhada pelas principais ruas do centro. Foram registradas manifestações ainda em Campina Grande, Areia, Monteiro e Sousa.
No Pará, as aulas nas universidades públicas e IFPA (Instituto Federal do Pará) foram suspensas por conta dos atos públicos. Em Belém, cerca de 10 mil pessoas se reúnem na praça da República, segundo o Sindtifes (Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais do Ensino Superior do Estado do Pará). Marabá e Santarém também tiveram atos.
No Acre, manifestantes iniciaram às 7h um ato intitulado de "Ocupa Ufac", em Rio Branco. O grupo serviu um café da manhã, e as aulas foram suspensas. Cerca de 600 pessoas participaram da mobilização, segundo organizadores.
Em Rondônia foram registradas manifestações em Porto Velho, onde houve uma caminhada; e na fronteira com a Bolívia, onde estudantes fecharam o Instituto Federal de Rondônia, que fica em Guadajá-Mirim. Já no Tocantins, estudantes fecharam as entradas de duas universidades públicas, em Palmas.
* Reportagem de Bernardo Barbosa, Luciana Quierati, Mirthyani Bezerra, Hanrrikson Andrade, Marina Lang, Aliny Gama, Vinicius Konchinski e Marcellus Madureira
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