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Violinista baiano faz vaquinha para estudar em escola que formou André Rieu

O violinista baiano Uiler Moreira de Souza, de 21 anos, foi aprovado para estudar no Conservatório Real de Bruxelas - Arquivo Pessoal/Uiler Moreira de Souza
O violinista baiano Uiler Moreira de Souza, de 21 anos, foi aprovado para estudar no Conservatório Real de Bruxelas Imagem: Arquivo Pessoal/Uiler Moreira de Souza

Aurelio Nunes

Colaboração para o UOL, em Salvador

29/07/2020 04h00

O violinista baiano Uiler Moreira de Souza, de 21 anos, foi aprovado para estudar no prestigioso Conservatório Real de Bruxelas, que já formou desde o inventor do saxofone até André Rieu, um dos mais populares músicos que tocam o instrumento.

Agora, Souza tenta arrecadar R$ 22 mil para bancar os custos de passagem, hospedagem, alimentação e transporte de seus três primeiros meses de vida na Bélgica. Em uma semana de vaquinha online, ele já arrecadou R$ 6.000 para realizar seu sonho.

Apesar da pouca idade, Souza já é formado pela Faculdade de Música da UFBA (Universidade Federal da Bahia), e passou pela Osufba (Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia) e pela Osba (Orquestra Sinfônica da Bahia).

Experiência

Na Europa, Souza irá aprofundar uma experiência que viveu na adolescência, quando teve a oportunidade de apresentar-se em concertos realizados na Itália, Inglaterra e Suíça. Ele deve sua formação aos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, Neojiba, projeto social do governo estadual, que frequentou entre 2012 e 2017.

"O Neojiba tem histórico de formar jovens talentos com trajetórias semelhantes à de Souza. Alguns deles saem diretamente para o exterior sem passar pela universidade", diz Ricardo Castro, maestro, fundador e atual diretor artístico do Neojiba. "Mas está cada vez mais difícil de eles se estabelecerem sem passar por esses processos de financiamento solidário nesse contexto que o Brasil atravessa, de dólar em alta e ausência de uma política de apoio do governo federal."

Sonho da família

Em condições normais, os pais de Souza não teriam condições de arcar com os estudos do filho no exterior. A situação piorou este ano, quando Juarez e Maria Auxiliadora ficaram desempregados. "Meu pai ficou um pouco preocupado, mas minha mãe está extremamente feliz com essa oportunidade. Esse sonho de me ver estudando fora do país é mais dela do que meu", contemporiza Souza.

Uma vez em Bruxelas, Souza estará imerso em um ambiente repleto de erudição e tradição. O Conservatório Real de Bruxelas foi fundado em 1832, durante o Primeiro Império Francês. A sua biblioteca possui um acervo de mais de 250 mil títulos, além de 13 mil manuscritos de partituras, cartas de compositores, bandas magnéticas e livretos originais de ópera.

Ao frequentar a escola, Souza vai habitar o mesmo espaço frequentado por violinistas como Charles-Auguste de Bériot, Henri Vieuxtemps, Henryk Wieniawski, Arthur Grumiaux, Mathieu Crickboom e Sigiswald Kuijken.

Além disso, entre professores e alunos, já passaram pela instituição o inventor do saxofone, Adolphe Sax, o violinista Eugène Ysaÿe, que foi professor da rainha Elizabeth, o compositor Isaac Albeniz, além de Rieu.

Encontro com "hermano"

É nesta instituição secular que Souza reencontrará um velho conhecido dos tempos de faculdade em Salvador: o argentino Juan Braceras, um dos responsáveis por sua admissão, e que atuará como professor assistente do violinista Naaman Sluchin.

"Quando soube que este ano as admissões seriam online por causa da pandemia, contatei o professor Alexandre Casado, da UFBA [Universidade Federal da Bahia], para saber se ele teria algum aluno interessado em estudar fora. Ele indicou Souza", declarou Braceras. "Tanto eu quanto Sluchin ficamos felizes em ouvir um jovem de grande sensibilidade e intuição, mas também com inteligência musical para se colocar com respeito ao que está escrito na partitura."

Para seu teste, o jovem escolheu a "Sonata para Violino de Ysaye Número 3 - Ballade", classificada por Braceras como "peça bastante desafiadora e de escritura refinada".

Segundo o professor, as jornadas do violinista serão "intensas", com aulas de história da música, música de câmara, contraponto, piano, orquestra, harmonia e instrumento, todas ministradas em inglês. Em Bruxelas, serão mais quatro anos de aperfeiçoamento no instrumento, aos quais ele pretende acrescentar mais dois anos de mestrado.

Como o ano letivo começa em 21 de setembro, Souza corre para levantar o dinheiro. "É só para dar o tempo necessário de eu me estabelecer e arranjar um emprego", declarou ao UOL o morador do bairro do Engelho Velho da Federação, em Salvador.