Médicos questionam eficácia da testagem de professores para covid-19 em SP
Desde segunda-feira, 5, a prefeitura de São Paulo tem feito testes de covid-19 em profissionais da educação. Já nos primeiros dias, a ação ficou marcada por aglomerações, falta de kits de coleta e reclamações do sindicato sobre o tipo de teste aplicado.
Auxiliar técnica de educação, Jaqueline Sales fez o teste no primeiro dia. O exame estava marcado para 11h, mas com a aglomeração, ela só conseguiu sair do CEU Perus depois das 12h30. "Estou trabalhando presencialmente na EMEF e, mesmo com todos os cuidados, o risco é iminente. Então, decidi fazer o teste."
Jaqueline conta que se desloca todos os dias de Franco da Rocha para Perus, na zona norte, com transporte público. "Em outubro de 2020, quando testamos, foi na escola, bem mais rápido, organizado e menos arriscado", relata.
Ao UOL, a prefeitura explicou que a ação é uma parceria entre as secretarias municipais da Educação e da Saúde, e tem o objetivo de fazer um mapeamento para apoiar nas ações no combate à pandemia na rede municipal de ensino. O município adotou a testagem sorológica, criticada pelo Sindsep (Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública de São Paulo).
Em nota, a gestão Bruno Covas (PSDB) informou que o teste sorológico é indicado para pessoas que estejam assintomáticas. "Caso algum servidor apresente ou relate sintomas no momento da coleta, deve ser encaminhado a uma UBS para avaliação clínica e realização do RT-PCR", explicou.
Após coletadas, as amostras são enviadas à UBS de referência do CEU (Centro Educacional Unificado), onde estão sendo testados os profissionais, e analisadas pelos laboratórios municipais. A previsão para a divulgação do resultado é de 72 horas úteis, segundo a prefeitura.
Doutora em Ciências da Saúde e professora adjunta de Saúde Coletiva da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), Maria Aparecida Patroclo avalia que a medida adotada não é a mais acertada.
"Ter a sorologia não reagente não significa não ter tido contato com o vírus, pois sabemos que formas leves e assintomáticas podem não produzir a imunoglobulina como resposta. Ter a imunoglobulina não significa ter proteção, pois depende da presença de anticorpos neutralizantes ou da defesa celular", explica.
Para apoiar nas medidas sanitárias, a epidemiologista sugere que haja um monitoramento coordenado dos profissionais após a testagem. Nele, a categoria deveria comunicar em até "24 horas o início de qualquer sintoma respiratório ou gastrointestinal para isolamento imediato, quarentena dos contatos domiciliares e afetivos, e realização do exame RT-PCR após 72 h".
O conselho é reforçado pelo médico epidemiologista da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Eduardo Martins Netto, que reforça que a testagem não tem uma resposta individual, mas, sim, traz uma porcentagem de um perfil da população, neste caso, os profissionais da Educação.
Para embasar a sugestão, usa como exemplo o caso de Manaus. "No momento da testagem, 60% das pessoas testadas tinham anticorpos, o que era muito provável e que chamamos de bloqueio de rebanho", afirma. No entanto, eventualmente as pessoas apresentaram uma queda nesses anticorpos, o que ocasionou a segunda onda na capital do Amazonas.
"Os estudos científicos ainda não tem consenso se o IgG na covid-19 dura meses e depois desaparece, ou quantos meses dura. Tudo isso dificulta os mapeamentos subsequentes, pois posso encontrar uma taxa menor de portadores de IgG em relação aos mapeamentos anteriores, e isso foi visto no projeto EpiCovid", explica a médica epidemiologista Maria Aparecida Patroclo.
Os testes são uma recomendação da gestão de Bruno Covas (PSDB) para o retorno presencial das aulas, previsto para acontecer na próxima segunda-feira, dia 12, caso a fase emergencial não seja prorrogada pelo governo estadual.
Por telefone, a Secretaria Municipal da Saúde informou que a testagem é uma das ações para o retorno presencial das aulas, mas que, caso ele não aconteça, os resultados dos testes ainda sim servirão para o mapeamento de ações.
Vacinação dos professores começa no dia 12
Segundo anúncio do governador João Doria (PSDB) em março, profissionais da educação das redes municipal, estadual e particular de São Paulo com mais de 47 anos receberão a primeira dose da vacina contra covid-19 a partir de segunda-feira, 12.
Os profissionais devem fazer um cadastro no site Vacina Já e, após receber uma autorização por e-mail, devem comparecer ao local de vacinação. Os municípios terão autonomia para escolher local e horário.
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