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Irmã Dulce: conheça a história de vida e os milagres da 1ª santa brasileira

Em 13 de agosto, é comemorado o Dia da Santa Dulce dos Pobres (Irmã Dulce) - Anthony Roywoley/OSID/Divulgação
Em 13 de agosto, é comemorado o Dia da Santa Dulce dos Pobres (Irmã Dulce) Imagem: Anthony Roywoley/OSID/Divulgação

Matheus Adami

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/08/2021 04h00Atualizada em 17/05/2022 18h35

A primeira santa genuinamente brasileira tem seu dia comemorado nesta sexta-feira (13). Trata-se de Irmã Dulce, a Santa Dulce dos Pobres. Canonizada pelo papa Francisco em 13 de outubro de 2019, a religiosa baiana foi a última pessoa do Brasil a ganhar o título de santa na Igreja Católica.

No total, o país tem 37 santos e santas. Estão na lista nomes como São Frei Galvão, canonizado em 2007, e Santa Paulina —que foi canonizada em 2002, mas nasceu na cidade de Vigolo Vattaro, na Itália. Portanto, cabe à Irmã Dulce o título de primeira mulher brasileira a receber a honraria.

Conheça mais sobre a história do "Anjo Bom da Bahia":

Quem foi a Irmã Dulce?

Nascida em Salvador, em 26 de maio de 1914, a futura Santa Dulce dos Pobres foi batizada como Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes. Desde jovem, já demonstrava inclinação à vida religiosa e ao auxílio dos pobres. Em 1933, foi aceita como noviça na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão, no estado de Sergipe.

Em 13 de agosto de 1933, a futura santa fez a profissão de fé e, enfim, se tornou freira —daí nasce sua data litúrgica. Escolheu o nome de Irmã Dulce, em homenagem à mãe, Dulce Maria de Souza Brito, morta quando a freira tinha apenas sete anos. No ano seguinte, a agora chamada Irmã Dulce voltou à capital da Bahia, onde teve a missão de ser professora.

A ajuda aos pobres foi a tônica da vida da religiosa. Um episódio, em especial, se destaca na vida de Irmã Dulce: em 1949, sem ter onde abrigar cerca de 70 pessoas doentes que recolhia das ruas, a futura santa transformou o galinheiro do convento de Santo Antônio em um abrigo. O lugar, em 1960, se transformou no Hospital Santo Antônio, um dos maiores do Nordeste brasileiro.

"O fato de ela ser a primeira santa legitimamente brasileira é motivo de orgulho. Mas creio que o que deve estar acima do fato de ser brasileira é o fato de ser santa, ou seja, o fato de ter buscado viver na radicalidade do Evangelho, principalmente no cuidado aos pobres. Não é à toa que ela é chamada de Anjo Bom da Bahia", diz Dayvid da Silva, professor e coordenador do curso de Teologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

O Anjo Bom da Bahia viveu até os 77 anos, morrendo em 13 de março de 1992, em Salvador.

"Irmã Dulce foi uma grande pioneira. Ela fez tudo isso em uma época em que a mulher era marginalizada e foi missionária, colocou a religião nas ruas. Ela se tornou um exemplo de fé pela espiritualidade, pela obediência e também pelo trabalho missionário, numa época em que as mulheres ficavam reclusas nos conventos. Ela levou o que aprendeu para uma prática de solidariedade", diz Felipe Cosme Damião Sobrinho, padre e professor na faculdade de teologia da PUC-SP.

Milagres de Santa Dulce dos Pobres

Irmã Dulce foi considerada venerável —uma das etapas que antecedem a canonização— em 2009. Dois anos depois, foi beatificada.

Para a canonização, são necessários que se comprovem milagres atribuídos ao "candidato" santo. No caso de Irmã Dulce, o primeiro deles foi a cura de Claudia Cristina dos Santos, que teve hemorragia após dar a luz ao filho, em 2001. Em estado gravíssimo, Claudia teria recebido a visita de um padre devoto de Dulce e se curou durante orações a ela. O ato divino foi reconhecido pelo Vaticano em 2010.

O segundo e derradeiro milagre que ratificou a canonização de Irmã Dulce foi a cura do músico José Maurício Moreira. Em 2014, ele voltou a enxergar depois de 14 anos, após pedir à Irmã Dulce que aliviasse as dores de uma conjuntivite. No dia seguinte, teria voltado a enxergar. Em maio de 2019, a cura milagrosa foi reconhecida e, assim, Dulce estava apta a ser canonizada, o que ocorreu em 13 de agosto de 2019.

A santa tem diversos episódios destacados durante a vida. Além de perder a mãe muito jovem, em 1955, correu o risco de perder a irmã —que também se chamava Dulce— por complicações no parto. A religiosa, então, fez uma promessa: se a irmã sobrevivesse, ela passaria a dormir sentada. E assim o fez, dormindo em uma cadeira de madeira entre 1956 e 1985.

A futura santa só voltou a dormir em uma cama por conta de problemas de saúde. Dulcinha, a irmã da promessa, faleceu em 2006. Em 1988, Irmã Dulce ganhou o mundo ao ser indicada ao Prêmio Nobel da Paz graças a seu trabalho com os pobres.

Irmã Dulce é a 37ª santa do Brasil

Santa Dulce dos Pobres foi a 37ª e última pessoa do Brasil ou com relações com o país a ser canonizada. Os primeiros a serem canonizados foram o paraguaio Roque González de Santa Cruz e os espanhóis Afonso Rodriguez e Juan de Castillos. Conhecidos como "mártires do Rio Grande do Sul", o trio foi canonizado em 16 de maio de 1988, pelo papa João Paulo 2º.

Em 19 de maio de 2002, foi a vez de Santa Paulina. Em 11 de junho de 2007, o primeiro brasileiro nato se juntou ao "grupo" de santos: São Frei Galvão, nascido em Guaratinguetá, no interior de São Paulo.

A partir de 2014, a lista de santos brasileiros ganhou um acréscimo considerável. Em 3 de abril daquele ano, o espanhol José de Anchieta —figura conhecidíssima nos livros de história como um dos jesuítas que atuaram no país durante a colonização— virou santo.

E, em outubro de 2007, 30 pessoas foram canonizadas de uma só vez. Tratam-se dos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, grupo composto por 25 homens e cinco mulheres mortos no Rio Grande do Norte em 1645 a mando de holandeses. Por serem um grupo e nem todos os nomes serem conhecidos, o Vaticano considera Irmã Dulce a primeira santa de fato brasileira.

O professor Dayvid da Silva explica sobre o Brasil ter, relativamente, poucos santos: "Durante muito tempo, na igreja, os santos eram canonizados por aclamação. Por causa de sua vida as pessoas os tinham como santos. Não havia todo esse processo que há hoje em dia. E, como o Brasil é um país que, do ponto de vista cristão tem seus 500 anos, é um tempo muito recente".

Oração à Santa Dulce dos Pobres

Confira a oração à Santa Dulce dos Pobres:

"Senhor nosso Deus,

lembrados de vossa filha,

a Santa Dulce dos Pobres,

cujo coração ardia de amor por vós e pelos irmãos,

particularmente os pobres e excluídos,

nós vos pedimos:

dai-nos idêntico amor pelos necessitados;

renovai nossa fé e nossa esperança

e concedei-nos, a exemplo desta vossa filha,

viver como irmãos,

buscando diariamente a santidade,

para sermos autênticos discípulos missionários

de vosso filho Jesus.

Amém".