Pesquisadora: Ensino digital preocupa por ser nova forma de desigualdade
Tracey Burns, chefe de pesquisa do Centro de Pesquisa e Inovação Educacional da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), bloco que convidou o Brasil a dar início ao processo formal de adesão ontem, avaliou, em entrevista ao Jornal O Globo, que a entrada do digital com mais força na educação em razão da pandemia do coronavírus "é uma nova forma de fratura social, de desigualdade na escola".
Apesar de avaliar que se trata de uma boa mudança, já que o mundo se encaminha para um patamar em que o digital é indispensável, Burns ressaltou que há risco de exclusão.
"Minha preocupação é que algumas vezes a mudança é superficial, não são bem adaptadas e ainda é possível ver diferenças entre as crianças que têm essas habilidades, com bons professores e equipamentos, e aquelas que lutam com professores que também não têm as habilidades, sem ferramentas. É uma nova forma de fratura social, de desigualdade na escola", afirmou ela.
A pesquisadora vê ainda que a educação "ficará mais confortável com o digital", não com 100% do processo sendo realizado digitalmente, mas com novas formas de estudar e novas plataformas sendo adotadas. "Acho que muitas pessoas entenderam que a escola é uma importante instituição social."
Questionada se é possível prever os impactos da pandemia da covid-19 no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), principal avaliação da educação básica no mundo, Burns disse não saber.
A prova exige competências como compreensão de leitura, entendimento de conceitos matemáticos e de fenômenos científicos.
Existem algumas possibilidades interessantes. Uma é que a gente veja os mesmos resultados. Se você olhar para os países com melhores notas, são os asiáticos, que foram muito impactados pela covid, mas conseguiram controlar a pandemia relativamente bem e seguir em frente enquanto o mundo ainda tinha problemas. E também tem países como Estônia, Nova Zelândia e Canadá, que foram muito bem, e lideram os rankings. Por outro lado, temos o exemplo da Suécia, cujo sistema de saúde decidiu fingir que não havia uma doença nova, deixou as escolas abertas o tempo todo e, se eles forem muito bem, esse pode ser um argumento de que manter as escolas abertas normalmente foi um acerto. Mas honestamente não sei o que pode acontecer Tracey Burns, em entrevista ao jornal O Globo
Para ela, no entanto, é claro que a desigualdade pode aumentar, não só entre países, mas também dentro dos países. "Nós já sabemos por antigos resultados do Pisa que crianças entre países e dentro dos países que menos têm acesso são as que menos têm as habilidades e as que menos têm pais que podem ajudá-las se tiverem problema. Estou muito preocupada com esse aumento da desigualdade."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.