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Do Municipal para a periferia: os cem anos da Semana de Arte Moderna de 22

Catálogo de exposição da Semana de 1922 - Reprodução
Catálogo de exposição da Semana de 1922 Imagem: Reprodução

Murilo Matias

Colaboração para o UOL

11/02/2022 04h00Atualizada em 11/02/2022 14h41

Uma semana que já dura bem mais do que sete dias. A Semana de Arte Moderna de 1922, sediada na cidade de São Paulo entre 13 e 17 de fevereiro daquele ano, atravessa um século destacada como um dos eventos centrais realizados no campo das artes e da cultura nacional.

O contexto político social marcava o fim da Primeira Guerra Mundial e o período da República Velha no Brasil, sintetizado pelo domínio das elites e pela visão de que as questões sociais eram tema de polícia, conforme preconizava um dos presidentes da época.

O conservadorismo se refletia em grande parte das manifestações artísticas, razão pela qual as inovações musicais de Heitor Villa-Lobos e suas orquestras com tambores, as provocações literárias de Mário de Andrade ou os quadros explorando diversas formas e linguagens de Tarsila do Amaral foram considerados fora do padrão, ensejando no país o que se definiria como modernismo.

"O Brasil era considerado no início do século 20 um país sem tradição cultural, apropriando-se de ideias sobretudo da Europa e mais especialmente da França, considerada a capital da arte naqueles anos", observa Eduardo Vieira da Cunha, professor do Instituto de Artes da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e doutor pela Universidade de Sorbonne, em Paris.

A oposição a essa mentalidade colonial expressou-se em trabalhos artísticos da Semana, mas esbarrou em limites ao ter em seus protagonistas nomes ligados às elites econômicas de então.

"O movimento esteve longe de uma manifestação de caráter popular, embora haja uma aproximação, mais tarde, de Mário de Andrade com Macunaíma e seus estudos sobre o folclore brasileiro", observa Cunha, que cita autores como João do Rio e Lima Barreto, contemporâneos ao modernismo e ambos do Rio de Janeiro, como expoentes de uma literatura original e transgressora.

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Se a falta de diversidade racial e regional entre os participantes da Semana, majoritariamente composta por homens brancos, não romperia o verniz elitista vinculado aos meios e valores culturais, colocaria definitivamente em circulação o debate acerca de uma identidade nacional, amplamente transformada ao longo do tempo. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) surge na esteira desse legado.

Um século depois, as comemorações pela Semana trazem novas perspectivas transitando do Teatro Municipal às periferias, envolvendo novos ambientes, públicos e atrações.

"Em 1922, quem apresentou o modernismo foi a classe intelectual. Hoje, cem anos depois de os modernistas reivindicarem arte verdadeiramente nossa, quem apresenta o modernismo é a periferia pujante", afirma Aline Torres, secretária de Cultura de São Paulo.

"Não precisa ser da academia para desenvolver cultura. A cultura da periferia exala nos poros, e não só nos livros", ela defende.

No início do século 20, a Semana festejava o centenário da independência do Brasil. Nos anos 2000, outras fronteiras e espaços surgem no caminho da independência cultural do país. A seguir, sugestões de livros sobre o tema.

Semana de 22: Antes do começo, depois do fim - José De Nicola

Preço: R$ 60,33*

Semana de 22: Antes do começo, depois do fim - José De Nicola - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

A obra proporciona análises inéditas sobre as repercussões do evento considerado central na história cultural brasileira a partir do questionamento de padrões até então considerados intocáveis. As páginas pontuam acontecimentos transcorridos durante a Semana, assim como momentos dos bastidores protagonizados pelos artistas que participaram do movimento. Editora Estação Brasil.

Tarsila: sua obra e seu tempo - Aracy A. Amaral

R$ 61,84*

Tarsila: sua obra e seu tempo - Aracy A. Amaral - Divulgação - Divulgação
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Vanguardista no terreno da cultura e do comportamento, Tarsila (que não esteve na Semana) destacou-se nas artes visuais, na literatura e por suas posições, conforme indicam as fontes e os depoimentos consultados pela autora do livro. São esses aspectos sublinhados pela obra, que é considerada um dos mais importantes ensaios críticos sobre a biografada, referência do modernismo. A edição traz mais de 300 ilustrações. Editora 34.

Modernidade em preto e branco: Arte e imagem, raça e identidade no Brasil, 1890-1945 - Rafael Cardoso

Preço: R$ 87,12*

Modernidade em preto e branco: Arte e imagem, raça e identidade no Brasil, 1890-1945 - Rafael Cardoso - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O livro oferece uma releitura radical do modernismo, destacando aspectos relacionados à formação das primeiras favelas, ao Carnaval e a outras expressões de teor popular da época. As páginas, ilustradas com uma centena de imagens, contextualiza o movimento e suas composições em diferentes classes sociais e regiões do país a partir de ampla pesquisa desenvolvida pelo autor. Editora Companhia das Letras.

22 por 22 - A Semana de Arte Moderna Vista Pelos Seus Contemporâneos - Maria Eugenia Boaventura

Preço: R$ 47,36*

22 por 22 - A Semana de Arte Moderna Vista Pelos Seus Contemporâneos - Maria Eugenia Boaventura - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

A edição apresenta uma coletânea de textos publicados originalmente em jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro ao longo de 1922, ano de realização da Semana. Os artigos selecionados ajudam a entender os debates e a recuperar as polêmicas envolvendo escritores, artistas, críticos, jornalistas, entre os quais Oswald e Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Plínio Salgado e Lima Barreto. Editora Edusp.

Em busca da alma brasileira - biografia de Mário de Andrade - Jason Tércio

Preço: R$ 46,79*

Em busca da alma brasileira - biografia de Mário de Andrade - Jason Tércio - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Lançado em meio às celebrações pelos 70 anos da morte de Mário de Andrade, o livro utiliza documentos obtidos em primeira mão, além de revisitar extensa bibliografia envolvendo o biografado. As mais de 500 páginas propiciam ao leitor a reconstituição do contexto histórico ao qual o escritor e poeta esteve ligado durante toda sua vida pessoal e profissional. Editora Estação Brasil.

Semana de 22: entre vaias e aplausos - Marcia Camargos

Preço: a partir de R$ 40*

Semana de 22: entre vaias e aplausos - Marcia Camargos - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O livro parte de uma indagação: por que continua despertando interesse um evento que acarretou um prejuízo considerável a seus organizadores, foi difamado por boa parte da imprensa da época e recebeu mais vaias que aplausos? As explicações sobre a relevância do momento em forma de texto são complementadas por fotos e ilustrações dos principais personagens e fatos da Semana. Editora Boitempo.

Villa Lobos, Alma Brasileira - Marisa Schargel Maia

Preço: R$ 20*

Villa Lobos, Alma Brasileira - Marisa Schargel Maia - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Vaiado e aplaudido na Semana pela novidade que representava sua música, o biografado notabilizou-se por criar mais de mil composições, mesclando elementos clássicos com ritmos indígenas e músicos populares de diferentes partes do Brasil. Heitor Villa-Lobos ainda concebeu um audacioso programa de educação musical, permitindo a formação de centenas de professores. Editora Contraponto.

Itinerário de uma falsa vanguarda: os Dissidentes, a Semana de 22 e o Integralismo - Antonio Arnoni Prado

Preço: R$ 40,72*

Itinerário de uma falsa vanguarda: os Dissidentes, a Semana de 22 e o Integralismo - Antonio Arnoni Prado - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

A edição oferece ao leitor uma densa contextualização acerca da cultura brasileira e qualificada crítica literária sobre diversas correntes que, de alguma maneira, relacionaram-se com a Semana da Arte e o modernismo. O ensaio de quase 300 páginas põe sob destaque autores pouco analisados, expondo ainda as ligações entre literatura e política na época da República Velha. Editora 34.

*Os preços e a lista foram checados no dia 11 de fevereiro de 2022 para atualizar esta matéria. Pode ser que eles variem com o tempo.

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