Topo

Esse conteúdo é antigo

O que foi Babi Yar, massacre de judeus citado pelo presidente da Ucrânia

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

01/03/2022 15h43Atualizada em 01/03/2022 15h48

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, criticou nesta terça (1º) a suposta omissão do restante do mundo em meio a um novo ataque da Rússia, este a uma torre de TV, que deixou ao menos cinco mortos em Kiev. Em uma rede social, Zelensky citou o massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, em meio à ocupação nazista da capital ucraniana.

O massacre dos judeus de Kiev aconteceu há pouco mais de 80 anos, em setembro de 1941, durante a chamada Operação Barbarossa. Iniciada meses antes, em 22 de junho daquele ano, a ação contava com cerca de 3,6 milhões de soldados alemães e tinha como objetivo:

  • destruir o bolchevismo soviético, ideologia oposta e adversária à ideologia nazista;
  • tomar a parte ocidental da antiga União Soviética para que ela pudesse ser repovoada pelos alemães;
  • usar os povos eslavos como força de trabalho escravo na guerra;
  • aproveitar as reservas de petróleo do Cáucaso (região entre o Mar Negro e o Mar Cáspio), além dos recursos agrícolas dos territórios soviéticos.

Ao mundo: qual é o sentido de dizer 'nunca mais' por 80 anos se o mundo permanece em silêncio quando uma bomba cai no mesmo lugar onde aconteceu Babi Yar? Ao menos cinco pessoas foram mortas. A história se repete...
Volodimir Zelensky, no Twitter

As tropas alemãs foram divididas em três grupos: o de Exércitos do Norte, enviado por Hitler para Leningrado (hoje São Petersburgo); o de Exércitos do Centro, que foi para a região de Moscou; e o de Exércitos do Sul, enviado em direção a Kiev e, mais tarde, para Stalingrado (hoje Volgogrado).

Pouco antes de ser invadida, Kiev era habitada por cerca de 200 mil judeus, o que correspondia a 20% da população local. Com o avanço dos nazistas na União Soviética, porém, a maior parte desta população se mudou para o leste. Os que ficaram acabaram se tornando alvo dos nazistas.

O massacre de Babi Yar foi, para os nazistas, uma forma de resposta aos bombardeios contra os prédios usados pelos alemães na cidade — ainda que esses ataques tenham partido de membros da NKVD, a polícia secreta soviética, e não dos judeus. Na ocasião, os nazistas espalharam a seguinte mensagem em Kiev:

Ordena-se a todos os judeus residentes de Kiev e suas vizinhanças que compareçam à esquina das ruas Melnyk e Dokterivsky, às 8h de segunda-feira, 29 de setembro de 1941, portando documentos, dinheiro, roupas de baixo, etc. Aqueles que não comparecerem serão fuzilados. Aqueles que entrarem nas casas evacuadas por judeus e roubarem pertences destas casas serão fuzilados.

Cerca de 33 mil judeus atenderam à ordem nazista e compareceram ao local indicado. Todos foram fuzilados. Ao longo de 36 horas de massacre, os corpos foram sendo enviados à ravina de Babi Yar — uma espécie de barranco ou desfiladeiro —, também em Kiev. As vítimas ficaram empilhadas umas em cima das outras.

Estatísticas de autoridades nazistas apontam que 33.771 judeus foram assassinados na ocasião, no que hoje é considerado um dos maiores massacres ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial.

Quase toda a população judaica da capital ucraniana foi exterminada no massacre de Babi Yar. A maioria era composta por idosos, mulheres e crianças, uma vez que os homens estavam lutando na guerra.

Os fuzilamentos na ravina, onde as vítimas eram enterradas sob uma fina camada de terra, continuaram pelos próximos dois anos. Também foram executados membros das etnias sinti e roma, pessoas com transtornos mentais e prisioneiros de guerra. Ao todo, mais de 100 mil pessoas, incluindo cerca de 70 mil judeus, foram assassinadas em Babi Yar até a retirada das tropas nazistas, em 1943.

No ano passado, o massacre de Babi Yar completou 80 anos. O presidente ucraniano Volodimir Zelensky (foto abaixo, à esq.) participou das homenagens, em 29 de setembro.

Babi Yar - Divulgação/Governo da Ucrânia/AFP - Divulgação/Governo da Ucrânia/AFP
Monumento em Kiev homenageia as vítimas do massacre de Babi Yar, que em 2021 completou 80 anos
Imagem: Divulgação/Governo da Ucrânia/AFP

(Com Deutsche Welle)