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Fuvest 2023: 1ª fase aborda milícia, racismo e gênero; professores comentam

Candidatos concentrados realizam as provas da primeira fase da Fuvest na USP, zona oeste da capital paulista, neste domingo (4) - Alex Silva/Estadão Conteúdo
Candidatos concentrados realizam as provas da primeira fase da Fuvest na USP, zona oeste da capital paulista, neste domingo (4) Imagem: Alex Silva/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

04/12/2022 18h20Atualizada em 05/12/2022 17h03

A prova da primeira fase do vestibular Fuvest 2023, realizada neste domingo (4), trouxe questões que abordaram temas como milícia, racismo, gênero, agronegócio, refugiados e meio ambiente.

Os professores das Escolas SEB e do Objetivo, ouvidos pelo UOL, consideraram a prova difícil e destacaram a escolha de perguntas interdisciplinares, principalmente entre literatura, filosofia, sociologia, geografia, história e biologia. "Não havia um bloco para cada disciplina, as questões estavam dispersas pela prova", disse Fernando Roma, professor de biologia.

Na avaliação de Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora pedagógica do Objetivo, "o que importou foi o conhecimento do candidato, o que ele sabe", disse.

Segundo ela, os textos da prova, no geral, foram longos e com questões "inteligentes e modernas".

O aluno com boa formação gostou da prova, porque entendeu que são questões bem elaboradas, que exigiram raciocínio e preparo"
Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora pedagógica do Objetivo

A Fuvest 2023 tem 114.432 inscritos — e os cursos de medicina em São Paulo, Ribeirão Preto e Bauru são os mais concorridos deste ano. A taxa de abstenção foi de 13,8% (15.835 pessoas), segundo balanço da instituição.

Veja o que dizem os professores sobre as questões de cada disciplina:

Língua portuguesa

Com uma prova "mais curta" para a língua portuguesa, com 13 das 90 questões da prova, o papel da mulher ganhou destaque. Gramática, linguística e interpretação compuseram o exame.

Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos e Fernando Pessoa foram os autores escolhidos nas questões sobre literatura. Sérgio Buarque de Holanda também foi lembrado, em uma questão sobre cultura verdadeiramente nacional. A Anistia Internacional também esteve na prova.

"Apenas três livros foram cobrados na prova. É muito pouco considerando que são nove obras exigidas", disse o professor José Ferreira, de língua portuguesa da SEB.

História, sociologia e filosofia

O professor Breno Carlos da Silva destacou a presença de temas atuais, como questões de gênero e o papel da mulher na história, na prova, que, para ele, foi "bem a cara da Fuvest". As questões "mais tradicionais" também estiveram presentes, mas, "sem muitas dificuldades", disse.

Entre as perguntas consideradas "difíceis", estavam as que abordaram questões sociais. "Uma questão que trazia a inserção das mulheres no mercado de trabalho, no início do século 20, em especial como educar as mulheres para tanto, era uma pergunta mais exigente, que dialogava com história e sociologia".

A temática da segurança pública também foi citada em sociologia. "Tivemos uma questão que trazia o texto de Max Weber, sobre o monopólio da violência na modernidade por parte do Estado, dialogando com o livro "República das Milícias", de Bruno Paes Manso. A problematização era de que a atuação das milícias nas comunidades do Rio de Janeiro ferem e agridem o monopólio legítimo da violência por parte do Estado".

Outro tema tratado foi o racismo. "[Uma questão articulou] o conceito de raça, gênero e classe social, em especial a inserção da população negra fazendo um cotejo com brancos no mercado de trabalho atual, para mensurar as complexas desigualdades e discriminação social contemporânea", disse Breno.

"Outra questão trazia um texto de Jessé Souza, importante sociólogo brasileiro, citando dois autores, o Luc Boltanski e o Ève Chiapello, falando da capacidade do capitalismo atual de engolir a linguagem de protesto e libertação. A discussão era o uso do termo "colaborador" em substituição do conceito de trabalhador", afirmou.

Inglês

Foram oito questões de língua inglesa, com interpretação de texto e vocabulário. "Foram dois textos, com questão de vocabulário com imagem", disse o professor Wagner Borges, da SEB. Com o uso de memes, continua o professor, houve interdisciplinaridade com química e português. "A prova fez com que o candidato faça uma boa interpretação do que está lendo."

O professor Aleksander Brunhara, do curso e colégio Objetivo, destacou o grau de dificuldade da prova de inglês. Em relação ao conteúdo, o destaque foi para a citação do grupo coreano K-Pop. "A prova estava um pouco mais difícil do que ano passado, com texto mais longo e vocabulário mais exigente, com muitas palavras desconhecidas para os alunos."

Geografia

Em geografia, analisa o professor Altieris Lima, da SEB, a prova foi mais "complexa" e também "com muitas questões interdisciplinares".

O destaque, para o professor, foram as questões sobre o meio ambiente: energia limpa e renovável, proteção de mangues, agropecuária brasileira, chuvas ácidas, uso de agrotóxicos e o impacto no meio ambiente.

Ele destacou também que houve duas questões sobre aspectos sociais em África, falando sobre os golpes de estado na região do Sahel, e uma pergunta sobre refugiados.

Matemática

A equipe de matemática da SEB, que conta com os professores Jeferson Petronilho, Frederico Braga e Daniel Lima, diz que a prova deste ano não superou a dificuldade dos anos anteriores e não teve nenhuma surpresa em relação ao conteúdo programático.

"Um fato que chamou a atenção é o estilo de algumas questões que passam a ser de mera interpretação de texto, ou seja, os alunos deveriam simplesmente ler a questão e executar os comandos dados", afirmaram. "Em contrapartida, temas clássicos e costumeiros na prova não apareceram, como: Probabilidade e Trigonometria".

Biologia

Em biologia a prova também foi mais difícil do que nos últimos anos, apontou o professor Fernando Roma, da SEB. "A surpresa foi a politização da prova", disse. Com temas mais atuais, como evolução e genética, a prova também trouxe temas clássicos, como pesca e o aquecimento global.

Física

Para os professores Anderson Fernandes e Thiago Veloso, da SEB, a prova de física foi a mais difícil dos últimos anos, em razão da exigência de interpretação de texto.

"Algumas perguntas foram mais rápidas, que eram só olhar os valores na tabela, mas em outras tivemos questões de dificuldade para entender a abordagem necessária", disse o professor Anderson.

"Aprova trazia as fórmulas, para os alunos concentrarem os esforços na interpretação e não com as contas delicadas", afirmou.

Já, na avaliação do professor Thiago, as provas não foram trabalhosas no ponto de vista matemático, mas concordou que a interpretação trouxe a dificuldade. "É um problema para o aluno que não leu com o note e adote e perceber a questão."

Química

O professor Rener Ribeiro, da SEB, definiu a prova de química como "interpretativa com um pouco de conceito" e com grau médio de dificuldade. Assuntos clássicos, como tabela periódica, não foram trazidos esse ano.

"Com o conceito e interpretação o aluno conseguiria se dar muito bem", disse o professor de química.