Prouni: Sem aumento na bolsa, aluna de medicina vira garçonete e cartomante
Em seu tempo livre, a estudante de medicina Sheylla Santos, 21, precisa trabalhar como garçonete ou cartomante para complementar a renda. Bolsista integral do Prouni, ela recebe um auxílio de R$ 400 do governo federal, mas diz que o valor não é suficiente para pagar as contas.
Quando criaram a bolsa, falaram que o intuito era amenizar as desigualdades e trazer mais equidade. Na condição que estou é nitída a diferença para meus colegas de sala. Fico pensando mais à frente...como vou conseguir dar conta? Cada período tem sido mais difícil."
O benefício para bolsistas do Prouni —chamado de bolsa permanência— foi criado em 2012 e desde então não teve aumento, nem reajuste pela inflação.
Procurado pelo UOL, o MEC informou que o valor da bolsa deve ser equivalente ao praticado na iniciação científica —que é definido pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações). "O governo federal estuda o possível reajuste", complementou o MCTI, sem dar prazo ou maiores detalhes.
Para receber a verba, além de ter uma bolsa integral do Prouni, os estudantes precisam:
- cursar no período integral;
- fazer parte de uma família com a renda per capita até 1,5 salário mínimo.
Sheylla mora em Teresina, onde fica sua faculdade. Com os gastos básicos do mês, as contas chegam a quase R$ 1,1 mil. Os horários variados de suas aulas diminuem as chances de a estudante conseguir um emprego com carteira assinada.
"Eu não tinha aula à noite de segunda, então pegava esses dias como garçonete. Mas é péssimo ficar até 1h da manhã e no outro dia ter aula. Como cartomante consigo trabalhar nas horas livres", conta a estudante.
Para diminuir os gastos, ela troca o almoço por um salgado várias vezes na semana. E está pensando em voltar para Timon (MA) e morar com a família —nesse caso, passaria mais de duas horas por dia no deslocamento.
"Fico bem dividida", relata. "Para uma melhor qualidade de vida seria bom morar perto da faculdade, mas não consigo me manter em Teresina."
Ajuda dos pais. Os estudantes Eduardo Souza Dourado e Pedro Henrique Nalon também passam perrengues para dar conta dos gastos mensais.
Dourado cursa medicina no Acre e sua família mora no interior da Bahia. Ele afirma que o dinheiro que recebe como auxílio do governo não cobre nem metade de suas contas.
Muitas vezes não sabia se o dinheiro daria para pagar o aluguel, precisei pedir emprestado para meus amigos, entrar no cheque especial."
Nalon entrou ano passado no curso, mas também já enfrentou dificuldades. Ele conta que usa o benefício para pagar seu aluguel e o restante das contas "seus pais ajudam como pode."
Moro com mais duas pessoas em um apartamento pequeno, ainda não tenho lugar nem para guardar as roupas."
Mutirão nas redes sociais. Desde que Camilo Santana assumiu o MEC, eles e outros alunos usam um grupo no WhatsApp para se organizarem e combinarem comentários nas publicações do ministro e da secretária-executiva, Izolda Cela.
"É muito importante esse reajuste", diz Nalon. "Como o curso é integral, não temos como trabalhar. Isso pode causar muita evasão."
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