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D. Pedro no cavalo? Tem muita coisa que é mito no quadro da Independência

Independência ou Morte, quadro de Pedro Américo completado em 1888 Imagem: Universal Images Group via Getty

Matheus Brum*

Colaboração para o UOL

07/09/2023 04h00

O célebre quadro de Pedro Américo que representa a Independência do Brasil não é 100% fidedigno ao que aconteceu em 7 de setembro de 1822, às margens do Ipiranga — segundo pesquisadores.

A história conta que D. Pedro 1º, às margens do rio Ipiranga, declarou que o Brasil seria um Estado independente. E que neste momento bradou: "Independência ou Morte".

A imagem que retrata o momento histórico foi finalizada apenas em 1888, a pedido de D. Pedro 2º, filho de D. Pedro 1º. Na pintura, em exposição no Museu do Ipiranga, aparece o primeiro imperador do Brasil sobre um cavalo, de espada erguida, ao lado de dezenas de homens.

Passados dois séculos, as concepções da Independência do Brasil mudaram. O UOL traz alguns pontos importantes sobre a representação deste momento histórico.

Às margens do Ipiranga

A Independência realmente foi proclamada às margens do Ipiranga. E há relatos de que a célebre frase "Independência ou Morte" realmente foi dita.

Tinha cavalo? D. Pedro estava em São Paulo, voltando de Santos, no litoral, para conter manifestações e acalmar os ânimos dos descontentes com o então cenário político. Segundo testemunho do padre Belchior Pinheiro, que integrava a comitiva, D. Pedro recebeu de mensageiros uma série de cartas que o deixaram com raiva. Ele amarrotou os papéis, pisou sobre eles e os deixou na relva —então não estava sobre o cavalo.

Viagens eram feitas de outro modo. Segundo a historiadora e escritora Lilia Schwarcz, em entrevista ao Jornal Nacional no bicentenário da Independência, Pedro Américo sabia que o príncipe não estava montado em um cavalo porque viagens de longa distância eram vencidas em lombo de burro. Além disso, disse ela, o terreno na região não era tão elevado — mas, para elevar a cena, a pintura colocou D. Pedro no alto de uma colina.

D. Pedro não estava vestido como um príncipe real e sim como um tropeiro, segundo o jornalista Laurentino Gomes, autor do livro 1822, que revela o cenário político no Brasil de D. Pedro.

Tinha guarda? A guarda de honra, que faz um semicírculo ao redor de D. Pedro no quadro, não existia na época, conforme Laurentino Gomes.

É mito que a Independência do Brasil foi pacífica. Ao contrário do imaginário consolidado, houve derramamento de sangue e confrontos em várias partes do território brasileiro, do Pará à província Cisplatina, atestam historiadores contemporâneos.

Um processo

A Independência do Brasil foi um processo construído. À época, D. Pedro 1º sofria forte pressão de Portugal para retornar à metrópole, após uma série de medidas que abriu o Brasil economicamente e alçou o país à condição de Reino, ao lado de Portugal e Algarves.

O contexto era de impasse. Os portugueses queriam restringir a liberdade econômica brasileira e retornar o país à condição de colônia, além de diminuir os poderes de D. Pedro, forçando-o a retornar à Europa.

É um episódio que corresponde ao fim do domínio português sobre o Brasil, principalmente nas relações econômicas e política. Um dos mais importantes da história do país.
Luciene Carris, historiadora, em entrevista ao site da Assembleia Legislativa de São Paulo

Importância de Leopoldina

Pouco destacada, D. Maria Leopoldina, esposa de D. Pedro, e primeira imperatriz brasileira, teve importância fundamental na Independência do Brasil. Pertencente à Família Habsburgo, uma das mais importantes da Europa, casou-se com Pedro em um acordo que tinha como objetivo expandir a influência da família para o "Novo Mundo".

Conselho de proclamação. Em agosto de 1822, Leopoldina assumiu como regente do Brasil enquanto D. Pedro viajava para São Paulo. É ela que, em 2 de setembro, envia uma carta ao então príncipe regente e o aconselha a proclamar a Independência do Brasil.

José Bonifácio, o 'patriarca da Independência'

Outro nome importante na construção da Independência do Brasil é o de José Bonifácio de Andrada e Silva. Ele era um dos homens mais próximos de D. Pedro 1º e D. Maria Leopoldina em 1822. A ele é dada a alcunha de "Patriarca da Independência".

Bonifácio era um homem complexo, que articulou a Independência por meio das elites brasileiras. Essa é a interpretação da historiadora Mary del Priore, que escreveu a obra "As vidas de José Bonifácio", uma biografia sobre ele.

* Com informações de reportagens publicadas em 2022 e 2015; e com agência Deutsche Welle.

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