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Nordeste tem 6 em cada 10 cidades com mais avanços na educação, diz estudo

Imagem: Alyne Pinheiro/Secretaria de Educação de Pernambuco

Do UOL, em São Paulo

26/03/2024 16h00

Mais de seis em cada dez municípios que mais avançaram no Ioeb (Índice de Oportunidades da Educação Brasileira) 2023 ficam na região Nordeste (67%). Os dados são da organização Roda Educativa, antiga Comunidade Educativa Cedac, que faz a gestão do indicador, e são relatívos à comparação com 2019 — ou seja, antes da pandemia de covid.

O que aconteceu

O Ceará fica em destaque com 70 municípios entre os 500 com maiores avanços no indicador. O levantamento aponta que outros estados do Nordeste também registraram bons resultados — como Pernambuco, que manteve a classificação mais alta, chamada de "otimizado" no pós-pandemia.

Essa classificação é para estados que oferecem mais oportunidades educacionais e que registraram avanço significativo na comparação com a série histórica. A organização analisa informações de governos estaduais e municipais. "[São] municípios que demonstram crescimento mais expressivo no quadriênio 2019-2023, acima de 4,3%", afirma a organização.

O Norte é responsável por 13% dos 500 municípios que mais avançaram; o Centro-Oeste, 7%. No entanto, há estados nessas regiões que se destacaram como Mato Grosso, que saiu de "atenção" para "otimizado". A primeira classificação se refere aos casos em que houve pouco crescimento de 2019 para 2023 ou até mesmo recuaram na comparação com o período pré-pandemia.

O Sudeste reúne apenas 3% dos 500 municípios que mais avançaram e o Sul, 10%. Os estados de São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, tiveram variação de -2,5% e -2,6% em relação a 2019.

Apesar disso, as regiões Sul e Sudeste concentram 3 em cada 4 municípios com os maiores valores numéricos de Ioeb 2023. "Indicando que nessas duas regiões está concentrada a grande maioria dos municípios que oferecem melhores oportunidades educacionais a suas crianças, adolescentes e jovens", diz a Roda Educativa.

O Ioeb nacional cresceu de 4,85 em 2019, para 5 em 2021 e 5,1 em 2023. A organização afirma, entretanto, que a variação positiva caiu na comparação do quadriênio 2019-23 (4,3%) com o quadriênio 2017-21 (8,9%).

A proposta do Ioeb é olhar para além da nota do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) — que foca nas notas dos estudantes. Além do Ideb, o indicador usa em seu cálculo as informações do Censo Escolar e outros dados, como de formação dos professores. Os Ioeb 2023 foi divulgado ao UOL com exclusividade.

Quando você tem índices altos é mais difícil avançar [no caso de São Paulo], entretanto o Nordeste tem um avanço contínuo e evidente que mostra que a política pública é estruturada.
Tereza Perez, diretora executiva da Roda Educativa

Efeito pandemia

O efeito negativo da pandemia atingiu o Ioeb 2023 de alguns estados. Nesse período, boa parte das escolas demorou para retomar as atividades. Especialistas afirmam que, na oferta de ensino remoto, as desigualdades foram ampliadas.

Na avaliação, Mato Grosso do Sul saiu de "otimizado" para "crítico". Essa classificação é destinada para estados que oferecem menos oportunidades educacionais e receberam uma nota abaixo de 5.

Santa Catarina e Piauí saíram de "otimizado" para "atenção" em comparação com 2021. O Ceará — apesar de liderar ao lado de São Paulo com o maior número (5,5) — também entrou em atenção.

Para Camila Fattori, coordenadora pedagógica da Roda Educativa, o momento para os secretários de Educação olharem para o indicador é agora. "Os diálogos e o planejamento em torno desses dados são importantes para fomentar a mudança na prática", afirma.

O que explica os avanços do Nordeste

O regime de colaboração é uma das explicações para o Nordeste ter mais municípios entre os que mais avançaram no índice, dizem os analistas. "São políticas sistêmicas, estruturadas, uma marca forte da gestão nesses estados", afirma Tereza.

O Ceará e Pernambuco, por exemplo, adotam o regime de colaboração com os municípios para avançar na alfabetização. Nesse sentido, as cidades menores também conseguem avançar nos indicadores de educação — já que têm apoio técnico e financeiro dos estados.

O Espírito Santo registrou um crescimento de 1,8% em comparação com 2019. Segundo Tereza, o aumento se deve ao regime de colaboração que o estado tem investido nos últimos anos.

Mesmo em colaboração, é necessário garantir a autonomia de cada rede, afirma Camila. "É preciso ter uma linha de atuação e dar a possibilidade de contextualizar a particularidade de cada lugar, as questões raciais, por exemplo", explica.

Municípios com até 50 mil habitantes têm uma situação mais crítica no Ioeb 2023. Isso reforça, segundo Camila, a necessidade dos estados firmarem colaborações para diminuir as desigualdades.

O que disseram

A queda na variação [nacional] possivelmente tem relação com a crise provocada pela pandemia da covid-19. No entanto, é preciso observar também que muitos municípios e estados mantiveram a evolução mesmo com a pandemia, o que pode sinalizar o esforço das políticas públicas locais, principalmente na educação, mas também de forma inter-setorial.
Tereza Perez, diretora executiva da Roda Educativa

As redes municipais e a estadual em São Paulo, por exemplo, funcionam como se fossem independentes e a União fica de fora também. Essa sempre foi uma marca do estado, mas é preciso ver as políticas se convergirem.
Tereza Perez

Os gestores precisam ficar de olho nos municípios críticos. Toda a equipe precisa saber quais são esses locais que não estão avançando. Eles devem ser a prioridade para mobilizar as diretorias de ensino. Os estudantes não podem pagar o preço e eles têm os mesmo direitos dos alunos de outros locais.
Camila Fattori, coordenadora pedagógica da Roda Educativa

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