Pastor e fiel morrem afogados em rio: o que é o batismo por imersão?

A estudante Hendiel Rane Estevão de Oliveira Domingos e o pastor Edmilson Melo, da Igreja Evangélica Apostólica, morreram afogados após serem levados pela correnteza do rio Guandu, em Nova Iguaçu (RJ), durante a cerimônia do batismo da jovem de 16 anos.

Por que o batismo evangélico envolve a imersão nas águas?

O batismo cristão, evangélico ou não, tem como referência o batismo de Jesus. No Evangelho Segundo São Mateus (3:13), é descrito que "da Galileia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele". O Jordão é um rio que separa os territórios de Israel e Cisjordânia da Jordânia.

É consenso entre historiadores e teólogos que, no início do cristianismo, todos os cristãos eram batizados por imersão. Ou seja, eles eram submersos em corpos d'água, como rios, durante a cerimônia, assim como foi Jesus.

No entanto, é importante lembrar que muitos batismos desta época eram realizados em adultos convertidos. É possível que as variações tenham surgido para incorporar ao rito, eliminando riscos de afogamento ou hipotermia, pessoas com diferentes limitações físicas — como as crianças. O livro dos Atos dos Apóstolos fala em batismos de famílias inteiras após a ressurreição.

O batismo por imersão parcial ou efusão já era praticado desde os apóstolos e pode ter sido uma saída para crianças
O batismo por imersão parcial ou efusão já era praticado desde os apóstolos e pode ter sido uma saída para crianças Imagem: fotograv/Getty Images/iStockphoto

Cerimônias começaram a variar ainda nas primeiras décadas depois de Cristo, provavelmente ainda no tempo dos apóstolos. O Didaquê (ou Instrução dos Doze Apóstolos), o mais antigo texto de catecismo cristão escrito em grego na última metade do século 1, instrui:

Batize com água corrente, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo... E se você não tiver água corrente, batize em outra água. Se não puder [batizar] em água fria, batize em quente. Se não tiver nenhuma, então derrame água sobre a cabeça três vezes em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Didaquê, o mais antigo texto patrístico conhecido

A Igreja Católica ainda adota a mesma visão do Didaquê, o catecismo do tempo dos apóstolos. O Catecismo da Igreja Católica ensina que o "batismo é realizado, do modo mais significativo, pela tríplice imersão na água batismal; mas, desde tempos antigos, pode também ser conferido derramando por três vezes água sobre a cabeça do candidato". O texto ainda ensina que, quando possível, cada mergulho seja realizado junto com a invocação correspondente de cada uma das pessoas da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).

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Católicos (ortodoxos ou romanos) ou protestantes das mais antigas igrejas pós-reforma, como luteranos, anglicanos, presbiterianos e metodistas, adotam o batismo infantil. Nestes casos, a cerimônia por imersão parcial ou a efusão (com a água derramada) são convenientes. O Vaticano, por exemplo, considera que o "batismo é a libertação do pecado e do diabo", incluindo o pecado original. A unção do jovem, anos mais tarde no sacramento da Crisma, "completa a graça batismal" — já que "é o sacramento que dá o Espírito Santo". Ou seja, o rito católico romano espelha a promessa de João Batista (Mateus 3:11): a de que ele realizaria um batismo com a água e que Cristo realizaria um batismo com o Espírito.

Evangélicos brasileiros promovendo batismo em massa no rio Jordão em outubro de 2007
Evangélicos brasileiros promovendo batismo em massa no rio Jordão em outubro de 2007 Imagem: AFP/Menahem Kahana

Esta diferenciação é importante, já que igrejas evangélicas divergem teologicamente sobre quando o fiel recebe ou não o Espírito Santo — e se o batismo é o único meio para esta graça ou para a salvação. Este fundamento está ligado ainda às condições que cada igreja enxerga como necessárias para o batismo, a principal delas sendo a consciência (e arrependimento) dos pecados e a profissão de fé em Cristo — e por isso apenas o batismo adulto é realizado nestas denominações.

Algumas igrejas protestantes reconhecem batismos por efusão. Eles se baseiam nos mesmos textos que católicos romanos e ortodoxos, anglicanos, luteranos e outros — a análise do Evangelho que considera que a água batismal deva apenas ser "viva" e em fluxo, o que pode ser conquistado através do derramar sobre a cabeça do batizado. O que é essencial, no entendimento destas igrejas, é o batismo como "purificação".

Igrejas evangélicas brasileiras, em sua maioria, pertencem ao ramo pentecostal ou neopentecostal do evangelismo. O movimento surgiu originalmente nos EUA, a partir de pastores metodistas dissidentes, influenciado por outros ramos cristãos. No entanto, sua base teológica era a crença no batismo do Espírito Santo, como uma segunda experiência da graça que se reflete na manifestação dos chamados "dons do Espírito" (entre eles, a profecia).

Na prática, isso se refletiu na busca por práticas do Novo Testamento, como o batismo por imersão. Especialmente, porque este momento é bastante simbólico nas denominações pentecostais. É importante destacar que cada igreja tem o seu entendimento teológico da melhor prática em relação ao batismo.

12 comentários

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João Carlos Alfonso

Foram provar sua fé pessoalmente seja lá onde for. 

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Jose Carlos Caldas da Silva

O mais importante no batismo são os bons sentimentos das pessoas envolvidas. A água tem uma função meramente ritualística pouco importando se presente em apenas algumas gotas ou na correnteza de um rio. Afinal, não se trata de uma reação química onde a natureza e a quantidade de reagentes somadas às condições de temperatura, pressão e luminosidade determinam o resultado. Diante do exposto, batismos no Rio Jordão (Israel), em rios imundos brasileiro ou caixas d'água não passam de presepada para atrair trouxas.

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Moacir Rodrigues Duarte Junior

Notícia meramente midiática e especulativa. Conforme já noticiado o fato ocorreu quando os adolescentes resolveram nadar no rio e não durante o evento do batismo!

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