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Universidades têm grupos 'antiocupação' de prédios

Em São Paulo

02/06/2016 10h44

Contrários às ocupações de prédios e greves de professores e funcionários, alunos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) se mobilizaram contra as paralisações de atividades acadêmicas. Esses grupos, que se dizem apartidários, articulam ações e estratégias para garantir que tenham aulas e consigam finalizar o semestre dentro do calendário previsto.

O grupo Unicamp Livre foi formado por alunos do Instituto de Economia da instituição, que são contrários à ocupação do prédio da reitoria por estudantes - ocorrida no dia 11 - e à greve de funcionários técnico-administrativos e docentes. "Faz alguns meses, houve o bloqueio das entradas da universidade para impedir alunos, professores e funcionários de entrarem no espaço público. Dessa forma, o que nos movia era o cansaço com a forma abusiva e autoritária como essas mobilizações estudantis são impostas para toda a comunidade acadêmica", informou o grupo por meio de nota à reportagem.

A articulação, segundo o Unicamp Livre, foi importante para dar voz a estudantes que seriam perseguidos por ter uma "ideologia" diferente dos que promovem a ocupação da reitoria. "Queremos acabar com essa segregação política boba entre estudantes. Nós acreditamos em uma universidade aberta e livre para pensamentos, opiniões e manifestações de todas as matrizes ideológicas, sem preconceitos, rotulações e agressões."

Já o movimento Unesp Livre foi criado há cerca de duas semanas por estudantes dos campi de Araraquara, Assis, Franca, Rio Claro e Presidente Prudente. "Vivemos uma grave crise no País e o movimento estudantil e sindicalista das universidades continua com a mesma pauta desde 2013. Não podemos deixar que falem por todos os estudantes. Nós somos contrários à greve e a ocupações como forma de reivindicação", disse Felipe Lintz, de 21 anos, aluno do curso de Geografia da Unesp de Rio Claro.

Os dois grupos afirmaram defender ideias liberais como alternativa para o financiamento das universidades. O Unesp Livre sugere novas formas de financiamento para a instituição, como a cobrança de uma taxa para alunos de maior renda, segundo explicou Lintz. "Não adianta exigir mais recursos do governo do Estado durante uma crise financeira em todo o País. Precisamos de outra forma de financiamento para as universidades. Além disso, a administração das instituições é ineficiente e isso precisa ser alterado", disse.

O Unicamp Livre quer que sejam feitas parcerias com o setor privado, em especial com pequenas e médias empresas. "O modelo atual de financiamento e o tipo de parcerias aceitos na comunidade acadêmica não colaboram com uma reformulação de receitas", disse.

O sindicato dos professores da Unicamp diz "desconhecer o movimento" e ressaltou que é necessária a paralisação para buscar novas formas de investimento na universidade. O sindicato da Unesp não foi localizado. Procurados, os diretórios acadêmicos e os movimentos estudantis pró-ocupação das duas instituições não quiseram manifestar-se sobre os colegas.

Mobilização. Professores e funcionários de Unicamp, Unesp e USP rejeitaram nesta semana a proposta do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) de reajuste salarial de 3%. Os sindicatos reivindicam reajuste de 12,34%. O Cruesp afirmou que a proposta é um "esforço para atenuar as perdas salariais" dos últimos 12 meses e este é o valor possível, considerando que as instituições enfrentam a "pior crise econômica da história da autonomia universitária".

O governo do Estado de São Paulo vive a pior queda de receita em 13 anos e, com isso, as três universidades paulistas receberam no primeiro quadrimestre de 2016 o menor repasse de dinheiro em sete anos. Juntas, as instituições ganharam R$ 2,89 bilhões entre janeiro e abril, menor valor para o período desde 2009, quando o repasse foi de R$ 2,77 bilhões, em valores corrigidos pela inflação.

Os sindicatos das três instituições dizem que a crise financeira das universidades já era "anunciada", uma vez que os reitores não buscaram formas de aumentar a captação de recursos. Já os alunos em ocupações apoiam as reivindicações dos sindicatos e cobram que as reitorias adotem políticas mais atuantes de permanência estudantil e cotas nos vestibulares.

Em nota, a Unesp informou que os estudantes ocupam prédios nos campi de Marília, Assis e Franca. Nestes dois últimos, a instituição já entrou com uma ação judicial para impedir a paralisação de serviços.

"O direito constitucional de greve não pode ser confundido com a invasão de prédios ou o impedimento do normal funcionamento da universidade em prejuízo da sociedade", disse a nota. A Unesp também informou que há mais de 20 anos desenvolve ações para a assistência estudantil e ressaltou que as reivindicações estão sendo avaliadas dentro do das "condições orçamentário-financeiras".

A Unicamp também conseguiu na Justiça uma ordem de reintegração de posse da reitoria, mas disse que está aberta ao diálogo com os estudantes para que apresentem uma pauta de reivindicações. Sobre a greve dos professores, aprovada ontem em assembleia, a Unicamp destacou que não havia sido informada oficialmente e, só após a comunicação, poderia fazer uma "avaliação para analisar os impactos nas atividades de ensino e pesquisa".

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".