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Escola oferece serviço de 'faz-tudo' para pais em São Paulo

"Nunca precisei fazer uma papinha de bebê na vida", diz a advogada Kelly Schwartz, que matriculou o filho aos quatro meses em escola faz-tudo - Felipe Rau/Estadão Conteúdo
'Nunca precisei fazer uma papinha de bebê na vida', diz a advogada Kelly Schwartz, que matriculou o filho aos quatro meses em escola faz-tudo Imagem: Felipe Rau/Estadão Conteúdo

Isabela Palhares

São Paulo

26/05/2017 13h29

Uma escola em que os pais podem deixar os filhos das 8 às 20 horas e não se preocupar com os uniformes - que são lavados no próprio colégio - nem com as refeições das crianças, que ainda podem ser compradas congeladas para os fins de semana. Para as famílias economizarem tempo com atividades domésticas, a escola Ponto Omega, na região dos Jardins, zona oeste de São Paulo, passou a oferecer serviços que vão além das preocupações pedagógicas.

A escola, que atende crianças de 4 meses a 6 anos, também oferece aos pais a opção de contratarem professores e assistentes como babás e leva uma vez por mês uma cabeleireira para cortar o cabelo dos alunos no colégio. Maria Gruppi, diretora da escola, diz que os serviços começaram a ser ofertados por reivindicação dos pais, que requeriam "tempo de qualidade" com os filhos.

"Se a gente consegue eliminar algumas preocupações dos pais, eles têm mais tempo livre e disposição para se dedicar à criança", argumenta Maria. O serviço de lavanderia, por exemplo, é para todas as crianças de até 2 anos. Elas chegam com as roupas comuns de casa e recebem todos os dias o uniforme.

Os alunos que ficam em período integral fazem todas as refeições na escola. Por isso, segundo Maria, os pais precisavam fazer feira, mercado e cozinhar apenas para os fins de semana. "Eles tinham todo esse trabalho para fazer sopinha para só dois dias. Por isso, começamos a vender as refeições congeladas, que já servíamos na escola."

A advogada Kelly Schwartz, de 42 anos, matriculou o filho João Guilherme aos 4 meses na escola e já usou todos os serviços ofertados. Hoje ele está com 3 anos. Kelly conta que, até o menino completar 2 anos, todas as refeições que fazia em fins de semana, feriados e férias eram compradas no colégio. "Nunca precisei fazer uma papinha de bebê na vida." Kelly disse também já ter contratado as professoras como babás, por serem pessoas em quem confia e conhecidas do menino.

Segundo Maria, o colégio faz a mediação da contratação, mas o valor é totalmente repassado aos funcionários - que recebem entre R$ 70 e R$ 80 por hora para o serviço. Como as crianças ficam em período integral, ela explica que a maioria dos pais tinha dificuldade de contratar babás por apenas algumas horas ou nos fins de semana em que têm compromisso.

A diretora não vê problema em os pais passarem essas responsabilidades para a escola. "O que não podem é terceirizar afeto, carinho, companhia. Já serviços técnicos, como corte de cabelo, cozinhar sopinha, fazer supermercado, não há problema nenhum em terceirizar. O ganho na relação entre pais e filhos é muito maior."

Cautela

Para especialistas em educação, a escola está oferecendo serviços para atender uma demanda de mercado, mas é preciso cautela para que essa oferta não se sobreponha aos cuidados com as práticas pedagógicas, que deveriam ser a prioridade. Silvia Collelo, professora de Psicologia da Educação da Universidade de São Paulo (USP), avalia que atender a todas as demandas das famílias demonstra uma relação de cliente-empregador, que extrapola o papel da escola. "Os alunos devem ser vistos como seres humanos, não clientes", afirma.

Já Maria Márcia Malavasi, professora de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lembra também que algumas das tarefas das quais os pais estão abrindo mão são importantes para a formação. "Levar os filhos desde pequenos no mercado e na feira ou mesmo ver os pais cozinhando é educativo e ajuda muito no desenvolvimento cognitivo, social e emocional. São as atividades do cotidiano que estreitam os laços familiares." As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".