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Como resposta de criança a exercício escolar provocou debate que mobilizou até 'guardiões da língua espanhola'

Simples exercício e sua correção deram origem a uma ampla controvérsia - Reprodução/BBC
Simples exercício e sua correção deram origem a uma ampla controvérsia Imagem: Reprodução/BBC

20/10/2017 16h40

A criança pode não ter entendido a pergunta. Mas muitos dizem que foi o professor quem não entendeu a resposta.

Aos sete anos de idade, um aluno levou milhares de pessoas a debaterem sobre o papel dos educadores diante dos erros e acertos, fazendo com que até a Real Academia Espanhola (RAE), instituição responsável por determinar a norma culta da língua espanhola, se pronunciasse.

No enunciado em espanhol, o exercício pedia: "Escribe con cifra los siguientes numeros" (que em português poderia ser melhor traduzido como "Escreva em algarismos os números seguintes").

E as respostas da criança foram:

  • Dez: 11
  • Noventa e oito: 99
  • Oitenta e um: 82
  • Sessenta e seis: 67
  • Trinta: 31

Ou seja, a criança interpretou "os números seguintes" como os números sucessivos imediatos, em vez da escrita em algarismos dos números escritos por extenso.

O professor, então, desenhou um enorme "X" nas respostas do aluno com uma caneta vermelha.

Este simples exercício e sua correção deram origem a uma ampla controvérsia.

Quem não entendeu bem?

Tudo começou quando o pai da criança publicou no Twitter o exercício matemático em que o filho teria "falhado".

"Aqui está um exercício de matemática do meu filho (7 anos). Penso que quem não o entendeu bem foi o professor", escreveu Ignacio Bárcena, na terça-feira.

Em menos de 48 horas, o tuíte foi compartilhado mais de 53 mil vezes.

Ignacio Barcena postou no Twitter uma crítica ao professor que corrigiu o exercício de seu filho - Reprodução/Twittter: @Nachobbb - Reprodução/Twittter: @Nachobbb
Imagem: Reprodução/Twittter: @Nachobbb

A controvérsia se deu em torno da interpretação que fez o menino do enunciado.

O enorme "X" marcado pelo professor não deixa dúvida que, para ele, a resposta estava errada. Mas muitas pessoas que se juntaram ao debate acreditam que o que o pequeno fez, no mínimo, não pode ser considerado incorreto.

Vários argumentaram que uma criança de 7 anos não tem muito domínio da gramática e não consegue diferenciar o uso de uma mesma palavra em diferentes contextos.

"A criança entendeu de uma maneira literal, mas acho que ele tem habilidades matemáticas e esse horrível X vermelho pode frustrá-lo. O professor é quem não age de forma pedagógica. Que pena", escreveu uma internauta no Twitter.

Campanella e a RAE tomam partido

A controvérsia chegou a tal ponto que chamou a atenção de Juan José Campanella, vencedor do Oscar com o filme "O segredo dos seus olhos".

O cineasta saiu em defesa do pequeno.

"Ele é um gênio, o seu filho. Ele literalmente escreveu números 'seguintes'", escreveu em resposta ao tuíte de Bárcena.

Outros internautas, no entanto, insinuaram que a intenção do aluno e de seu pai era zombar do professor ou provocar um escândalo contra ele nas redes sociais.

Alguns chegaram até a dizer que a criança tinha problemas de assimilação.

E, é claro, não demorou para que os internautas chamassem a Real Academia Espanhola (RAE) para o debate.

A entidade não perdeu tempo.

"Tal como está redigido no exercício, a interpretação natural é que os números listados sejam escritos em cifras", afirmou a academia, destacando que sua posição foi tomada "de uma perspectiva puramente linguística".

Mas a controvérsia só aumentou, porque os usuários passaram a pedir "mais empatia" à entidade.

Afinal, eles disseram, o menino tem apenas 7 anos e é muito possível que ele não tenha ideia do que significa uma "perspectiva puramente linguística".

'O Pequeno Príncipe' e os adultos

No meio da discussão, alguns usuários do Twitter ficaram surpresos com a lógica da resposta da criança.

"Demorou para que eu entendesse. É impressionante o pensamento tão divergente que ele tem", escreveu um internauta.

Entre as milhares de reações, a resposta do menino de 7 anos lembrou um usuário de um certo desenho infantil de um elefante sendo devorado por uma jiboia - cena vista pelos adultos como um chapéu.

Esse é o célebre começo da obra "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry.