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Enem 2015: conheça 10 temas de atualidades que podem cair

Colaboração para o UOL, em São Paulo

09/10/2015 15h00

Se as provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) fossem de comer, elas teriam um gosto inconfundível. Sabe por quê? Por causa de um ingrediente que é salpicado em praticamente todo o seu recheio: o uso de temas da atualidade.

Não importa se a pergunta é de português, matemática, química ou geografia. Ela sempre pode vir com pitadas (mais ou menos intensas) de assuntos que dizem respeito a problemas do mundo contemporâneo.

Portanto, prepare-se para se informar sobre a situação social, econômica, política e ambiental do Brasil e de outros países. Com toda a certeza, essas noções de atualidades ajudarão muito na hora de colocar a mão na massa nos dias 24 e 25 de outubro, as datas do exame.

Pensando nisso, o UOL preparou uma lista de dez assuntos contemporâneos nos quais é importante se ligar. É partir dela para uma leitura constante e crítica de jornais, revistas e portais de notícia. O material foi elaborado a partir de sugestões dos professores de geografia Rui Calaresi, do Cursinho da Poli, e Danilo Simões, da Oficina do Estudante.

As atualidades que podem cair no Enem

  • Nilufer Demir/Reuters

    Guerra civil na Síria

    Há alguns anos, os telejornais têm sido preenchidos todos os dias com uma escalada de imagens de violência e histórias de tragédias humanas vindas de um país do Levante, a Síria. Um dos fatores por trás dessa crise é a guerra civil que começou ali em março de 2011. O conflito fratricida foi estimulado, entre outras causas, por uma luta étnica e política entre a oposição sunita e o regime do presidente Bashar al-Assad, que é alauíta.

    Inicialmente, as insurgências contra o governo, visto por muitos como ditatorial, se inseriram entre as manifestações da chamada Primavera Árabe, um termo inventado por ocidentais para designar uma série de revoltas contra políticas repressoras de alguns países do Oriente Médio e do norte da África a partir de 2010.

    Nesse contexto de fragmentação do poder central da Síria, grupos extremistas ganharam terreno. É o caso do Estado Islâmico, que passou a controlar cerca de metade do território do país, incluindo a região da antiga cidade de Palmira. O Estado Islâmico, que surgiu no Iraque, tornou-se mais conhecido por divulgar vídeos em que seus prisioneiros são executados de modo cruel (muitas vezes, por meio da degola, enquanto a vítima está viva e consciente).

    Mais de 200 mil pessoas já morreram na Síria em função da guerra. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), também em decorrência da guerra existem mais de quatro milhões de refugiados sírios espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil. Esse grande deslocamento humano, principalmente no sentido dos países ricos do oeste e do norte Europa, é um dos maiores da história contemporânea. Outros milhões de pessoas tiveram que migrar no interior da própria Síria, abandonando suas casas definitivamente.

  • Federico Gambarini/EFE

    Migrações em massa

    A crise na Síria é um dos principais motores da atual migração em massa de pessoas do Oriente Médio para a Europa. Mas não é o único. E nem a Europa é o único destino dos refugiados no mundo, embora seja, atualmente, um dos mais visados.

    É o caso de pessoas de diversas nacionalidades que cruzam diariamente o Mar Mediterrâneo com o objetivo de chegar à costa de algum país europeu (em especial, a Grécia e a Itália). Elas fazem isso usando botes sem nenhuma segurança, fornecidos por traficantes baseados no norte da África, o que costuma levar a naufrágios com dezenas de mortes. Entre esses imigrantes, estão muitos eritreus, nigerianos e somalis.

    A Eritréia, um país do chamado Chifre da África, península situada ao nordeste do continente, se tornou independente da Etiópia em 1993, após uma prolongada guerra de libertação. Desde então, outras guerras (com o Iêmen e novamente com a Etiópia) assolaram o país, comandado pelo mesmo presidente desde a independência. Como o serviço militar é obrigatório e sem prazo para terminar, há uma fuga intensa de habitantes do país. Segundo a ONG Human Rights Watch, na Eritreia não existe multipartidarismo nem liberdade de imprensa. Denúncias dão conta de que a repressão política é frequente em seu território. Rui Calaresi, professor de geografia do Cursinho da Poli, destaca que a fome é outro sério problema que acomete o país.

    Por sua vez, a Nigéria vive uma onda de violência no noroeste do país, dominado pelo grupo insurgente Boko Haram, que já matou civis, além de sequestrar e estuprar várias mulheres e destruir casas e escolas, levando ao deslocamento forçado de milhares de pessoas. O governo central, que combate os extremistas, precisa lidar ainda com corrupção e ataques aos direitos humanos praticados por membros do seu próprio exército.

    Na Somália, outro país africano vizinho da Etiópia, um longo conflito envolvendo o grupo armado Al-Shabaab, que controla uma parte do território, desestabiliza a população, sendo frequentes os assassinatos e as tentativas de fugas. Para piorar, mesmo as tropas do governo têm sido acusadas de abusos, inclusive estupros.

    Além desses países, o Afeganistão, na Ásia, e a Líbia, na África, integram a lista de nações com um grande número de refugiados no exterior. Para o Enem, o estudante deve ter em conta que o Brasil também recebe refugiados. "Apesar da crise, o país segue atraindo sírios, haitianos, senegaleses, nigerianos e bolivianos", diz o professor Danilo Simões, da Oficina do Estudante.

  • Andrew Harnik/AP

    Reaproximação de Cuba e EUA

    Geograficamente tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes politicamente, Cuba e os Estados Unidos da América estão em vias de uma reconciliação, após décadas de um estranhamento cujo principal efeito foi o pesado embargo comercial imposto sobre a ilha pelo vizinho do norte. Em dezembro de 2014, os governos de ambos os países (ou seja, dos presidentes Raúl Castro, no lado cubano, e Barack Obama, no norte-americano) anunciaram os primeiros esforços para uma reaproximação.

    Desde então, alguns prisioneiros políticos dos dois lados já foram libertados e Cuba foi retirada da lista de países "patrocinadores do terrorismo" dos Estados Unidos, onde figurava desde 1982, quando Fidel Castro -- irmão mais velho do atual dirigente -- ainda comandava a ilha. Naquele momento, ocupava a Casa Branca o ex-ator Ronald Reagan, um dos mais fanáticos oponentes do 'comunismo" dos anos 1980. O mundo então ainda se cindia em dois blocos: um sob a liderança norte-americana, capitalista, e outro inspirado pelo comunismo de ocasião da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

    A crise entre Cuba e os Estados Unidos se iniciou em princípios da década de 1960, após a revolução, em 1959, que derrotou o regime do ditador Fulgencio Batista, aliado dos norte-americanos, e levou Fidel ao poder central da ilha. A subsequente aproximação cubana da URSS, ocorrida no auge da Guerra Fria (o Muro de Berlim estava para começar a ser construído), irritou os Estados Unidos, que chegaram a treinar um grupo paramilitar de cubanos com o intuito de destituir o governo castrista, por meio de um golpe. A ação, que resultou em um episódio conhecido como a invasão da Baía dos Porcos, fracassou e, até a dissolução da URSS em 1991, levando a Guerra Fria ao fim, Cuba se manteve como uma incômoda pedra "comunista" em pleno quintal norte-americano. Como resposta, no decorrer dos anos, o Congresso norte-americano levantou um poderoso embargo comercial ao vizinho, proibindo até mesmo o envio de alimentos para a ilha.

    Com a iniciativa dos governos de Havana e Washington, as restrições a viagens aos cidadãos de ambos os países foram abrandadas, facilitando os deslocamentos de um lado para o outro. Os milhares de cubanos que moram nos Estados Unidos também passaram a ter direito de enviar mais dinheiro para os seus familiares em Cuba, pois o limite anterior, de US$ 2 mil por trimestre, foi suspenso. Os norte-americanos também já podem constituir alguns tipos de empresas de capital misto em Cuba.

    Entretanto, o avanço, no sentido econômico, ainda é mais simbólico do que prático, visto que é o Congresso dos Estados Unidos, e não o governo, que tem poder para revogar as leis que impuseram o grosso do embargo comercial a Cuba. Esse é um processo que pode levar anos. A demora, segundo especialistas, faz as duas partes perderem dinheiro e outras formas de intercâmbio, como o cultural. Por sinal, o Brasil, como terceiro maior parceiro comercial cubano, pode se beneficiar dessa reaproximação: nos últimos anos, o país investiu US$ 975 milhões no porto de Mariel, para onde Cuba pretende atrair novas indústrias, por meio de incentivos fiscais.

  • Sergei Supinsky/AFP

    Crise na Ucrânia

    A Ucrânia, um país formado após o desaparecimento da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) no início dos anos 1990, vive um momento delicado. Existe uma cisão dentro de suas fronteiras, o que já levou a conflitos sangrentos. A porção oeste do país, mais próxima do resto da Europa e que fala o idioma ucraniano, busca uma aproximação comercial com a União Europeia. Já o lado leste, vizinho da Rússia e falante da língua russa, pende para um reforço da aliança com Moscou, principal fornecedor de gás natural para os ucranianos e boa parte dos europeus -- os gasodutos de um lado para o outro passam pelo solo da Ucrânia.

    Na parte sul do país, como um apêndice projetado sobre o Mar Negro, está a península da Crimeia, onde também predominam populações de origem russa. Em fevereiro de 2014, um grupo armado ocupou prédios públicos da região, hasteando bandeiras da Rússia. O parlamento local igualmente passou para o domínio de um grupo favorável à Rússia, instituindo e chancelando um referendo em que a esmagadora maioria (97%) da população do território votou pela anexação da Crimeia ao território russo. O resultado dessa consulta popular foi contestado pela capital ucraniana, Kiev. Dias depois, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou a assinar um acordo oficializando a incorporação da Crimeia, gerando protestos de líderes do ocidente da Europa.

    O imbróglio e a passagem da Crimeia para o comando moscovita foram entendidos como uma resposta à queda do presidente Viktor Yanukovych, favorável a um alinhamento com Moscou. O dirigente foi destituído depois de se recusar a assinar um acordo com a União Europeia no final de 2013 -- o que desencadeou uma série de violentos protestos de rua, especialmente em Kiev, provocando várias mortes. Para uma parte dos ucranianos, o pacto com o resto da Europa afastaria o país da Rússia.

    A virtual saída da Crimeia do território ucraniano animou os interesses separatistas da região da cidade de Donetsk, situada no leste e uma das mais industrializadas do país, na fronteira com a Rússia. Conflitos armados na área, entre forças pró-Rússia (apoiadas pelo governo de Putin) e o exército da Ucrânia, começaram em abril de 2014. Até o início deste ano, cerca de 5,4 mil pessoas haviam morrido nos confrontos, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), apesar de um frágil cessar-fogo acordado entre as partes em setembro de 2014. A ONG Human Rights Watch informa que mais de um milhão de pessoas ficaram desabrigadas em função dos embates.

    O professor Danilo Simões, da Oficina do Estudante, explica que, ultimamente, a crise na Ucrânia "sumiu da mídia, mas as tensões entre o oeste pró-ocidente e o leste pró-Rússia continuam a alimentar o risco de divisão do país".

  • AFP

    Desaceleração da economia chinesa

    O ano de 2015 foi marcado por sinais do desaquecimento da economia da China, o que pode reverberar nas finanças do resto do mundo, inclusive nas brasileiras. Ora, mas a China está do outro lado do globo... O que ela tem a ver com a vida da gente no Brasil? Bem, muito. A começar pelo fato de os chineses serem os nossos principais parceiros de comércio, consumindo 20% das exportações do país, um patamar que lhes confere um peso relativo muito grande na balança comercial (resultado de tudo o que importamos e exportamos).

    Apesar disso, há economistas que suspeitam que os efeitos por aqui ainda não são tão sérios. Eles sustentam que o motivo das recentes variações nos preços das commodities (como soja e minérios, que estão entre o que mais vendemos para fora) resulta de uma maior produção desses bens aqui mesmo, assim como em outros países que costumam exportá-las, entre eles os Estados Unidos da América.

    Voltando à China, a desaceleração de que tanto se fala no noticiário está longe de significar recessão. O que acontece é que a economia chinesa continua (e deverá continuar) crescendo, mas num ritmo menor. Na década passada, o mundo parecia ter se acostumado ao incremento vertiginoso do PIB (produto interno bruto) do país mais populoso do planeta, sempre perto dos 10% ao ano, o que beneficiava todo o sistema econômico internacional, em particular os vendedores de commodities, como o Brasil. Agora, a projeção é de que essa variação fique em 6,8% neste ano e em 6,3% em 2016 ? no ano passado, a China fechou em 7,4%.

    De qualquer forma, as atenções estão voltadas para o desempenho daquele mercado asiático, o segundo maior do mundo. O minério de ferro, um dos itens mais vendidos para a China pelos brasileiros, enfrenta uma queda na demanda daquele país em virtude da desaceleração, fazendo com que investimentos diminuam por lá no setor imobiliário, um dos maiores consumidores de aço.

  • Pascal Rossignol/Reuters

    Austeridade fiscal

    Todo o mundo ouviu falar bastante da austeridade fiscal nos últimos tempos. Seja na Grécia, seja no Brasil, o assunto tem dominado os debates na imprensa. Mas de que se trata? Basicamente, de ajustes que os governos desses dois países vêm adotando para tentar equilibrar as suas contas, já que tanto gregos quanto brasileiros gastaram mais do que podiam nos últimos anos. Os cortes são criticados pois atingem áreas delicadas, como programas sociais.

    No caso da Grécia, a situação começou a piorar no fim da década passada, agravada com a crise mundial de 2008. Desde então, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a União Europeia injetaram centenas de bilhões de euros para que o país pudesse sanar parte das dívidas. Em meados deste ano, o assunto voltou à tona porque o governo deixou de pagar duas parcelas do que deve ao FMI.

    Muito se especulou a respeito de calote e de uma possível saída da Grécia da zona do euro. Em julho, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, eleito em janeiro pelo partido Syriza, de esquerda, convocou um referendo em que a maioria da população o apoiou na decisão de não admitir as duras condições impostas pelos credores estrangeiros para que a Grécia pudesse receber mais ajuda financeira. Contudo, o governo grego cedeu à pressão da União Europeia, encabeçada pela primeira-ministra alemã, Angela Merkel, e acabou aceitando as duras regras impostas para a obtenção do resgate financeiro. As medidas de austeridade incluem cortes nas aposentadorias e aumento de impostos. Tsipras renunciou, mas foi reeleito para um novo mandato.

    No Brasil, a economia enfrenta uma recessão técnica. Nos dois primeiros trimestres deste ano, o PIB (produto interno bruto) do país recuou em vez de crescer. Esse é o resultado de um processo iniciado desde o início dos anos 2010, com a desaceleração da economia. No ano passado, o país fechou as contas com um déficit de R$ 17 bilhões.

    E a situação pode não mudar no curto prazo. A proposta orçamentária para 2016 enviada ao Congresso pelo governo da presidente Dilma Rousseff já prevê um déficit de R$ 30,5 bilhões.

    Para tentar evitar esse rombo nas finanças do país, o Executivo estuda cortes e até o estabelecimento de um novo imposto -- as duas medidas têm como meta colocar dinheiro no caixa do governo, a fim de que ele tenha reservas para honrar as dívidas com os seus credores (especialmente rentistas do mercado especulativo), evitando a fuga de recursos. A situação se complica em função da instabilidade política que assola o governo e parte do Legislativo. Em setembro, para piorar, uma agência de classificação de risco norte-americana rebaixou a nota do Brasil, retirando o seu grau de investimento. Especuladores internacionais costumam levar em conta essas avaliações antes de aplicar o dinheiro em determinado país.

    O ajuste fiscal preparado pelo governo poderá reduzir gastos na saúde e na habitação, além de tornar mais difícil o acesso a benefícios trabalhistas. O professor Danilo Simões, da Oficina do Estudante, recomenda aos candidatos do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que tenham uma "noção de cortes de gasto e superávit primário e sua imposição sobre economias como Grécia e Brasil gerando retrocessos sociais e estagnação econômica."

  • Luis Moura/Estadão Conteúdo

    Desertificação e falta de água

    Uma das recomendações do professor de geografia Danilo Simões, da Oficina do Estudante, é que os alunos se atentem à questão geoclimática em decorrência da ação humana no ambiente, assim como as iniciativas no sentido de reverter os danos da estiagem. O especialista destaca a sanção, em julho, do Plano Nacional de Combate à Desertificação e Mitificação dos Efeitos da Seca.

    O projeto, que tem por objetivo criar políticas para combater as consequências da desertificação, da seca e da degradação do solo, foi aprovado pela presidente Dilma Rousseff depois de quase duas décadas de debates em torno do assunto, de importância fundamental principalmente para o semiárido brasileiro, região situada no Nordeste.

    A iniciativa prevê a adoção de meios para preservar, proteger e recuperar os recursos degradados pela ação da seca, além de permitir a instituição da Comissão Nacional de Combate à Desertificação, um órgão que coordenará ações de instâncias municipais, estaduais e federais no que toca a iniciativas voltadas para evitar e minimizar os impactos da seca sobre a vida das populações locais e a agricultura comercial.

    O professor lembra que o Brasil não é o único país que sofre com o risco de desertificações. Segundo ele, esse é um "processo que pode dizimar parte expressiva das terras agricultáveis mundiais nas próximas décadas'. As populações de parte do Nordeste e do Sudeste brasileiro já vêm sentindo alguns efeitos da estiagem prolongada, agravados pela falta de investimentos públicos de caráter preventivo.

    No caso de São Paulo, o nível de armazenamento do Sistema Cantareira, que fornece água para boa parte da capital do Estado, tem ficado bem abaixo de sua capacidade desde o ano passado, impactando a vida de milhares de pessoas em vários bairros da cidade e de municípios vizinhos, que ficam com as torneiras vazias durante várias horas do dia.

  • EFE / David Fernandez/EFE

    Narcotráfico e crime organizado no México

    Segundo país mais populoso e rico da América Latina (atrás apenas do Brasil), o México convive com o fardo de ser vizinho fronteiriço dos Estados Unidos da América. A sua localização torna-o uma das principais portas de saída de entorpecentes proibidos para atender os consumidores do país do Tio Sam, a maior potência econômica do planeta.

    Devido a isso, grande parte do território do México virou, nos últimos anos, palco de uma sangrenta guerra entre as forças legalistas do governo e poderosos cartéis de narcotráfico transnacionais, que atuam como entrepostos, repassando para os norte-americanos drogas produzidas na América do Sul, em países como Colômbia e Peru. Os grupos mais ativos operam a partir de Estados como Sinaloa, Jalisco e Guerrero.

    Uma política intensa de combate a esses traficantes, respaldada por bilhões de dólares remetidos pelos Estados Unidos, começou a ser colocada em marcha pelo governo do presidente conservador Felipe Calderón, eleito em 2006 com a promessa de vencer os traficantes de drogas. Uma das primeiras estratégias foi colocar o exército nas ruas. A tentativa, pode-se dizer, fracassou, já que a violência não parou de crescer, gerando um saldo de cerca de 60 mil mortos ao término dos seis anos da administração repressora de Calderón. Para se ter uma ideia, entre 2007 e 2011, a taxa de homicídios mexicana aumentou acima de 200%.

    Embora muitos chefes de cartéis tenham sido detidos ou assassinados pelo governo, outras lideranças passaram a ocupar o vazio deixado por eles, dividindo a complexa estrutura do narcotráfico em grupos cada vez mais pulverizados e hostis. No meio da troca de tiros entre soldados e traficantes, uma das principais vítimas é a população.

    Em setembro de 2014, o mundo se comoveu com a divulgação do desaparecimento de 43 estudantes de uma faculdade rural de Ayotzinapa, ao sul da Cidade do México. Eles foram rendidos por policiais da cidade de Iguala enquanto planejavam ir de ônibus a um protesto. Durante a abordagem, a polícia matou três alunos, que estavam desarmados. Todos os outros desapareceram. Uma linha da investigação informa que a polícia os entregou para serem mortos por membros do cartel Guerreros Unidos. Os corpos ainda não foram identificados.

    Outra notícia relacionada à luta contra o narcotráfico no México que chocou o mundo veio a público em julho deste ano, quando Joaquín Guzmán, conhecido como El Chapo, escapou pela segunda vez de um presídio do país. Desta vez, ele, que é chefe do cartel de Sinaloa e uma das pessoas mais procuradas internacionalmente, fugiu por um túnel escavado sob um presídio de segurança máxima. Um hipótese é que autoridades possam estar envolvidas.

  • Folhapress

    Tensões na América do Sul

    O continente em que vivemos também virou foco de atenção nos últimos meses em virtude de dois conflitos: um que está em processo de suspensão e o outro bastante recente. O primeiro, no interior da Colômbia, envolve o governo federal daquele país e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O segundo, na fronteira colombiana com a Venezuela.

    Num gesto histórico, os líderes do governo da Colômbia e das Farc deram início, no primeiro semestre deste ano, a uma série de tratativas para pôr fim ao prolongado embate que, nas últimas cinco décadas, provocou cerca de 220 mil mortes, além de milhões de refugiados. O presidente de Cuba, Raúl Castro, intermedia os diálogos de paz, que também é acompanhado pela Noruega.

    Recentemente, o presidente Juan Manuel Santos informou que pretende lançar um referendo para consultar a população a respeito do acordo de paz. Já o líder das Farc, Timoleon Jimenez, conhecido como Timochenko, deu ordens para suspender os cursos de instrução militar da organização.

    O pano de fundo da histórica luta entre o governo colombiano e as Farc é político, já que o embate armado se iniciou em função de divergências ideológicas -- as Farc defendem a implantação do socialismo no país, enquanto o governo central tradicionalmente se divide entre a liderança de liberais e conservadores, ambos à direita no espectro político.

    A outra tensão que vem preocupando os sul-americanos se situa na fronteira da Colômbia com a Venezuela. Em agosto, uma emboscada feriu alguns militares venezuelanos que patrulhavam a região para evitar o contrabando de alimentos e combustíveis. Como resposta, mil colombianos que viviam ilegalmente no país vizinho foram deportados pelo governo do presidente Nicolás Maduro, que chegou a fechar parte da divisa. Vinte mil colombianos, temendo a deportação, decidiram deixar a Venezuela depois do início da crise. Aviões militares venezuelanos teriam invadido o espaço aéreo da Colômbia, o que foi negado por Caracas.

    Os dois governos chamaram de volta seus embaixadores posicionados do lado de lá da fronteira. Negociações costuradas pelo Equador e pelo Uruguai tentam apaziguar os ânimos das duas nações.

  • Emilio Morenatti/AP

    Movimentos separatistas

    A Catalunha, região autônoma do nordeste espanhol, reviveu em setembro o sonho de se tornar independente de Madri. Nas eleições para a escolha do presidente regional, a coalizão formada pelos dois maiores partidos independentistas, batizada de estrategicamente de "Juntos pelo sim", reconduziu ao cargo o atual dirigente, Artur Mas.

    No Parlamento, os independentistas obtiveram a maioria dos assentos. O velho debate sobre a soberania catalã volta ser a aceso com força total, despertando a reação do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, e a de outros líderes europeus, contrários à secessão espanhola.

    De acordo com o professor de geografia Danilo Simões, da Oficina do Estudante, para o Enem, os candidatos devem atentar para alguns deles.

    No ano passado, a Escócia decidiu, por meio de um referendo, manter-se vinculada ao Reino Unido. O caso chamou a atenção para a série de movimentos separatistas que pipocam no mundo.

    A mobilização na Escócia, que é ligada, por meio do Reino Unido, à Inglaterra, à Irlanda do Norte e ao País de Gales, encampava uma vontade do governo local de garantir mais liberdade ao país. A questão envolve aspectos culturais, mas também econômicos: no Mar do Norte, os escoceses dominam grandes jazidas de petróleo -- contudo, sobre sua exploração, incidem impostos estabelecidos pelo Reino Unido. Os defensores da união do reino alegam que a exploração desses recursos evoluiu devido também aos esforços dos demais membros.

    De qualquer forma, mesmo com a vitória do "não" à separação, a tendência é de uma maior autonomia do Parlamento da Escócia em relação a Londres.

    Outro movimento separatista de destaque atualmente inclui o da região da Chechênia, na Rússia, na região do Cáucaso.