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Superdotados são bons em tudo? Conheça oito mitos e verdades

Reinaldo Canato/UOL
Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/04/2016 06h00

Enquanto os amigos ainda ensaiam as primeiras palavras, ela já sabe ler. Enquanto o resto da sala se esforça para aprender uma equação de primeiro grau, ele já resolveu várias de segundo. É assim a rotina dos superdotados, pessoas que, em regra geral, possuem uma capacidade intelectual acima da média em relação a outras pessoas da sua idade.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), cinco em cada 100 indivíduos no mundo são superdotados. Essa estimativa leva em conta apenas as habilidades cognitivas, como ser bom em português, matemática, história etc. No entanto, as pessoas podem ter uma inteligência extraordinária em outros campos, como artes, música ou esportes. Por conta disso, a estimativa, segundo pesquisas da APAHSD (Associação Paulista para Altas Habilidades/Superdotação), é de 10% da população, em média.

Em 2014, 13.308 crianças foram identificadas como superdotadas nas escolas públicas e privadas do Brasil (apenas na educação básica). O número, mesmo sendo muito maior que o de 2000 (758), ainda é tímido, segundo os especialistas. Além disso, nem todas as crianças identificadas recebem a assistência adequada.

“Embora existam leis que obriguem a identificação e o cadastro de crianças superdotadas, não temos um número muito grande de professores preparados para identificá-las e nem muitas políticas de incentivo”, diz Susana Graciela Pérez, presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação.

Além disso, nem sempre é fácil identificar um aluno superdotado. “Muitas vezes, há uma confusão no diagnóstico. Uma criança inquieta pode ser vista como alguém hiperativo, quando, na verdade, ela pode estar apenas demonstrando tédio em relação a algo que ela já sabe”, explica Maria Clara Sodré, superintendente do Instituto Lecca, organização sem fins lucrativos que acolhe crianças superdotadas de famílias de baixa renda.

Fora do ambiente escolar, o superdotado também é cercado por uma série de mitos que podem não só atrapalhar o seu reconhecimento, mas também o seu desenvolvimento social.

Conheça 8 mitos e verdades sobre os superdotados

  • Todo superdotado é bom em todas as matérias da escola

    O conceito mais amplamente difundido sobre superdotados diz que uma pessoa com altas habilidades não precisa ser, necessariamente, boa em tudo o que faz. "Ela se destaca em uma ou mais áreas, tem um comprometimento muito grande e é criativo. Mas ele pode ir muito mal em outras matérias", explica Suzana. Outro ponto, é que nem sempre a criança ou o jovem se destaca nas matérias consideradas básicas da educação. "A escola e a família costumam valorizar a matemática e o português. Mas o superdotado pode ser muito bom em artes. O conceito está ligado à inteligência, não às matérias escolares".

  • Geralmente, o superdotado é tímido ou hiperativo

    Nem toda criança superdotada desenvolve problemas físicos ou psicólogicos. Mas, de acordo com Maria Clara, o desenvolvimento pode sim ser desarmônico. "As características psicológicas são diferentes em todas as crianças. O que acontece é que, as vezes, ela sente que não se encaixa naquele ambiente e passa a sofrer com isso, se fechando, mostrando desinteresse".

  • Crianças só são superdotadas se forem estimuladas pelos pais

    Ainda não existem estudos que comprovem que a superdotação é um produto apenas genético. Até agora, a tese mais aceita é que ela é um misto de herança genética e estímulo do meio em que a criança vive. "Em toda família que tem um superdotado, é comum encontrar outros em gerações anteriores. Embora eles tenham uma capacidade de aprender as coisas sozinhos, é preciso que eles sejam estimulados. Daí entra o fator ambiental", diz Virgínia Louro, psicóloga do Instituto Rogério Steinberg, que também presta assistência a superdotados de baixa renda. "Você pode ter um pai superdotado, por exemplo, mas que não teve todo o seu potencial desenvolvido porque não teve acesso aos estudos", completa Maria Clara.

  • É possível identificar uma criança superdotada nos primeiros anos de vida

    Sim, em alguns casos é possível, mas é preciso ficar atento para não confundir precocidade com superdotação. Funciona assim: algumas crianças de 1 ou 2 anos, por exemplo, podem reconhecer as letras do alfabeto. Pode ser um sinal de superdotação? Sim, mas também pode ser um comportamento precoce que tende a se equalizar com o de outras crianças ao longo do tempo. "O ideal é acumular um histórico da criança para não confundir as duas coisas. No Instituto, a maioria delas é avaliada entre os 7 e os 8 anos. Com essa idade, é possível saber se determinadas facilidades de aprendizado são normais ou não", diz Virgínia.

  • As pessoas superdotadas têm Q.I elevado

    Não necessariamente. Aliás, o teste de quociente de inteligência é apenas uma das ferramentas utilizadas para identificar a superdotação. Isso acontece porque esse tipo de teste se limita apenas a alguns aspectos das habilidades mentais. Além disso, outros indicadores, como comprometimento com a tarefa e criatividade, pesam durante a avaliação.

  • O QI mantém-se o mesmo em todas as fases da vida

    De acordo com um artigo publicado em 2003 por Susana Pérez, pela Universidade Federal de Santa Maria (RS), além do teste não ser o indicador mais adequado para avaliar as altas habilidades, os resultados podem variar em diferentes épocas da vida (sujeitos a influências externas e internas). Para a professora, é preciso observar a frequência e a intensidade dos indicadores por um período amplo de tempo para assim identificar um "comportamento de superdotação".

  • A grande maioria dos superdotados tem um futuro brilhante pela frente

    Ser superdotado não é sinônimo de sucesso. E é aí que entra o fator ambiental. "A criança precisa ser estimulada pela escola e pela família. Se ela não é reconhecida e não tem acesso a uma boa educação, as chances de seu potencial não ser desenvolvido é muito grande", explica Suzana. Para os especialistas consultados, as políticas políticas de inclusão dos superdotados precisam ser fortalecidas, para que esses talentos não se percam. "Se você não manter a criança interessada, facilmente ela pode buscar desafios em outras áreas. Muitos traficantes, certamente, podem ser considerados superdotados", diz Maria Clara.

  • Todos temos altas habilidades, basta estimulá-las

    "Todos somos bons ou nos destacamos em alguma área, mas isso não significa que você é um superdotado. O fator genético também precisa ser levado em conta", diz Maria Clara. O superdotado, em muitas ocasiões, não precisa ser estimulado para aprender sobre determinado assunto. Ele é capaz de aprender com muita facilidade e sozinho, tem uma memória bem desenvolvida, assimilam as coisas muito mais rápido. O que não acontece com todo mundo.