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Quatro jovens foram detidos na USP; um rapaz foi autuado por posse de 0,4 grama de maconha

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

29/02/2012 14h54Atualizada em 29/02/2012 18h07

  • Rodrigo Paiva/UOL

Quatro rapazes foram detidos na Cidade Universitária da USP (Universidade de São Paulo), zona oeste de São Paulo, e levados para a 14ª DP, em Pinheiros, por posse de drogas, na noite desta terça-feira (28).

Um dos jovens, de 19 anos, foi autuado por portar 0,4 grama de maconha e os outros três, de 18 anos, entraram na ocorrência como testemunhas, segundo o escrivão da unidade, Edson Santana. O fato ocorreu às 22h na Av. Professor Lineu Prestes, nº 49. Ainda segundo o escrivão, todos foram liberados e o autor responderá a processo.

De acordo com Murilo de Souza, que faz geografia na USP e participa do comando de greve, os estudantes levados para a delegacia eram calouros da instituição, dois de arquitetura, um de ciências sociais e um de física. "A situação [na USP] está cada vez pior, violenta e bizarra", diz Murilo sobre o fato ter acontecido já na primeira semana de aula e, segundo ele, os jovens terem sido abordados por duas viaturas da PM e três motos da  Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas). “Fica bem claro o porquê do convênio assinado com a Polícia Militar. O objetivo é a restrição de qualquer liberdade mínima. E que não é garantido a ninguém, nem mesmo aos alunos que estavam há dois dias na universidade. No segundo dia que ele pisa na Universidade ele é preso”, critica.

Em relação à quantidade de droga encontrada, Murilo de Souza diz que “o uso [da força sobre os estudantes] é político. Eles usam a droga para incriminar, mas na verdade é para interferir politicamente na universidade”.

Segundo o departamento de imprensa da reitoria, eles não foram notificados sobre a ocorrência e nenhum registro na Guarda Universitária foi encontrado.

Menos que um confete

A quantidade de maconha encontrada pelos policiais -- 0,4 g -- é uma quantidade pequena. Para se ter uma ideia, um docinho do tipo confete ou m&m's tem 1g. É menos da metade desse peso. “É tipo a sujeira debaixo da unha, exagerando só um pouquinho. Mas uma unha bem comprida”, compara Denis Russo Burgierman, jornalista e autor do livro "O Fim da Guerra: A Maconha e a Criação de um Novo Sistema para Lidar com as Drogas".

O autor explica: “porte de maconha é crime – não punível com prisão, mas é crime, independente da quantidade”. Apesar disso, Burgierman acredita que o fato é "uma demonstração de força, uma resposta ao clima de confronto na USP". Ele também aponta: "tem aí a questão de se deveríamos estar usando nossos parcos recursos policiais para prender garotos com as unhas sujas de maconha, sendo que eles vão acabar sendo soltos e isso não servirá a nenhum fim concreto. Mas, sim, eles [a polícia] podem fazer isso [autuação] de fato”, conclui.


Manifestação de hoje

A reitoria proibiu a entrada de equipamentos de som e banheiros químicos para o Show Protesto desta quarta (29), previsto para começar às 21h, segundo Murilo de Souza. A calourada, festa de recepção dos calouros, está sendo organizada pelo comando de greve dos estudantes. Ele ressalta que apesar do clima de insegurança o objetivo dos alunos é fazer uma manifestação pacífica e democrática.

“Essas proibições trazem para a gente uma sensação de insegurança. Mas, mesmo assim, vamos realizar sim o show, sem dúvida. A gente só espera que hoje não se repita o que houve no ano passado com o uso da violência, tropa de choque”, afirma.

“Esperamos que isso não ocorra, no entanto é muito provável que hoje tenham muitos policiais à paisana. O correto seriam eles estarem identificados, mas ... espero que não haja nenhum provocador”, acrescenta.

A assessoria de imprensa da reitoria informou que apenas proibiu a entrada no campus de caminhões com cerveja por se tratar de uma norma interna da instituição. "Em relação aos equipamentos hoje, os caminhões foram barrados para averiguação, mas logo em seguida liberados para a entrada, a partir de um termo de responsabilidade assinado pelos organizadores da festa".

O departamento acrescentou também que a Prefeitura do campus não foi informada formalmente sobre essa festa, o que deveria ter sido feito com 30 dias de antecedência para que fosse possível atender aos critérios de documentação técnica e de segurança.

 

Debate sobre a PM
 

O debate sobre a presença da Policia Militar no campus voltou à pauta no dia 27 de outubro do ano passado, quando policiais abordaram três estudantes que estavam com maconha no estacionamento da faculdade de História e Geografia. A detenção gerou confusão e confronto entre estudantes e policiais -- que culminou com a ocupação da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e, posteriormente, da reitoria. 

A presença dos policiais no campus --defendida pelo reitor, João Grandino Rodas, e pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB)-- passou a ser mais frequente e em maior número após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, em maio deste ano. Em setembro, o reitor e o governador assinaram um convênio, autorizado pelo Conselho Gestor do Campus, para regulamentar a atividade da PM na USP.

Os contrários à PM no campus dizem que a medida abre precedente para a polícia impedir manifestações políticas "que comumente ocorrem dentro do campus" e citam o episódio de junho de 2009, quando a Força Tática da PM entrou na universidade para reprimir um protesto estudantil e acabou ferindo os estudantes e jogando bombas dentro de unidades.

Como alternativa à PM, o DCE (Diretório Central dos Estudantes) defende que a segurança do campus não seja militarizada, isto é, que seja de responsabilidade da Guarda do Campus. A entidade defende que haja mais iluminação das vias do campus e que a USP mais seja aberta à comunidade externa, aumentando a circulação de pessoas.