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Depoimentos em seminário da Câmara denunciam bullying homofóbico nas escolas

Da Agência Câmara de Notícias

15/05/2012 17h06

Depoimentos denunciando o bullying homofóbico e outras formas de violência contra os gays marcaram o 9º Seminário Nacional de LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), organizado pelas comissões de Direitos Humanos e Minorias; e de Educação e Cultura.

A representante do movimento Mães pela Igualdade, Marlene Xavier, que é mãe de quatro filhos homossexuais, contou que há 10 anos perdeu um de seus filhos por conta da homofobia. “Ele foi tirado de mim por pessoas homofóbicas, e os responsáveis por isso estão livres, porque são pessoas de grande poder aquisitivo, infiltradas na política”, relatou.

Marlene disse que nunca foi fácil lidar com o desrespeito da sociedade com seus filhos e com o sofrimento deles com o bullying e outras formas de violência. Segundo ela, seus filhos tiveram dificuldades de conseguir trabalho na cidade mineira onde nasceram – Montes Claros. “Foi difícil não deixar que meus filhos caíssem na marginalidade e foi difícil lidar com o pai das crianças”, relatou. “Apesar de amarmos profundamente nossos filhos, não desejamos que sejam homossexuais por medo da sociedade, por medo da discriminação”.

O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), coordenador da Frente Mista pela Cidadania LGBT na Câmara, deu depoimento pessoal sobre sua infância em Alagoinhas, no interior da Bahia. Ele disse que, a partir dos 5 anos, não se identificava com “coisas de meninos”, como futebol. “Eu gostava de fazer desenhos, brincar de roda, de cantar e de brincar de boneca com as minhas primas. Eu gostava de coisas de menina.”

Conforme ele, nessa época começou a ser chamado de apelidos ofensivos, além de ser vítima de violência física por parte de outras crianças e também por parte de adultos, inclusive familiares. “Essas crianças não recebem nenhuma defesa na escola, e os professores muitas vezes culpam as crianças pelas injúrias recebidas”, afirmou. “Quem mandou ter esse jeitinho, dizem as professoras.”

Perseguição a transexuais

O primeiro transexual masculino brasileiro (transhomem), João Nery, que foi submetido à cirurgia que o transformou de mulher em homem, contou que nasceu com corpo de menina, mas sempre se sentiu menino. Era chamado de “Maria homem”, entre outros apelidos pejorativos, e foi reduzindo o seu convívio social por conta dos insultos.

Conforme ele, a inadequação entre sua identidade de gênero e seu corpo biológico só cresceu na adolescência. Aos 27 anos, ele se submeteu a uma cirurgia clandestina de mudança de sexo. A operação ocorreu em 1977, 20 anos antes de esse tipo de cirurgia ser legalizado no País. Desde 1998, o procedimento pode ser feito por meio do Sistema Único da Saúde (SUS).

Depois que mudou de sexo, Nery alterou o nome, mas perdeu toda a sua história pregressa, inclusive a comprovação de escolaridade. Psicóloga e professora quando mulher, agora ele é considerado analfabeto e tem dificuldades de sobrevivência. A história foi relatada por Nery no livro “Viagem Solitária – memórias de um transexual 30 anos depois”. Para ele, os transexuais são o segmento mais perseguido da sociedade.

Disque 100

A representante da Secretaria de Direitos Humanos, Nadine Borges, informou que a violência contra crianças e adolescentes, inclusive de gênero, também pode ser denunciadas por meio do serviço Disque 100, criado inicialmente para receber denúncias de pornografia infantil. “Não podemos admitir na sociedade, em 2012, qualquer tipo de violência, inclusive a palmada”, destacou.

Ela defendeu a aprovação da chamada Lei da Palmada (PL 7672/10) que estabelece o direito de crianças e adolescentes serem educados sem o uso de castigos físicos. A aprovação da lei também foi defendida pela deputada Teresa Surita (PMDB-RR).