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Importantes universidades americanas testam o modelo online e gratuito

Richard Perez-Pena

Do The New York Times

24/07/2012 06h00

Há poucos meses, cursos online gratuitos de universidades de prestígio eram uma raridade. Agora, eles são anunciados em intervalos de poucas semanas, à medida que um campo repentinamente repleto de faculdades de grande nome e plataformas concorrentes de software evolui com velocidade espantosa.

Em um grande desdobramento na terça-feira, uma dúzia de universidades de ponta disse ter assinado com a Coursera, um novo empreendimento oferecendo cursos online gratuitos. Elas ainda precisam superar o ceticismo a respeito da qualidade do ensino online e as perspectivas de como os cursos cobrirão os custos de produzi-los, mas o entusiasmo delas permanece intacto.

Mas em universidades que ainda não entraram nesse campo, a resposta varia de curiosidade a medo de perder terreno crucial. Quando os conselheiros da Universidade da Virgínia derrubaram seu presidente no mês passado –uma decisão que eles posteriormente reverteram– um motivo citado por eles foi a preocupação em ficar para trás online. (A Universidade da Virgínia participou do anúncio de terça-feira.)

“Há pânico”, disse Kevin Carey, diretor de políticas de ensino da Fundação Nova América, um grupo de pesquisa não partidário. “Se é um pânico sem sentido, não se sabe.”

Cursos online abertos e de massa, ou MOOC (na sigla em inglês), permitem às faculdades atingir um vasto público a um custo relativamente baixo, mas elas ainda não ganharam dinheiro com eles. E se for possível no futuro obter ensino superior completo de uma instituição de elite online, de graça ou a um custo relativamente baixo, os especialistas se perguntam se algumas faculdades terão maior dificuldade em atrair estudantes dispostos a pagar US$ 20 mil, US$ 40 mil ou mesmo US$ 60 mil por ano para a experiência tradicional no campus.

Cursos online já existem há anos, com a tecnologia evoluindo para inclusão de elementos multimídia e interação entre os estudantes e o corpo docente. O que é novo é a forma como as faculdades de ponta estão aderindo aos cursos gratuitos –na prática, escancarando as portas digitalmente.


Até o momento, a maioria das pessoas se matriculando vive em países estrangeiros. Mas os MOOC passarão a ter mais apelo para os estudantes americanos quando derem créditos para um diploma, algo que as universidades de elite ainda não fazem. A Universidade de Washington diz que planeja fazê-lo, e pode ser apenas questão de tempo até que o recebimento de créditos se torne padrão.

“As pessoas que devem se preocupar com isso são aquelas da faixa maior de universidades americanas –especialmente as escolas privadas caras– que não fazem parte da elite e não têm a mesma reputação” que as universidades de grande nome que agora estão criando os MOOC, disse Anya Kamenetz, uma autora que escreve sobre o futuro do ensino superior.

As faculdades com residência já atraem bem menos da metade do mercado de ensino superior. A maioria das matrículas e quase todo o crescimento no ensino superior ocorre em opções menos caras que permitem aos alunos equilibrar as aulas como o trabalho e a família: faculdades sem dormitórios, escolas noturnas e universidades online.

A maioria dos especialistas diz que sempre haverá estudantes com desejo de viver no campus, interagindo com os professores e outros estudantes, particularmente nas universidades de prestígio. Mas como fatia do mercado de ensino superior, esse provavelmente será um nicho cada vez menor.

As universidades de elite serão mais capazes de competir com as alternativas de baixo custo porque seus grandes fundos as tornam menos dependentes da receita das mensalidades, e elas podem baixar seus preços por meio de generosa ajuda financeira, disse John Nelson, um diretor-gerente do Moody’s Investors Service, que analisa as finanças do ensino superior.

Os analistas dizem que as universidades inevitavelmente ganharão dinheiro com os MOOC, seja cobrando por eles ou não. As empresas de software que trabalham com as faculdades têm procurado publicidade ou a venda de informação sobre os estudantes para empregadores potenciais.

William E. Kirwan, presidente do Sistema Universitário de Maryland, notou que algumas poucas faculdades públicas, incluindo a University College de seu sistema, já oferecem cursos online. No futuro, ele disse, o curso padrão será um híbrido de elementos online e em pessoa, como Maryland está experimentando.

“Nós achamos que essa abordagem pode reduzir os custos em cerca de 25%”, ele disse, “permitindo que cada professor trabalhe com mais alunos, produzindo ao mesmo tempo uma melhoria clara nos resultados do aprendizado”.

Há uma década a Iniciativa de Ensino Aberto da Universidade Carnegie Mellon cria cursos online gratuitos. Mas para muitos educadores, Stanford deu o disparo de largada no ano passado, com um curso online gratuito de inteligência artificial, que atraiu 160 mil estudantes.

O Instituto de Tecnologia de Massachusetts iniciou um projeto de curso gratuito, o MITx, em dezembro. No mês que vem, um professor de Stanford que ajudou a dar o curso de inteligência artificial fundou a Udacity, uma empresa que oferece cursos gratuitos em parceria com faculdades e professores.

Em abril, Stanford, Princeton, Universidade da Pensilvânia e a Universidade de Michigan uniram forças com a Coursera para oferecimento de cursos gratuitos. Em maio, Harvard se uniu ao MIT para criação de um empreendimento semelhante, o edX.

Na semana passada, mais universidades assinaram com a Coursera.

“Nossa participação foi literalmente acertada no fim de semana”, disse J. Milton Adams, vice-reitor da Universidade da Virgínia, que listou cinco cursos gratuitos. “Eu terei alguns membros descontentes do corpo docente dizendo: ‘Por que meu curso não esta lá?’”