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Para docentes, tecnologia pode prejudicar concentração de alunos, dizem pesquisas

Matt Richtel

Do New York Times

08/11/2012 06h00

Existe uma opinião generalizada entre os professores de que o uso constante da tecnologia digital pelos estudantes está prejudicando seus períodos de atenção e a capacidade de perseverar diante de tarefas desafiadoras, segundo duas pesquisas com professores que foram divulgadas nesta quinta-feira.

Os pesquisadores notam que suas conclusões representam opiniões subjetivas de professores e não devem ser consideradas uma prova definitiva de que o uso generalizado de computadores, celulares e videogames afeta a capacidade de concentração dos estudantes.

Mesmo assim, os pesquisadores que realizaram os estudos, assim como acadêmicos que analisam o impacto da tecnologia sobre o comportamento e o cérebro, dizem que os resultados são importantes por causa da visão privilegiada dos professores, que passam horas por dia observando os alunos.

O momento de divulgação dos estudos, feitos por duas renomadas organizações de pesquisa, parece ser coincidência.

Uma foi conduzida pelo Projeto Pew Internet, uma divisão do Centro de Pesquisas Pew que se concentra em estudos ligados à tecnologia. A outra vem da Common Sense Media, organização sem fins lucrativos em San Francisco, Califórnia, que aconselha os pais sobre o uso de mídia por crianças. Ela foi realizada por Vicky Rideout, uma pesquisadora que antes demonstrou que o uso da mídia entre crianças e adolescentes de 8 a 18 anos cresceu tão rapidamente que elas gastam em média o dobro do tempo com telas do que gastam na escola por ano.

Professores que não participaram das pesquisas ecoaram suas conclusões em entrevistas, dizendo que acham que têm de se esforçar mais para captar e manter a atenção dos alunos.

Artista

"Eu sou uma artista cênica. Tenho de cantar e dançar para chamar a atenção deles", disse Hope Molina-Porter, 37, professora de inglês no Colégio Troy em Fullerton, Califórnia, que dá aulas há 14 anos. Ela ensina estudantes acelerados, mas notou um declínio marcante na profundidade e na análise de seu trabalho escrito.

Ela disse que não quer evitar o desafio de envolvê-los, como outros professores entrevistados, mas também teme que a tecnologia esteja causando uma mudança mais profunda no modo como os estudantes aprendem. Também se pergunta se os professores estão aumentando o problema ao adaptar suas aulas para acomodar períodos de atenção mais curtos.

"Nós estamos contribuindo para isso?", disse Molina-Porter. "O que vai acontecer quando eles não tiverem entretenimento constante?"

Acadêmicos que estudam o papel da mídia na sociedade dizem que não foram feitos estudos de longo prazo que mostrem adequadamente como e se o período de atenção dos alunos mudou por causa do uso da tecnologia digital. Mas existem crescentes evidências indiretas de que o uso constante da tecnologia pode afetar o comportamento, especialmente nos cérebros em desenvolvimento, por causa do forte estímulo e as rápidas mudanças de atenção.

Kristen Purcell, diretora-associada de pesquisa na Pew, reconheceu que as conclusões podem ser vistas de outra perspectiva: que o sistema educacional deve se adaptar para acomodar melhor o modo como os estudantes aprendem, uma tese que alguns professores trouxeram para os grupos de debate.

"O que estamos rotulando de 'distração', alguns veem como o fracasso dos adultos em entender como as crianças processam a informação", disse Purcell. "Elas não estão dizendo que a distração é boa, mas que o rótulo de distração é um julgamento desta geração." As pesquisas também revelaram que muitos professores disseram que a tecnologia pode ser uma ferramenta educacional útil.

Capacidade de pesquisa

Na pesquisa Pew, que foi feita em conjunto com o Conselho Colegial e o Projeto Nacional de Escrita, aproximadamente 75% dos 2.462 professores pesquisados disseram que a Internet e as máquinas de busca têm um impacto "principalmente positivo" sobre a capacidade de pesquisa dos estudantes. E eles disseram que essas ferramentas tornaram os estudantes mais autossuficientes nas pesquisas.

Mas quase 90% disseram que as tecnologias digitais estão criando "uma geração que se distrai facilmente, com períodos de atenção curtos".

De maneira semelhante, dos 685 professores pesquisados no projeto Common Sense, 71% disseram achar que a tecnologia prejudica "um pouco" ou "muito" os períodos de atenção. Cerca de 60% disseram que diminui a capacidade dos alunos de escrever e comunicar-se face a face, e quase a metade disse que prejudica o pensamento crítico e sua capacidade de fazer deveres de casa.

Houve pequena diferença em como professores mais jovens ou mais velhos percebem o impacto da tecnologia.

"Isto é um alerta para uma dieta de mídia saudável e equilibrada", disse Jim Steyer, executivo-chefe da Common Sense Media. "O que você precisa compreender como pai é que o que acontece em casa com o consumo de mídia pode afetar o desempenho acadêmico."

Wikipedia

Em entrevistas, professores descreveram o que se poderia chamar de "problema Wikipedia", em que os estudantes tornaram-se tão acostumados a receber respostas rápidas tocando em algumas teclas que têm maior probabilidade de desistir quando uma resposta lhes escapa. A pesquisa Pew descobriu que 76% dos professores acreditam que os alunos foram condicionados pela Internet a encontrar respostas rápidas.

"Eles precisam de técnicas que sejam diferentes de obter respostas rápidas", disse Lisa Baldwin, 48, uma professora colegial em Great Barrington, Massachusetts, segundo a qual a capacidade dos alunos de enfocar e enfrentar os desafios acadêmicos está sofrendo um "declínio exponencial". Ela disse que vê o declínio mais acentuado em estudantes cujos pais permitem acesso livre a televisão, telefone, iPad e videogame.

Baldwin, de sua parte, disse que se recusa a rebaixar suas expectativas ou mudar seu estilo de ensino para ser mais divertida. Mas ela acrescentou que passa muito mais tempo em aulas individuais de recuperação, treinando alunos para enfrentar tarefas desafiadoras.

Para outros professores, a tecnologia é tanto a solução quanto o problema. Dave Mendell, 44, um professor da quarta série em Wallingford, Pensilvânia, disse que videogames educacionais e apresentações digitais são maneiras excelentes de envolver os alunos em suas matérias. Os professores também disseram que estão usando estilos de ensino mais dinâmicos e flexíveis.

"Eu fico sapateando pela sala inteira", disse Mendell. "Quanto mais eu ficar parado na frente da classe, mais fácil é perdê-la."

Ele acrescentou que é mais difícil envolver os estudantes, mas que quando eles estão envolvidos são tão capazes de solucionar problemas e ser criativos quanto foram no passado. Mendell acrescentou que preferiria que os estudantes usassem menos mídia de entretenimento em casa, mas não acredita que isso represente um desafio insuperável para ensiná-los na escola.

Hábitos de pesquisa

Enquanto a pesquisa Pew explorou como a tecnologia afetou o período de atenção, também examinou como a Internet mudou os hábitos de pesquisa dos alunos. Em comparação, a Common Sense enfocou principalmente como os professores veem o impacto da mídia de entretenimento sobre uma série de técnicas de estudo.

As pesquisas contêm algumas conclusões que parecem contraditórias. No relatório da Common Sense, por exemplo, alguns professores disseram que embora eles vejam os períodos de atenção diminuírem, os alunos estão melhorando em matérias como matemática, ciência e leitura.

Mas os pesquisadores disseram que as opiniões conflitantes podem ser consequência de subjetividade e viés pessoal. Por exemplo, os professores podem ver a si mesmos enfrentando um desafio mais difícil, mas também acreditam que estão superando o desafio através do ensino eficaz.

A Pew disse que sua pesquisa dá uma imagem "complexa e às vezes contraditória" da visão dos professores sobre o impacto tecnológico.

O doutor Dimitri Christakis, que estuda o impacto da tecnologia no cérebro e é diretor do Centro para Saúde, Comportamento e Desenvolvimento Infantil no Hospital Infantil de Seattle, enfatizou que as opiniões dos professores são subjetivas, mas de todo modo podem ser precisas ao sentir o declínio dos períodos de atenção entre os estudantes.

Sua própria pesquisa mostra o que acontece com a atenção e o foco em ratos quando passam pelo equivalente a um forte estímulo digital. Os estudantes saturados pela mídia de entretenimento, ele disse, experimentam uma estimulação "sobrenatural" que os professores poderiam ter de igualar ou simular.

O uso intenso da tecnologia "torna a realidade desinteressante, em comparação", disse Christakis.