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No Peru, projeto reduz abandono escolar com a participação dos pais

Projeto é realizado pela Fundação Codespa (organização não-governamental da Espanha que apoia iniciativas em diversos países)  - Divulgação
Projeto é realizado pela Fundação Codespa (organização não-governamental da Espanha que apoia iniciativas em diversos países) Imagem: Divulgação

Marcelle Souza

Do UOL*, em Doha

07/11/2014 11h54Atualizada em 10/11/2014 18h05

Os ingredientes parecem simples: participação da comunidade, adaptação dos temas à realidade rural e capacitação de professores. Foi assim que um projeto foi reconhecido internacionalmente por reduzir as taxas de abandono escolar entre jovens de comunidades rurais no Peru.

Realizado pela Fundação Codespa (organização não-governamental da Espanha que apoia iniciativas em diversos países), o projeto utiliza os elementos citados acima somados a um modelo de alternância: os jovens ficam 15 dias em regime de internato na escola e 15 dias em casa.

"Não separamos eles da família. A vantagem desse sistema é que eles não têm que ir todos os dias a uma comunidade muito distante, já que o fazem uma vez a cada 15 dias", afirma José Ignacio González-Aller, diretor da Fundação Codespa. Segundo o direitor, a distância é um dos principais fatores para que os jovens deixem a escola para trabalhar com os pais.

Na última quarta-feira (6), este foi um dos seis projetos que receberam o Wise Awards 2014, uma premiação da Fundação Qatar para iniciativas de destaque na educação pelo mundo.

Evasão escolar

Nas zonas rurais do Peru, 60% dos estudantes conseguem concluir o ensino fundamental e apenas 38% terminam o ensino médio. Atualmente, o projeto, que existe desde 2002, atende cerca de 2.800 estudantes em 40 escolas, e já conseguiu diminuir em 18% a taxa de abandono nas onze regiões em que foi implantado.

"Do ponto de vista da sustentabilidade do projeto, existem três elementos: o primeiro é o pagamento dos professores, feito pelo Estado; Codespa se ocupa da formação dos professores e da adaptação dos materiais escolares a realidade rural e, quando podemos, ajudamos comprando mesas, cadeiras, livros; mas a escola é dos pais, que são o terceiro elemento da sustentabilidade", explica González-Aller.

Desse modo, os pais percebem na prática a utilidade do que os filhos aprendem dos professores e se comprometem de forma ativa na gestão da escola. "O elemento chave é que as escolas são dos pais. No início, foi muito difícil convencer as três primeiras comunidades de que eles tinham que ser os promotores das escolas", diz.

Os produtos consumidos na escola são fornecidos e preparados pela própria comunidade. Quem não tem dinheiro para ajudar recebe uma bolsa para continuar estudando.

"O importante é que nos nunca tentamos substituir os pais na responsabilidade diante da escola. Se não, no momento em que vamos embora, essa escola deixa de funcionar. E o modelo é sustentável porque os pais são os responsáveis pela escola", afirma.

Da escola para a casa

Essas escolas combinam educação formal com formação técnica para áreas rurais. Nos 15 dias que passam em casa, os alunos precisam desenvolver e implantar um projeto microempresarial rural. Desse modo, eles relacionam o que aprendem na escola às necessidades da família e da comunidade.

Os professores são capacitados periodicamente e fazem visitas aos estudantes no período em que estão implantando os projetos em suas casas. E são eles, os professores, uma das estruturas mais importantes para que mudanças efetivas sejam realizadas na vida dos alunos.

"Eu acredito que um problema muito grande na América Latina são os professores: é uma profissão mal paga e pouco valorizada. E, se não existem bons professores, é muito difícil que existam bons alunos. Por isso, gastamos o dinheiro, sobretudo, na formação de professores. O bom professor te marca por toda a vida", afirma.

*A jornalista viajou a convite da Fundação Qatar, que organiza o prêmio Wise Prize for Education