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Na contramão do ensino superior, faculdade tem 80% dos estudantes negros

Junior Lago/UOL
Imagem: Junior Lago/UOL

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

08/12/2014 05h55

Criada há 11 anos, a Universidade Zumbi dos Palmares tenta diminuir a desigualdade entre negros e brancos no ensino superior. Hoje com 1.500 estudantes, 80% deles são autodeclarados afrodescendentes. No Brasil, apenas 13,3% dos alunos do ensino superior são negros, segundo dados do Censo da Educação Superior 2012.

No processo seletivo, a instituição destina 50% das vagas para essa parcela da população. "Fazemos vestibular como qualquer outra universidade. Temos essa reserva de vagas, mas como nosso número já é bem maior, isso ficou obsoleto", conta a pró-reitora Francisca Rodrigues.

Ela lembra que quando o projeto da faculdade foi definido não existiam o Prouni (Programa Universidade para Todos) nem ações afirmativas como cotas, que, na opinião do reitor José Vicente, sozinhas não garantem a igualdade de raças.

"Trabalhamos pela diversidade, não só pela inclusão do afrodescendente. Por isso, temos alunos brancos, negros, japoneses e índios”, diz Francisca. Atualmente, a Zumbi dos Palmares possui seis cursos em sua grade: direito, administração, pedagogia, publicidade e propaganda, recursos humanos e transporte terrestre. Há planos de ampliá-los para doze e criar cursos de pós-graduação.

 

Opinião dos alunos

Os alunos da Zumbi se dividem nas opiniões em relação à instituição. Luana Costa, 32, por exemplo, é estudante do último semestre de direito e se diz ‘desiludida’ com a faculdade. "Entrei pelo o que a faculdade propunha e pelo valor da mensalidade ser mais acessível. Hoje vejo que ela visa o lucro como qualquer outra", opina.

A amiga Rosangela Santana, 32, tem a mesma visão. "A proposta de inclusão social através da educação me chamou a atenção. Mas mesmo sendo uma faculdade de inclusão, parece que existe uma exclusão interna", afirma se referindo à dificuldade no processo de bolsas.

"As pessoas reclamam porque elas querem que a faculdade passe a mão na cabeça. E ela não vai passar só porque você é negro, pobre ou mora num lugar que é muito distante", acredita Luma Fernanda, estudante do 8º semestre de direito. 

Luma tem 23 anos e mora em Cidade Tiradentes. A rotina é puxada como a de qualquer estudante que trabalha e estuda. Ela faz estágio no ministério da Fazenda, na região da avenida Paulista, das 13h às 18h, e tem que se apressar para pegar a primeira aula na Zumbi dos Palmares às 19h.
 
O taxista Claudinei Ferreira, de 40 anos, se diz orgulhoso de estudar na Zumbi dos Palmares. “Ela é única porque é voltada para a inclusão. É muito bacana estudar por aqui”, diz. "A infraestrutura é boa, mas tem muito que melhorar", ressalva.