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Aos 67, aposentado realiza sonho do intercâmbio: "Virei exemplo na família"

Ubirajara na entrada do parque Saint Stephen"s Green, famoso em Dublin, na Irlanda - Arquivo Pessoal
Ubirajara na entrada do parque Saint Stephen's Green, famoso em Dublin, na Irlanda Imagem: Arquivo Pessoal

Flávio Carneiro

Do UOL, em Dublin

13/07/2015 20h21

O aposentado Ubirajara Selbach Machado, 67, decidiu em 2013 que sua idade não iria impedi-lo de realizar um velho sonho, que estava guardado há 40 anos: estudar fora do Brasil em um intercâmbio. Desde então ele vive e estuda inglês em Dublin, Irlanda.

Há mais de dois anos na Europa, Ubirajara superou as expectativas de seus familiares e amigos. “Eles diziam que eu não duraria aqui. Chegaram até a apostar que eu não completaria um mês. Hoje eles me parabenizam e eu virei exemplo para a família. Tenho parentes com mais de 50 anos que se inspiraram em mim e dizem que também farão essa aventura um dia”, explicou.

A decisão de viajar foi tomada após um período de dificuldade. “Eu pensava nisso desde a minha juventude, mas não foi possível realizar esse desejo antes por causa de contas pendentes e falta de estabilidade. Entre 2011 e 2013 eu tive várias perdas na família e me vi sozinho. Percebi que era a hora de investir nisso”, conta.

Quando chegou, a adaptação na sala de aula, repleta de alunos com idade média de 20 e 30 anos, foi natural. “Quando eu pisei a primeira vez na sala de aula todo mundo parou de conversar e olhou para mim, pensando que eu era o professor. Foi engraçado, mas depois me enturmei e o pessoal sempre me tratou como um deles – inclusive nos convites para beber e viajar”, relembra.

Ubirajara Selbach Machado mostra os carimbos no passaporte, intercâmbio - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Ubirajara mostra os carimbos no passaporte
Imagem: Arquivo Pessoal

Fora da sala, o aposentado viveu em um cenário típico de jovens: a república estudantil. Morando com mais quatro pessoas, com idade média de 28 anos, ele diz que o ambiente é ótimo. “Temos regras claras em casa e, já confessando, eu sou meio coronel. Controlo a limpeza, vejo se cumpriram a escala para limpar o banheiro, tiro o lixo, essas coisas. A gente se dá bem”.
 
Já o entendimento com a língua diferente do português não foi fácil. Com praticamente nenhum conhecimento em inglês, Machado teve de começar do zero nas salas. No início, ele só copiava as lições. “Eu parecia um papagaio, só copiando e repetindo os outros alunos. Mas me dediquei muito, inclusive com estudo extra em casa e nas bibliotecas, e hoje consigo até viajar sozinho”.
 
O gosto por viajar foi tão grande que o aposentado já visitou mais de 20 países, conhecendo praticamente todas as capitais da Europa. A maioria dessas viagens, inclusive, sozinho. “O primeiro país que visitei sem ajuda de ninguém foi a Polônia, depois não parei mais. Eu passei o período entre maio e setembro de 2014 viajando sozinho, em um mochilão”, afirma.
 
As leis de intercâmbio da Irlanda permitem que o estudante faça um curso de seis meses de duração e depois receba mais seis meses de férias para viajar ou trabalhar. Em outubro de 2015 uma nova legislação entra em vigor e o período de férias será diminuído para dois meses.
 
Toda essa experiência e conhecimentos acumulados durante as viagens e o intercâmbio devem, no futuro, ser transformados em um livro ou DVD. Enquanto não decide o que fazer com tudo que registrou, o aposentado compartilha suas histórias em um grupo do Facebook, chamado “Bira na Irlanda”.
 
Em agosto desse ano a viagem termina e Machado deve retornar ao Brasil para tratar um problema de saúde. No entanto, ele não planeja ficar em casa e voltar à rotina. A promessa é de procurar outro lugar para continuar estudando inglês. O país favorito para a próxima jornada é os Estados Unidos.