Mulheres chefiam só um terço de todas as universidades federais no Brasil
Pela primeira vez em 54 anos da instituição, a UnB (Universidade de Brasília) poderá ter uma mulher à frente da reitoria. A diretora do Instituto de Geociências da instituição, Márcia Abrahão, foi eleita para chefiar a instituição pelos próximos quatro anos, mas ainda depende de ter o nome aceito pela Presidência da República em uma lista tríplice --que, antes, será apreciada na próxima sexta (16) pelo Conselho Universitário.
Apesar do feito – ela se elegeu com mais de 53% dos votos e com três chapas na disputa--, Márcia deve entrar para uma estatística que ainda pouco representa uma população formada majoritariamente por mulheres no Brasil. É o que mostra um levantamento feito pelo UOL com as 63 universidades federais distribuídas pelas cinco regiões do país, nas quais apenas um terço --ou 19 instituições --tem uma mulher como reitora.
De acordo com o levantamento, produzido a partir das informações dos portais das universidades até esta segunda (12), a disparidade entre homens e mulheres chefes na administração superior é mais ampla no Sul, com 18,18% de reitoras em um universo de 11 instituições. As mulheres chefiam a administração apenas na UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre) e na FURG (Universidade Federal do Rio Grande).
A região Norte tem 40% de participação feminina em reitorias em suas dez universidades, 40% --as mulheres chefiam a Unifap (Universidade Federal do Amapá), a UFAM (Universidade Federal do Amazonas), a UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará) e a UFT (Universidade Federal do Tocantins).
No e Centro-Oeste, região com o maior percentual de representatividade feminina em reitorias, 60%, há reitoras na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Homens invisibilizam mulheres
Para a professora de sociologia da educação da Faculdade de Educação da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) – onde há reitor e vice-reitora – e integrante do Conselho Estadual da Mulher de Minas Gerais, Daniela Auad, 43, a disparidade entre homens e mulheres na chefia da administração superior mostra o quanto o ambiente acadêmico, “apesar de ele ser o espaço próprio para a reflexão”, ainda reproduz padrões de desigualdade entre os gêneros do restante do mercado de trabalho.
“Ocorre que a universidade não está acima de outras esferas da sociedade, ela é parte do mercado de trabalho para homens e mulheres como qualquer outro espaço. É bem verdade que não basta ser mulher para se ter boas pautas e propostas na disputa da administração superior, mas muitas têm, são muito boas e ainda são minoria nas eleições para reitoria e em cargos de poder”, afirmou a professora.
“As mulheres professoras têm tanta formação e competência na universidade quanto os professores homens; podem ser tão lideranças quanto os homens. Mas, na hora de fechar chapa para disputar a reitoria, eles mesmos não as querem --não é uma mera questão de esquerda e direita. Não somos a caricatura da feminista louca: somos mulheres no mercado de trabalho aptas a e ter excelência na administração superior”, disse Auad.
Na avaliação da professora, que é pesquisadora de gênero e de feminismo, a organização das chapas para reitoria até que é mista, mas de tal forma que “os homens mesmos invisibilizam as mulheres e assumem os cargos de mando”.
“As mulheres no ensino superior são pura resistência – porque tradicionalmente são pensadas para executar tarefas que sejam adaptadas pelo fato de potencialmente serem ‘cuidadoras’, ‘mães’ – elas podem e querem ser chefes. Hoje, até homens que se dizem de esquerda continuam a vem a mulher dessa maneira. Estamos na universidade para fazer pesquisa, docência, extensão e administração superior, não para ser mulheres que assessoram os homens e votam neles --mas também para ser assessoradas e votadas por eles. Equidade também é isso”, afirmou Auad.
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