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Aluna do PR diz que deputados "têm a mão suja de sangue" e irrita político

Janaina Garcia

Do UOL, em Curitiba

26/10/2016 18h42

Uma estudante de 16 anos irritou deputados estaduais nesta quarta-feira (26), durante sessão na Assembleia Legislativa do Paraná, em Curitiba, ao afirmar que os parlamentares “têm a mão suja de sangue”. 

Ela se referia ao assassinato do estudante Lucas Eduardo da Mota, 16, cometido anteontem em uma escola ocupada da capital paranaense. Lucas foi sepultado hoje, no final da tarde, na região metropolitana de Curitiba. Apontado como autor do crime, um adolescente de 17 anos, da mesma escola, foi detido no mesmo dia, e, segundo as autoridades de segurança do Estado, estava sob efeito de drogas.

Em entrevista ao UOL, a jovem que discursou hoje na Assembleia afirmou que se referiu ao que ela chama de "omissão" dos parlamentares em relação a políticas públicas voltadas aos jovens da periferia. Ela cursa o 2º ano do ensino médio em um colégio da rede estadual no Paraná.

"O que aconteceu com o Lucas na ocupação acontece todo dia na sociedade. Isso é fruto da falta de políticas públicas em relação ao jovem, especialmente ao jovem da periferia, e também em relação ao combate às drogas. Esse trabalho deveria ser feito pelo Estado, que também é representado pelos deputados", argumentou.

Lucas era filho único. A mãe, a confeiteira Alexandra Rosa, 36, disse ao UOL que havia dado autorização por escrito para que ele permanecesse na ocupação, mas acreditava que ele estaria em segurança. Não havia adultos na escola quando o crime foi praticado --o que reforçou os argumentos contrários às ocupações. Em assembleia hoje, os  secundaristas paranaenses decidiram que o movimento vai continuar.

“Ontem eu estava no velório do Lucas e não me recordo de nenhum desses rostos aqui que estivessem lá”, disse a estudante aos parlamentares. "Vocês estão aqui representando o Estado, e como vão olhar a mão de vocês? As mãos de vocês estão sujas com o sangue do Lucas  --não só do Lucas, como de todos os adolescentes e estudantes que são vítimas disso. O sangue do Lucas está na mão de vocês, [que] representam o Estado”, afirmou.

A adolescente é do mesmo colégio estadual onde Lucas estudava, o Safel, localizado no bairro de Santa Felicidade –reduto de turismo gastronômico na capital paranaense. A unidade é uma das mais de 800 escolas públicas do Estado ocupadas desde o último dia 5. As ocupações são um protesto à MP (Medida Provisória) 746, que estabelece uma reforma no ensino médio, e à PEC (Proposta de Emenda à Constituição)  241, que impõe um teto de gastos à União pelo período de 20 anos.

Não pode agredir parlamentar

As declarações foram feitas em pronunciamento autorizado pela Casa ao requerimento do deputado Tadeu Veneri (PT). O teor delas irritou o presidente da Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), que é da base do governador Beto Richa (PSDB), contrário às ocupações.

“Eu vou fazer uma intervenção, com o devido respeito à sua idade e à sua família, mas, aqui, você não pode agredir o parlamentar”, criticou o parlamentar, que foi vaiado por populares que estavam nas galerias.

Diante da reação o tucano ameaçou encerrar a sessão. “Eu vou encerrar a sessão, eu vou cortar a palavra e eu peço o silêncio de vocês, senão eu encerro a sessão. Aqui ninguém agrediu deputado ontem – portanto eu, como presidente, exerço a minha autoridade; democraticamente, permiti que vocês viessem aqui. E ninguém será afrontado”, avisou.

Ontem, um grupo de cerca de 20 estudantes foi à Assembleia se pronunciar em plenário pelo fim das ocupações. Eles reclamam que o fechamento das escolas não ocorreu de forma democrática e alegam que isso os impede de ter aulas. Na ocasião, os adolescentes falaram graças a requerimento do presidente da Comissão de Educação, Hussein Bakri (PSD), da base do governador Beto Richa (PSDB).

“Deputado Tadeu Veneri, vossa excelência fez um acordo comigo ontem, portanto, ela [a estudante] pode se expressar em relação à PEC [241], mas não afronte o deputado. Aqui ninguém está com a mão manchada de sangue, não”, continuou Traiano, irritado.

A estudante voltou com o pronunciamento aos deputados e pediu desculpas a eles pela expressão. “Eu peço desculpas, mas o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes, pelos nossos estudantes é da sociedade, da família e do Estado”, encerrou.