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Radicalização reflete momento político, diz professor do PR sobre ocupações

Alunos que ocupam a Escola Ferreira da Costa, em Curitiba, se posicionam para evitar invasão de militantes do MBL, durante a madrugada de sexta (28) - Rodrigo Félix/Futura Press/Estadão Conteúdo
Alunos que ocupam a Escola Ferreira da Costa, em Curitiba, se posicionam para evitar invasão de militantes do MBL, durante a madrugada de sexta (28) Imagem: Rodrigo Félix/Futura Press/Estadão Conteúdo

De Curitiba

29/10/2016 11h59

O procurador-geral de Justiça do Paraná, Ivonei Sfoggia, anunciou na sexta-feira (28) um acordo judicial, assinado com líderes do movimento estudantil do Estado, suspendendo as decisões de reintegração de posse das escolas por um prazo de dez dias em troca da desocupação dos cerca de 500 colégios tomados desde o início do mês. "Os estudantes permanecerão só no Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba", afirmou Sfoggia, depois de três horas de reunião. Segundo o procurador, "com isso o clima de tensão registrado na cidade nos últimos dias tende a desaparecer".

Mas uma assembleia realizada no Colégio Estadual do Paraná (CEP), na noite de sexta-feira, decidiu pela "desocupação da instituição". Integrantes da diretoria fizeram um pronunciamento à imprensa próximo da meia-noite e mostraram a insatisfação com o acordo feito durante a tarde.

O clima de radicalização política entre grupos favoráveis à ocupação de escolas por estudantes secundaristas do Paraná e militantes do MBL (Movimento Brasil Livre), contrário à tomada dos colégios, se agravou durante a semana passada em Curitiba. Os dois lados passaram a disputar espaço "no braço".

Para o professor Hermes Silva Leão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), o acirramento das tensões políticas na área da Educação "é um reflexo do processo político polarizado que vivemos no país". Segundo o sindicalista, "no Paraná isso está se agravando diante da tentativa de setores do governo de dar voz a grupos, como o Desocupa Paraná, que quer criminalizar o movimento dos secundaristas".

Para o MBL, que organiza o "Desocupa", a conversa é outra. Nas mobilizações via Facebook e nas manifestações diante das escolas tomadas, integrantes gritam que o APP-Sindicato estaria "usando alunos como massa de manobra" para a sustentação da greve de professores, que começou no último dia 17 no Estado.

Nos cercos aos colégios, o ex-candidato a vereador pelo PSC Eder Borges, que obteve cerca de 4 mil votos, mas não se elegeu no último pleito, acusou os sindicalistas de promoverem as ocupações como apoio à greve. Os professores reivindicam reposição salarial e a retirada pelo governo do desconto e falta pelo dia 29 de abril, quando promoveram um protesto para marcar a data do confronto com a Polícia Militar que deixou dezenas de feridos, em 2015.

Nesta semana, o Desocupa Paraná mirou principalmente as escolas mais centrais da capital paranaense. Com pais contrários às ocupações convocados via rede social, o movimento percorreu os colégios com manifestantes gritando palavras de ordem contra o APP-Sindicato e acusando os estudantes de "baderneiros" e "comunistas". Eles ainda defendem a volta imediata às aulas.

No meio do tiroteio verbal, pressão de ameaças entre os movimentos de ocupação e do MBL pela desocupação, a dona de casa Lucia Sakachaki, moradora de Bairro Novo, na zona sul de Curitiba, criticava os estudantes secundaristas. "Os alunos estão perdendo aula. Sou a favor de melhorar o ensino, mas sou contra a ocupação."

O filho dela estuda em outro colégio do bairro, o Benedicto João Cordeiro, que também está fechado. "As crianças estão sendo prejudicadas. Isso tem de acabar", emendou Sirlene Souza, que tem filho matriculado em outro colégio da região, o Flávio Ferreira da Cruz, também sem aulas desde o dia 10.

Vizinho da Escola Guido Arzua, o motorista Mauro Rodrigues foi um dos pais que chegaram a entrar no colégio, encurralando os adolescentes apavorados no interior do prédio. "Minha filha tem 12 anos e está perdendo aulas", declarou. "Lá dentro estão os 'nota baixa' e em casa, os 'nota alta'", disse na quarta pela manhã, diante da escola. "Isso aí está uma baderna", emendou, observado por mascarados, adultos chamados pelos estudantes para a guarda do lado de dentro. São jovens universitários que se dizem voluntários para evitar tentativas de desocupação forçada.

A tensão foi parar na Assembleia Legislativa. Após a morte do estudante Lucas Mota, 16, assassinado por um colega, de 17, na tarde de segunda, na Escola Santa Felicidade, que estava ocupada, o delegado Fabio Amaro dissera que o crime nada tinha a ver com as ocupações, que havia sido uma briga após o uso de drogas, mas os deputados governistas aproveitaram o dia seguinte para debater a crise. A convite do deputado Hussein Bakri (PSD), presidente da Comissão de Educação, um militante do MBL foi à tribuna. "A culpa da morte é das pessoas que organizam e dos apoiadores dessa ridícula ocupação", afirmou o estudante, identificado como Patrick, do Desocupa Paraná. No meio da sessão, deputados faziam vaquinha para arrecadar os cerca de R$ 4 mil necessários para o funeral de Lucas.