Desocupar para quê?
Desocupar as escolas para quê?
Vamos nos desarmar. É só uma conversa sem grandes pretensões. Acalmemos o ditador que vive dentro de nós, sempre gritando, sempre nos dando ordem para fazer, o mais rápido possível, o que disseram que é o devido. Vamos mudar de nosso lugar comum e tentar olhar as coisas de outro ponto de vista. Nos distanciar de nosso pequeno contexto cotidiano.
Me ajudem a responder.
Se o lugar de criança e adolescente é na escola (todo mundo diz isso: pai, mãe, avô e avó, político, promotor e juiz), por que arrancar os estudantes secundaristas à força, logo agora, quando finalmente estão lá, tomando posse coletiva (e tomando conta) do seu lugar, um lugar tão abandonado pelo Poder Público?
Quem os estudantes “atrapalham” quando insistem que não vão sair?
Se os dados oficiais mostram que o ensino básico público anda muito mal (nossa nota não chega a 4,0. O Brasil repete todo ano!), qual “normalidade” e “direito à educação” que se pretende ver rapidamente restabelecidos?
Se os alunos ocupam as escolas para reivindicar educação de qualidade – e, portanto, o cumprimento de um princípio constitucional –, se lutam para impedir a redução de verbas públicas à educação, se querem discutir a reforma do ensino médio, imposta por medida provisória, como entender a ocupação como algo que vai contra a educação?
Se, de acordo com nossa Constituição – que, lembro, é democrática –, a educação tem, dentre seus objetivos, o preparo para o exercício da cidadania, qual o motivo do olhar de censura em relação a esse exercício de cidadania que é a ocupação?
De que serve (e a quem serve) separar, como coisas distintas e contraditórias, de um lado, o estudo, o ensino, a aula, e, de outro, a participação estudantil? Se a gestão da escola pública é democrática e, como dito, um objetivo da educação é o preparo para a cidadania – tudo conforme a Constituição! –, de onde tiraram que a participação, o questionamento e o debate, pelos alunos, sobre os assuntos da escola, prejudicam o programa escolar?
Por que desqualificar o estudante que participa da ocupação, que luta, conforme suas possibilidades, com as armas de que dispõem, pelos seus ideais? Jovens que fazem, justamente, o que nós, “adultos”, deveríamos fazer?
Qual a finalidade de fazer do movimento dos estudantes secundaristas um caso de polícia? Para que a polícia armada?
Para onde nos levou, até hoje, a “ordem” das escolas desocupadas?
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