Inseticidas biológicos
Dizem os especialistas que as experiências bem-sucedidas de combate ao Aedes aegypti em pequenas cidades tendem a fracassar nas metrópoles. Isso, por causa das muitas áreas com terrenos baldios, fontes, espelhos d’água, imóveis vazios e construções inacabadas. Sem falar do lixo incorretamente descartado nas esquinas.
Mas, a considerar a situação epidêmica que o país enfrenta, toda boa ideia deve ser avaliada pelos representantes da saúde pública, enquanto outros programas mais ambiciosos – vacina contra a dengue e radiação para esterilizar mosquitos machos, por exemplo – seguem o seu curso.
Recentemente, a cidade de Bebedouro, na região norte do Estado de São Paulo, divulgou ter reduzido em quase 100% a incidência de dengue em comparação a janeiro do ano passado. O município de cerca de 80 mil habitantes passou a usar um inseticida biológico criado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que extingue larvas do Aedes aegypti em 24 horas.
Solução semelhante foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Após três anos de estudos, eles chegaram a um bioinseticida cuja matéria-prima são fungos de plantas e insetos da Amazônia. Segundo noticiado, o produto também age no extermínio de larvas e ovos do mosquito da dengue em até 24 horas.
Conjunção de fatores
Essas duas iniciativas têm fortes pontos em comum. São naturais e economicamente viáveis, não provocam efeitos colaterais à saúde e parecem bastante simples de serem aplicadas. Podem ser diluídas em locais de água parada ou borrifadas em qualquer canto onde os criadouros se multiplicam.
Além do objetivo primeiro de eliminar o transmissor da dengue e outras doenças até então desapercebidas, os bioinseticidas são um bom exemplo para incentivar nossos cientistas e autoridades a valorizar e defender a biodiversidade brasileira.
Desde o descobrimento do país, e talvez até antes disso, exploradores se apropriaram de bens naturais com total desfaçatez e, dadas a incapacidade para avaliar o potencial de nossas riquezas e a leniência para conviver com condutas ilegais, perdemos aulas e aulas de ensinamentos da floresta. Também perdemos a oportunidade de um desenvolvimento mais rápido e mais igualitário ao deixar de usufruir a fortuna à nossa disposição.
Mas, a despeito do patrimônio natural em constante ameaça, não há como negar a dedicação e a inventividade de nossos técnicos e cientistas na busca de respostas eficientes para problemas críticos. Muitas vezes sem os equipamentos adequados e à mercê de verbas minguadas.
Testados na agricultura
Outro aspecto interessante dessas pesquisas é que, em ambos os casos, os peritos envolvidos nos trabalhos, seja no interior de São Paulo, seja no Amazonas, já declararam que os bioinseticidas são usados na agricultura há muitos anos.
O produto desenvolvido em Bebedouro é um composto resultante de bactérias encontradas na terra. A prefeitura faz uso dele também em córregos e margens de rios, além dos tradicionais focos de criadouros.
Na Amazônia, a equipe responsável pelo inseticida natural isolou mais de 100 linhagens de fungos encontrados em substratos da região – resíduos de plantas e insetos - e, depois de muitos ensaios em laboratório, chegou à fórmula ideal.
Esses dois trabalhos científicos não foram realizados da noite para o dia. Resultam de anos de estudos e muita dedicação na busca de soluções viáveis. Mas são exemplos de que, muitas vezes, as respostas para os problemas estão mais próximas do que a gente imagina.
Da avalanche de notícias sobre o Aedes aegypti, algumas informações ficaram mais presentes para mim. Assisti à entrevista de uma cientista na televisão, que disse que o mosquito não gosta de perfume. Lembrei da citronela, que tem cheiro bom e sempre foi muito útil na praia, para afastar os borrachudos.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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